O cidadão Fulano Soupedra estava revoltado com o descaso do poder público em sua querida e amada cidade. Por causa disso entrou com um requerimento no órgão competente para que tomassem providências. A propósito, a família Soupedra é tradicionalíssima e vários de seus membros já foram comandantes da urbe, que, dizem os inimigos fraternais, os Tambemsoupedra, ora no comando, não passam de vidraça esfarinhada. A propósito de novo, o Fulano Soupedra é concessionário de rádio e usa alguns locutores para meterem o pau nos Tambemsoupedra, que se sujeitam a isso para manterem seus empregos. Óbvio, tem as exceções, que preferem sair desse meio pedregoso com a consciência isenta de pedregulhos. O trem é feio, catinga mesmo que consegue até infestar os ares dos municípios vizinhos.
A realidade é que os Soupedra estavam no poder e comandavam a câmara municipal, o executivo e os parcos neurônios do povo, assim mesmo como fazem os atuais donos do poder, os Tambemsoupedra. Sempre foi assim, suspirou um que já cansou de levar pedradas. Esse, que já cansou de levar pedradas, teve a coragem de dizer: – Não adianta, a pedrada vem de qualquer jeito, seja na vez dos Soupedra ou na vez dos Tambemsoupedra, pois sempre estão se revezando no poder e o povo… ó (com o dedo em riste)… só vive tirando areia da cabeça.
Mas eis que o Fulano Soupedra botou pra quebrar. Se não está no poder, mais do que evidente que a meta é atrapalhar de tudo quanto é jeito o que está lá, como já cansaram de fazer os Tambemsoupedra quando estavam longe da pedreira. Foi quando resolveu jogar cascalho na sopa do único deputado federal do lugar. Sim, eles tinham um deputado federal que era do grupo da vez, os Tambemsoupedra. Ora, os Soupedra não estavam gostando nadinha disso e por isso o tal Fulano Soupedra se candidatou com o único objetivo de trincar a rocha do outro e lascar de vez a cidade. E lascou mesmo, ficando o povo sem nenhuma pedra na Câmara Federal. Briga de pedra é assim, e só quem fica lascado é o povo.
E assim a cidade segue seu caminho tortuoso e rochoso, onde o que importa é a vontade da pedra da vez contra o repuxo da pedra de fora. Cada grupo tem a sua picareta turbinada e repleta de meandros sinistros. No meio de pedra voando para tudo quanto é lado, o povo é a vidraça esmigalhada. Enquanto o povo cata os seus caquinhos e não enxerga luz no fim do túnel, os Soupedra e os Tambemsoupedra, a cada picaretada eleitoral, se digladiam apreciando um a derrota do outro. E lá de cima da pedreira estão se lixando para o areal em que está se transformando a eternamente sofrida região. E o povo correndo para se enconder das pedradas. Não há como fugir da realidade cruel: pedra é pedra (governo) e areia é areia (povo)! Mas há uma saída muito providencial: o povo se juntar, comprar toneladas de dinamites da marca URNA e implodir as duas pedreiras. Assim, limpos os campos das pedras contaminadas, nos será ofertado um novo Cerrado, livre de impurezas.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Rrlce.com.br.
