DESRESPEITO À LEI NA DÉCADA DE 1910

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Lentamente embora, seguindo o caminho ha muito trilhado por grande numero de cidades mineiras, Patos vai apresentando alguns melhoramentos, obedecendo a lei da evolução. Os melhoramentos visiveis consistem em algumas construcções de estylo moderno, em um jardim, algumas lampadas pelas ruas, uma linha telephonica para a séde de um dos districtos, etc. Como se pode vêr, a marcha vae lenta, mas perceptível.

Seguindo o exemplo de innumeros arraiaes, villas e cidades do Estado, Patos trata de se abastecer de agua potavel, realisando assim, em virtude da referida lei da evolução, uma aspiração quasi semi secular de seus habitantes. Que jorre a agua, que venham outros melhoramentos. Relativamente perto da linha ferrea, seria de vantagem que um ramal da E. F. de Goyaz se dirigisse para Patos, onde encontraria desenvolvido commercio, uberrimas terras, etc.

Agua, luz, telegrapho, estrada de ferro, são melhoramentos importantes e não difficeis de chegarem à realidade em Patos, devido as circunstancias favoraveis. Para agua, ha verba, para luz ha meios, o telegrapho está muito perto, a estrada de ferro tambem.

Patos não tardará muito a possuir melhoramentos importantes. Uma cousa porém, que vale infinitamente mais do que os melhoramentos materiaes, Patos, infelizmente ainda não tem consolidando-o melhoramento moral, em certo sentido, no sentido do respeito á Lei, ao Direito.

Uma sociedade em que a lei não è acatada, onde as autoridades não podem agir dentro da legalidade, por falta de certas garantias, torna-se aos poucos, descrente dos seus direitos. Infelizmente, ninguem ignora, tém-se dado certos factos tristes, deprimentes em Patos. Aqui, a recompensa do cumprimento do dever publico, consiste em emboscadas, armadas com revoltante deslealdade. O estimulo para a pratica do bem não pòde existir e o bem publico, sò os abnegados o poderão praticar aqui. As queixas se levantam de todas as camadas sociaes, collaboradores diversos, neste jornal, em linguagem repassada de amargura, exprimem o mau estar geral que experimenta em Patos, no tocante ás garantias juridicas (digamos assim). Hontem, eram Juizes e Promotor cruelmente desacatados na praça publica, enxovalhados com commentarios inveridicos e picarescos; hoje é uma outra autoridade que em publico, declara que recebeu carta anonyma tratando de seu modo de agir em determinado caso, entregue a sua apreciação jurídica, dizendo a mesma autoridade, que desta vez, não houve ameaças (!!). Quem lê a secção livre do “O Commercio” de 3 de Maio do corrente anno, sente-se revoltado como já observamos, por entre commentarios os mais acerbos. Haverá alguem que julgue que essas cousas nada influem para o logar? Si houver, podemos affirmar que se illude.

A preocupação de mostrar poderio, autoridade, valor nos tempos que correm, praticando medidas antipathicas produz sempre effeitos contraproducentes. E o mau exemplo, fogueira infernal, que taes cousas produzem?! Patos, possuindo riquezas moraes e materiaes em abundancia, precisa sacudir o jugo que entorpece o seu progresso em todos os sentidos. Despeitados! poderão dizer. Não somos despeitados, estamos em posição de dizer a verdade, sem odio, sem despeito, tanto mais que estamos ouvindo vozes se levantarem continuadamente, em documentação fria, imparcial, contra o que se tem passado, contra o que se passa.

Um correspondente do “O Commercio”, escrevendo de Sant’Anna de Patos, no numero do jornal de 12 de julho corrente, diz que foi preso e levado à cidade, um criminoso cynico, e que não entrou para a prisão, voltando a gabar-se disso, e promettendo reincidir no crime. Assim só a chumbo (!!) diz o correspondente, accrescentando que “Só um tal meio de repressão ou outros semelhantes, summarissimos (!!) para estes tempos de geral crise da caracter e em que annulla-se a acção da justiça por effeito da baixa e egoística politica”.

Patos progride?

A vista do que fica exposto, o leitor que o responda.

* Fonte: Texto publicado com o título “Patos Progride?” na edição de 02 de agosto de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Cartacapital.com.br.

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