ENSINO PRIMÁRIO EM 1907 − 1

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TEXTO: EUPHRASIO JOSÉ RODRIGUES (1907)

Deante desta reforma chlorotica, anemica, e morrendo de inanição não podiamos ficar silenciosos; mesmo que ella corre risco de cahir exangue, se uma therapeutica regular não vier em seu auxilio.

Quando na Bahia foi elaborada ha annos transactos, a reforma do ensino publico pelo Dr. Manoel Victorino, de saudosa memoria, levantou-se em massa o Professorado de então, e lavrou protesto energico; a reforma não se fez, e foi assumpto para mais de uma comedia; hoje o professorado mineiro em logar de levantar-se com instantaneidade tragica, soffre pacatamente, subjeitos a uma remuneração pingue, dirigem-se as pressas as casas das comadres, pedindo-lhes por amor de Deus a esmola de um alumno.

Reabriram-se as escolas; exige a reforma uma matricula de 40 alumnos, e não sei quantos frequentes, fazendo o Professor trabalhar nos dias sanctificados e quasi que até nos domingos; quando os legisladores elaboraram a reforma, não viram, ou estavam cegos, por que só esta clausula é o mais perigoso fermento de anarchia.

Não pode o professor castigar o alumno com receio de desagradar os paes e estes retirarem o alumno da escola; expliquem-me como pode o professor manter a frequencia na escola do menino vadião?

A frequencia na escola nem sempre demonstra idoneidade de professorado, se se tratasse do ensino superior nada diria, no ensino primario porem, quanto mais exigente e rispido o mestre mais refractario se torna o alumno, conheço paes que por uma simples reprehensão retiram o alumno da escola, principalmente nos nossos sertões, em que existem muitos analphabetos que não comprehendem a sublimidade da missão do mestre.

Comparando os tempos hodiernos com os meus bellos tempos escolares, a differença logo se faz sentir, é verdade que antigamente existia o rigor dos magisters armados de jacarandesca ferula, (não somos adeptos de tanto rigor) os professores eram todos idoneos e o concurso era o logar onde mostravam suas aptidões; o professorado era largamente remunerado; foram destas escolas que sahiram os homens que formam hoje a aristocracia intellectual do paiz, foram dos Caraças e dos 7 de Setembros, que sahiram os magistrados, os médicos, os engenheiros, etc.

Hoje o professor engoda os meninos com uma collecção de santinhos, não ha idoneidade, pois que a maior parte dos individuos sem profissão, vão ser professores primarios, unicamente porque seus compadres são influencias politicas; quanto a remuneração, esta é tão exigua, que conheci em uma cidade mineira um professor cujos ordenados por longo tempo lhe faltaram e chegou a ponto de não poder pagar a mulher que lhe lavava as camisas.

Institua-se a obrigatoriedade do ensino primario; sejam multados os paes que sem motivo, deixarem de ensinar os filhos enviando-os as escolas, obrigue-se o professor a manifestar as suas aptidões por meio de concurso, augmentem-se os seus vencimentos, seja dada ao magisterio preferencia no recebimento, construam-se casas escolares por plantas elaboradas pelos chefes da Hygiene Publica e se formos assim preparados, para o futuro teremos homens pensadores e não pedantes de Academia na phrase inolvidavel do Conselheiro Saraiva.

Continua.

Dr. Euphrasio José Roiz.

* Fonte: Texto publicado com o título “Considerações acerca da reforma do ensino Primario” na edição de 27 de janeiro de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

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