No tempo em que a Dona Piqueta¹ era a parteira mais solicitada da Cidade, e até dos Distritos e meio rural, o taxista Josias estava feliz demais da conta quando a esposa Josiane começou a sentir as tradicionais contrações do final da gravidez do primeiro filho. Rápido e ligeiro, a mulher foi instalada na sala de partos do Hospital Regional. E lá estava a Dona Piqueta para executar a sua característica eficiência. Entretanto, não houve parto, pois não havia nenê para nascer, foi uma gravidez psicológica. Como o ex-futuro pai era muito conhecido, a notícia correu célere. Aí não deu outra, logo veio um apelido: bomba de ar.
Coitado do Josias, quando surgia em qualquer local ouvia de um conhecido:
– Oi, bomba de ar.
Certo manhã o frustrado pai contou a um amigo que ia andar armado para matar qualquer um que lhe pronunciasse aquelas três palavras, pois já não estava suportando mais aquilo. O amigo não perdeu tempo e foi logo avisar ao Padre Thomaz. Este fez tudo para convencer o taxista de que se fizesse o que pretendia arruinaria a vida do casal e, o mais importante, se ele não desse importância, não demoraria muito o povo ia esquecer e tudo voltaria ao normal. Aparentemente concordando com as explanações do padre, Josias se acalmou.
Infelizmente, o aparentemente acima durou pouco, pois à tarde o Padre Thomaz foi chamado às pressas ao ponto de táxi em frente ao Fórum da Avenida Getúlio Vargas. Lá estava o Josias com uma arma apontada para um sujeito que pedia duzentas mil desculpas. Ao ser questionado pelo religioso, que veementemente pediu para lhe entregar a arma, o Josias retalhou:
– Padre, cheguei a concordar contigo e estava seriamente decidido a não mais me chatear quando chamado de bomba de ar, mas esse fedazunha e disgramento aqui me pediu para encher o pneu da bicicleta dele com o meu bilau. Esse vai morrer!
Dizem as testemunhas oculares daquele acontecimento perdido na poeira do tempo que o Padre Thomaz conseguiu serenar os ânimos do Josias, evitando uma tragédia. E o povo, sábio que é, parou com esse negócio de bomba de ar e a vida voltou à normalidade, fundamentalmente não muito depois quando o primeiro filho do casal realmente veio ao mundo.
* 1: Leia “Maria de Lourdes Faria de Queiroz (Dona Piqueta”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.