Com as últimas chuvas desta semana (fevereiro/1980) a Lagoa dos Japoneses¹ transbordou e inundou ruas e casas. Só na rua Sergipe 10 famílias estão desabrigadas. As ruas Foz do Iguaçu¹, Ouro Preto e Guaporé² também foram alagadas como também as casas.
Segundo moradores da Rua Sergipe há trinta anos que esta situação vem se arrastando. O Sr. Jacinto Soares, 57 anos, morador daquele bairro, diz que antes era mais seco. Anos atrás foi feito na rua Sergipe um escoamento. Mas depois, entupido pelas máquinas que nivelaram a rua.
Casas de várias ruas estão semi-submersas. A maior parte das ruas não tem nenhuma infra-estrutura urbana. O saneamento básico inexiste. Não há sistema de esgotos. A maioria das casas tem sistema de fossa. E com as chuvas algumas inundaram. Dentro da lagoa e imediações observa-se todo tipo de detritos.
A reportagem deste semanário em conversa com o Sr. Geraldo, morador da rua Sergipe, 1801, 47 anos, casado, pai de 03 filhos já há vários anos consecutivos tem que sair correndo com a família para não ser submerso pelas águas que chegavam. Ele é um homem experiente, vivido, preocupa-se muito com as crianças. É funcionário do DER-MG.
De manhã a criançada se diverte nas águas super-poluídas da Lagoa e das ruas inundadas. São crianças sem saúde, de barriga inchada. A verminose por lá existe em grande quantidade. Da. Maria Albina de Jesus, 37 anos, mãe de 05 filhos, moradora à rua Sergipe, 1949, lamenta-se muito. Já várias noites sem dormir, tem pés feridos, contaminação pelas águas que invadiram o terreiro à sua porta de fundo. Clamando da dificuldade, diz que não sai de lá por causa de escola dos filhos e porque não tem condição de adquirir um lote noutro lugar.
Oitenta famílias vivem hoje este drama. Se as chuvas continuassem seriam o dobro. Grande número das famílias estão alojadas no Parque de Exposições. Até quando a população mais carente aguentará esta situação. Em conversa com vários moradores perguntam: E o imposto que pagamos. Pagamos imposto para viver alagados durante a época chuvosa do ano. Alguma coisa precisa ser feita. Isso não pode acontecer em 1981.
* 1: Existia a Rua Piauí que terminava na lagoa. Depois dela, continuava como Rua Foz do Iguaçu. Depois do aterramento, passou a se chamar Avenida Piauí.
* 2: A Rua Ceará também terminava na lagoa e depois dela seguia com o nome de Guaporé.
* Fonte: Texto publicado com o título “Drama no Bairro – A Lagoa dos Japoneses Transbordou” na edição de 21 de fevereiro de 1980 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Publicada em 03/01/2014 com o título “Loteamento Ilídio Caixeta de Melo”.