ENSINO PRIMÁRIO EM 1907 − 2

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TEXTO: EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES (1907)

O artigo transacto foi objecto de regosijo para muitos e descontentamento para alguns; perdoe-nos estes ultimos, si não nos detivemos, deante do “E’ prohibido o ingresso” que parece estar collocado na capa do Regulamento da instrucção primaria, que por acaso, nos chegou as mãos.

Ha dias, intervistaramo-nos com o Dr. Olegario Maciel, acerca da reforma, e as opiniões abalisadas de S. Exc., quasi nos reconciliaram com a mesma; dizia-nos S. Exc., que professava opinião contraria as ideas de concurso, que expendemos em nosso artigo passado, pois que na culta Allemanha os professores não fazem concurso e o ensino é o melhor possivel; S. Exc. ainda nos fez outras considerações, que, quasi fizeram calar em nosso espirito as suas ideas; chegando ao nosso gabinete de trabalho porem, abrimos casualmente, o regulamento de instrucção primaria e deparamos a fls. 34 o seguinte art.: As cadeiras das escolas normaes que vagarem, serão providas por meio de concurso.

Ruiu por terra toda a nossa reconciliação; hoje poderiamos reconcilar-nos com a reforma, essa reconciliação porém, seria como a do ouriço da fabula, com o seu caracol da noite.

Si o leitor se der ao trabalho de manusear o programma do ensino publico primario, verá que este não só é feito para o grupo escolar, como tambem para a escola singular, o que é um absurdo digno do mais vehemente protesto; accresce ainda que em quatro annos criança alguma estará apta para deixar os bancos escolares com semelhante programma; a gratificação torna-se portanto illusoria.

Diz mais o programma, que o dia escolar começa ás 10 horas e acaba ás 2, temos por tanto quatro horas; em primeiro logar, procede-se a chamada, procede-se a annotação dos faltosos na caderneta (meia hora), em segundo logar, cantam o hymno, (meia hora); temos uma hora de gymnastica para os homens e contracções musculares para as mulheres; ficam duas horas para o mestre ensinar as crianças (40 alumnos). Achamos que este tempo não é sufficiente nem ao menos para o ensino da quarta parte; muito melhor seria se houvessem duas sessões de escola, como existiam antigamente porque só tinha lucrar com isto o alumno.

Pergunta o bom do Ramalho Ortigão em suas “Farpas”: Que é feito dos reformophobos e dos reformicidas? Responderemos: foram atraz dos reformadores.

Temos a reminicencia vaga de um discurso de um dos nossos confrades o Dr. P. Americano; perguntava elle pela educação experimental no recinto de uma Faculdade, e como ninguem respondesse continuou assim: “Baldadamente a buscarieis no puro formalismo dos programmas e na ostentação de uma sciencia toda filigranada sobre o nucleo despresivel de noções imperfeitas, para servir de arrebique a figura bizarra de nossa organisação de ensino, verdadeiro polypho sem cerebro a esgotar a pujança tropical de formosos talentos, fatalmente condemnados a improductividade a esterilidade precoce, ao apparato luzidio da fórma”.

Mutatis mutandes estas linhas tem grande applicação na actual reforma.

Continua.

Dr. Euphrasio Roiz.

* Fonte: Texto publicado com o título “Considerações sobre a reforma do ensino primario” na edição de 03 de fevereiro de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

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