Lá pelos idos de 1960, o hoje Bairro Brasil e adjacências eram conhecidos como Baixa Várzea, e por lá a prostituição incomodava muito a muita gente. Não foi à toa que o Frei Antônio de Gangi, da Igreja dos Capuchinhos, proporcionou uma passeata contra as mulheres de vida fácil¹. Numa bela noite enluarada, dois amigos se embebedavam numa das inúmeras biroscas que havia por lá. Por volta das onze e meia da noite, resolvem tomar o rumo de casa. Um deles falou:
– Zé, falta dez minutos pra meia-noite, vai embora não, dorme aqui em casa, ocê tem que passar na porta do Cemitério Santa Cruz, é perigoso a essa hora, tem muita sombração por lá, elas sai à meia-noite.
O amigo do Zé não deu a mínima pelota para o que ouviu e se mandou. Depois de passar pelo portão principal do Cemitério começou a ouvir passos atrás dele. Ele olhou e não percebeu vivalma. Continuou a andar e novamente ouviu os passos. Resolveu então acelerar a caminhada e lá vinham os passos atrás deles. Começou a correr, entrou na hoje Rua Marechal Rondon e lá vinham os passos atrás dele. Quando chegou na esquina com a hoje Rua Ouro Preto veio uma coragem sabe-se lá de onde, ele parou subitamente e se virou. No outro dia, contou a horripilante experiência ao amigo Zé:
– Quando me virei, vi uma mulher nua vindo em minha direção, peladinha, peladinha, corpo dotro mundo de bão, mas… Zé, ela não tinha cabeça. Fiquei lá pregado no chão. Ela chegou, me abraçou, e Zé, cê não vai acreditar, me tascou um beijo na boca daqueles de arrancar os dentes, coisa dotro mundo, sô.
O Zé se exasperou:
– Como te beijou na boca se ocê disse que ela não tinha cabeça?
Na maior cara de pau o amigo explicou:
– Zé, não tenho ideia na cachola pra te contar como se deu o beijo, porque o beijo tava tão gostoso, bão demais da conta, que desmaiei de gostusura. Só sei que fui acordado por uns pessoal e fui embora.
* 1: Leia “Frei Antônio de Gangi e Sua Investida Contra a Prostituição”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.