Os entendidos em futebol dos áureos tempos afirmam categoricamente que o Edson Negão jogava muita bola defendendo as cores do glorioso Mamoré durante a década de 1950. Foi programado para 13 de junho de 1956 um amistoso importante contra o Olaria do Rio de Janeiro, que naquele tempo dava uma trabalheira danada aos grandes de lá. O Edson, com uma indisposição intestinal, estava naquela de joga ou não joga. Pouco antes de iniciar a partida, depois da tradicional foto, ele resolveu não jogar para evitar complicações, aconchegando-se na humilde arquibancada para dar força aos companheiros.
Com poucos minutos de jogo, um esmeraldino se machucou. Sem um reserva à altura, o técnico Lilito, lá do gramado, chamou o Edson, que, sentindo-se intestinalmente mais calmo, prontamente atendeu. Vestiu o uniforme e na pressa calçou o primeiro par de chuteiras que encontrou pela frente. Lá mesmo no vestiário fez um rápido aquecimento e adentrou ao campo.
Infelizmente, aquele 13 de junho de 1956 não foi o dia do Sapão. Mesmo com craques como Dr. Fernando, Durango, Albertino, Tarzan, Amálio, Joãozinho, Chain, Lagoa, Bosco, Pirola e o goleirão Tonho do Roque¹, o time não se acertou em campo, muito menos o Edson Negão. O Mamoré chegou a fazer dois gols, mas levou quatro.
Nos vestiários, as lamentações. O mais cobrado pelo técnico Lilito foi justamente o Edson Negão. Quando este estava descalçando as chuteiras, o Lilito reparou num pequeno detalhe e danou a gargalhar. Os colegas também repararam e também danaram a gargalhar. O motivo? E não é que o Edson Negão calçou duas chuteiras do pé direito? Simplório como era, assim também foi sua explicação:
– Agora tá entendido porque joguei mal, sou canhoto desde garotinho!
* 1: Veja a foto em “Mamoré 2 x 4 Olaria-RJ − 13/06/1956”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.
