AEROCLUBE COMEMORA O CINQUENTENÁRIO DO 1.º VOO DO 14 BIS

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TEXTO: DÁCIO PEREIRA DA FONSECA (1956)

Apesar da chuvinha na manhã do dia 23 de outubro, às 8 horas no hangar do velho campo de aviação¹, já se movimentavam autoridades, populares e colegiais, aguardando a solenidade que marcaria a data do Ano Santos Dumont². O José Burgos desdobrando-se em sorrisos e multiplicando-se em explicações, cercado de manicacasinhos futuros, ensinava tudo inclusive que manicaca significa aprendiz ou “barbeiro” em termos aviatórios.

O Cinquentenário do 1.º vôo com o 14-Bis³, naquela manhã foi comemorado com o batismo de dois “paulistinhas4” do Aero Clube local. O EL DOURADO e o SANTA MARIA. Solenidade singela, todavia muito expressiva. Não poderíamos esconder os nossos aplausos de que são credores os associados e o presidente do Aero Clube de Patos de Minas, Sr. Sinval Boaventura, pelo significado que emprestaram àquela data. Santos Dumont um gênio inventivo ou um esportista da navegação aérea, será sempre um Santos Dumont, o Pai da Aviação. Fazendo côro com as bem dirigidas palavras do sr. Sinval Boaventura, não se pode deixar de lado a figura do Zé Burgos, o esfôrço responsável por muito que há no Aero Clube, para que muita gente tomasse conhecimento daquela data. E o Burgos bem representa o espírito de todos os seus colegas de Aero Clube, aos quais poderíamos chamar-lhes românticos da aviação, concebendo este romantismo em termos de uma paixão por um ideal aumentado pelas circunstâncias das mais hostis dificuldades (assim como Monteiro Lobato foi um romântico do Petroleo), graças a êste romantismo do Burgos e de todos os outros, o nosso Aero Clube vem se elevando e fazendo algo por Patos, como tivemos oportunidade de observar neste Ano Santos Dumont por aquela simpática e singela festa dos manicacas.

EM TEMPO: o autor destas linhas, portador da carteira de identidade n.º 172482 (expedida pelo D.I. de S. Paulo) em absoluto não se identifica com um já noticiado “aulicida” fugitivo, e, para tanto, põe a disposição de interessados folha corrida, atestado de antecedentes (D. Invest.) e certidão negativa expedida pelo cartório das Execuções Criminais (S.P.). Qualquer propósito, foi mera coincidência.

* 1: O velho e antiquado campo de aviação funcionava na região chamada de Chapada, compreendendo um espaço onde hoje se localizam as dependências da CEMIG, Escola Estadual Prof. Zama Maciel e adjacências, perto da Lagoa Grande. Leia “A Chapada na Década de 1940”.

* 2: Nesse ano de 1956, o do cinquentenário do 1.º voo do 14-Bis, foi criada a Medalha Mérito Santos Dumont, uma distinção concedida a militares da FAB que se destacaram no exercício da profissão; a militares das Forças Armadas nacionais e estrangeiras que se tornaram credores de homenagens especiais da FAB; e aos cidadãos brasileiros e estrangeiros que prestaram notáveis serviços à Aeronáutica, daí o Ano Santos Dumont. (Fonte: 5.tjba.jus.br).

* 3: Inicialmente, o 14-Bis, ou Oiseau de Proie (ave de rapina), era um aeroplano construído unindo-se ao balão 14. Ainda em testes, o projeto de avião tinha em seu corpo acoplado um balão. O objetivo de Dumont era que o balão reduzisse o peso do aeroplano fazendo com que a decolagem fosse facilitada. Após mais testes, percebeu que o equipamento gerava muito atraso e comprometia a velocidade do avião. Uma curiosidade, é que o nome do icônico avião veio do uso do balão 14. Sendo uma referência para 14-novamente. O primeiro teste foi feito em 19 de julho de 1906, ainda conectado ao balão. E foi somente em agosto do mesmo ano que o 14-Bis ganhou o formato com que ficou famoso. Após duas tentativas de voo, o aeroplano levantou e voou. Apesar da sua instabilidade não agradar, Santos Dumont se disse satisfeito. Seu motor, inicialmente, tinha potência de 24 cavalos, o que logo foi alterado para um motor náutico Antoniette de 50 cavalos-vapor. A partir disso, o 14-Bis foi nomeado Oiseau de Proie. Santos-Dumont continuava testando e aprimorando sua criação. Ele envernizou a seda das asas, para aumentar a sustentação, retirou a roda traseira, por atrapalhar a decolagem, e cortou a estrutura onde ficava a hélice. Em 23 de outubro de 1906, no campo de Bagatelle, Paris, o Oiseau de Proie II, após várias tentativas, percorreu sessenta metros em sete segundos, a uma altura de aproximadamente dois metros, perante mais de mil espectadores. Porém, o voo não foi um sucesso. O pouso brusco danificou as rodas do avião. Em 12 de novembro do mesmo ano, já com a terceira versão do Oiseau de Proie, Santos Dumont fez história. Utilizando de ailerons rudimentares para ajudar na direção, o 14-Bis percorreu 220 metros em 21,5 segundos, estabelecendo o recorde de distância da época. (Fonte: adslatin.com).

* 4: Um avião desenvolvido na década de 1930 é um dos mais famosos do país e responsável pela formação de diversas gerações de pilotos brasileiros. Trata-se do Paulistinha, um pequeno monomotor de dois lugares criado para o treinamento inicial de pilotos civis e militares. De construção simples, o Paulistinha reinou absoluto nos aeroclubes do país durante décadas. Estima-se que pouco mais de 1.000 unidades do avião tenham sido construídas ao longo da história. Com o avanço da aviação, no entanto, muitas escolas e aeroclubes passaram a adotar aviões mais modernos, alguns, inclusive, com painéis digitais. Mesmo assim, o Paulistinha ainda está longe de uma aposentadoria completa. (Fonte: economia.uol.com.br).

* Fonte: Texto publicado com o título “A Festa dos Manicacas” na edição de 28 de outubro de 1956 do Jornal dos Municípios, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Trechos do texto original.

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