TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1936)
Há dias percorremos o Bairro da Lagoa e chamou a nossa atenção a grande quantidade de casebres estendidos ao longo das estradas que vão para a Mata dos Fernandes e para o Sertão. As famílias pobres vão se aglomerando à margem dos caminhos em promiscuidade, sem conforto, sujeitas às boiadas que aí trafegam e à fúria dos cachaceiros que se retiram, dando tiros e empinando os pungas¹.
Ao lado, ricos pastos de propriedade particular, onde o capim está verde e limpo, sinal de vigilância de seus retardatários ocupantes. Sabe-se mesmo de um que mantém peças armadas² para impedir o acesso às suas propriedades.
Ora, ninguém ignora que todo o Bairro da Lagoa está situado em uma fazenda em comum, cujo maior condomínio é a Prefeitura Municipal. O terreno que atualmente é ocupado pelas habitações é bem menor do que a Prefeitura tem direito. Certos condôminos, alguns até com títulos de validade discutíveis, no entanto, cercaram invernadas no local. A divisão do referido imóvel é questão que se impõe, para dar lugar ao povo que quer lugar para viver.
A pobreza localiza sempre, em toda parte, nos extremos das cidades. Se estes extremos são ocupados por pessoas que guardam avidamente o seu quinhão de terra, cegas às palpitações do progresso e às necessidades da hora que passa, a comunidade sofrerá em seu desenvolvimento, crescendo o mal quando atinge justamente as classes mais favorecidas.
A municipalidade necessita reparar o mal, que se agrava dia a dia. Aqui fica a nossa sugestão…
* 1: Cavalos ruins.
* 2: Vigias armados.
* Fonte: Edição de 21 de novembro de 1936 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPH) do Unipam.
* Foto: Demarcação da antiga lagoa que deu origem ao sítio Os Patos. Leia “Lagoa do Sítio Os Patos”.