Maria Esther Maciel passou um longo período sem escrever poemas. “Achei, inclusive, que a poesia tivesse me abandonado por completo”, confessa. Bastou se mudar de casa que, de súbito, a escritora voltou ao registro poético. “Isso foi há menos de dois anos. E, desde então, qualquer cena do cotidiano ou qualquer experiência dos sentidos passou a me provocar atos internos que, por sua vez, acenderam minha imaginação. Ao longo de 2019, vivi vários momentos criativos, que poderiam ser chamados de pequenos surtos poéticos. Continuam até hoje, mas percebo que, agora, já estou migrando de forma mais efetiva para o campo da narrativa ficcional”.
Seja como for, é a poesia que conduz “Longe, Aqui: Poesia Incompleta 1998-2019”, que Maria Esther autografa neste sábado em BH. “Como publiquei meus primeiros livros de poemas de forma independente há muitos anos, achei que trazê-los de volta – com nova roupagem e acrescidos de poemas inéditos – seria uma forma de mantê-los vivos. Um dia, mencionei isso com o Alencar Perdigão e a Cláudia Mansini, da Livraria Quixote, e eles me estimularam a levar adiante o projeto, dizendo que publicariam o volume de minha poesia reunida”. Isso aconteceu no primeiro semestre do ano passado. “Fiquei bastante entusiasmada com a ideia e resolvi encarar a empreitada. Nesse período, já havia escrito vários poemas de ‘O Livro das Sutilezas’, e tive a ideia de incluir esse trabalho também”, pontua. A versão definitiva do “Longe, aqui” foi concluída em novembro passado.
A obra descartou apenas um único livro, o “Dos Haveres do Corpo”. “Num primeiro momento, fiquei um pouco em dúvida sobre inseri-lo, Cheguei a incluí-lo na primeira versão, mas, depois, relendo o conjunto, achei que não era o caso. Os poemas que o compõem foram escritos quando eu tinha entre 18 e 21 anos, e comecei a achá-los meio ingênuos. Confesso que não tive coragem de republicá-los”, reconhece.
Como acontece com praticamente todos os autores, Maria Esther reconhece que, ao longo do tempo, suas referências poéticas foram mudando, bem como suas inquietações se diversificaram.
“Passei, também, a experimentar formas literárias mais híbridas e transversais. Até mais ou menos 2003, só escrevia poemas em versos”, revela a escritora que, posteriormente, passou a experimentar outras possibilidades de escrita, sem abrir mão da poesia. “Isso se deu com ‘O Livro de Zenóbia’ (2004). Ou seja, comecei a escrever textos em prosa, listas, receitas culinárias, notas de diário, entre outras, valendo-me também de recursos narrativos e ensaísticos. Mas sempre atenta ao ritmo das frases, à sonoridade das palavras e aos aspectos visuais, cinéticos, da linguagem. Dessa forma, apostei nas misturas de gênero, nos desvios formais, na transgressão dos modelos. Por isso, no prólogo, falei em ‘tudo o que escrevi sob a denominação instável de poesia’”, analisa.
Serviço. Lançamento do livro “Longe, Aqui”, neste sábado, às 11h, na Livraria Quixote (Fernandes Tourinho, 274, Savassi). Entrada gratuita (livro a R$ 64,90).
* Fonte e foto (Iana Domingos): Texto de Patrícia Cassese (12/03/2020) publicado com o título “Maria Esther Maciel autografa o livro ‘Longe, Aqui’ neste sábado” e subtítulo “A escritora: Este é um tempo de sobressaltos, de descrença na humanidade. Por isso acho que, mais do que nunca, a poesia é necessária” em otempo.com.br.