PERDIDOS: A famosa Turma do Injeitei, formada por agiotas que concorriam com o Beluco e emprestavam dinheiro a juros na porta do Mercantil, está totalmente desbaratinada. Após as medidas implantadas pelo Plano Collor, a turma mudou até a tônica do papo que rolava naquele local. Antigamente, os agiotas viviam gabando as porcentagens de juros que tinham injeitado para emprestar seus capitais. Atualmente, todos só lamentam os valores que foram obrigados a emprestar ao novo governo. “O nome daquela confraria agora é Turma do Perdi Tanto”, gozou um antigo frequentador do local.
CHAVE DE TUDO: O empresário Machado, que além de atuar no ramo de materiais de construção, é também sócio da boate, está empolgadíssimo com a sua condição de conceituado executivo. Dia desses, ele estava mostrando à sua namorada, Olívia Palito, a responsabilidade que absorve as suas atividades. De posse de um chaveiro contendo 98 chaves, Machado explicou à menina a finalidade de cada uma. Segundo ele, no chaveiro tinha até as chaves dos vasos sanitários da boate que a pedido do Baltazar Salim, devem ser sempre mantidos com as tampas trancadas no período em que a Opus não estiver aberta ao público.
SEM OCORRÊNCIA: Na terça-feira, dia 13, o opala da PM, conduzido por um motorista que não estava em visível estado de embriaguez, adentrou os canteiros da Praça da Volks, quando descia a Major Gote em direção ao centro da cidade. O motorista que não evadiu-se do local do acidente e estava devidamente documentado, não foi autuado por nenhuma patrulha da Polícia Militar e, segundo comentários de alguns fofoqueiros, o acidente aconteceu quando o condutor do veículo deixou a direção do mesmo, se colocou em posição de sentido e bateu continência para um sargento que passava do outro lado da rua.
BALÃO DE OXIGÊNIO: As medidas tomadas pelo presidente Fernando Collor trouxeram de imediato alguns lucros inesperados à rede hospitalar do município. De acordo com os comentários, isto aconteceu devido ao internamento de alguns patenses que, após terem seus capitais confiscados, tiveram que ir correndo para o balão de oxigênio. Entre muitos citamos os seguintes: Dila da Católica, Macedo do boteco, Doutor Sandoval, Edinho da Cresa, Pinta Rocha, Zé Ribeiro, Artur da Beija Flor, Beluco do Mercantil e Jeffney da Casa Jafet. Todos eles estão tentando pagar suas contas do CTI em cruzados a fim de recuperar um pouco seus prejuízos.
QUASE IGUAIS: De acordo com o novo plano, até mesmo os políticos que disputarão a campanha este ano, estão em condições iguais para enfrentar as eleições de outubro próximo. A partir de agora, todos os candidatos têm apenas 50 mil cruzeiros para gastar com seus eleitores. A única exceção é o deputável Belchorzinho que conta com alguns zeros a menos em seu orçamento. Conforme ele nos explicou, “a diferença é muito pouca e está em torno de, aproximadamente, três zeros”.
VENDENDO VAGAS: Quem viu o Jorge Louzada enfrentar as longas filas formadas nas portas dos bancos na última segunda-feira, pode ter pensado que o Collor prejudicou as finanças do ex-pedetista. Ledo engano, na realidade Jorge Louzada estava apenas tentando captar alguns cruzeirinhos e conforme explicou um de nossos informantes, o atual peemedebista guardou lugar em várias filas e os vendeu a diversos especuladores importantes do município. Segundo se comenta entre a relação de fregueses do Louzada estão os nomes de vários gaúchos que vivem em Patos como se estivessem no Texas.
COWBOY FORA DA LEI: O Dila da Livraria Católica, que comprou milhares de dólares antes do calote do novo governo, ficou empolgadíssimo com a matéria publicada na revista Veja¹, principalmente com os preços da bota, do chapéu e do cinturão que o estudante Luciano Costa de Lima declarou ter comprado no Texas. De acordo com o Dila, “Eu só não posso comprar uma vestimenta desta agora porque meus dólares ainda não foram ‘lavados’. Afinal não ficaria bem eu me vestir de cowboy fora da lei”.
PREVISÃO: Segundo a previsão do nosso analista econômico, a possibilidade de Patos de Minas vir a ter o padrão de vida das cidades do Sul dos Estados Unidos, conforme afirmou a revista Veja, não são impossíveis e sim remotas. “Seria a mesma coisa da gente esperar que o Melado vestisse de texano e fosse trabalhar amansando éguas para o Chiquinho Campos”, comparou ele.
PREJÚ: Os amigos do Agenor da Banca o encontraram em prantos na tarde da última segunda-feira. O comerciante, dizem as más línguas, estava inconformado com o congelamento de suas aplicações financeiras e, chorando, contabilizava os prejuízos obtidos com o plano do novo governo. Apesar de não existir ainda nenhuma informação oficial, as primeiras notícias dão conta de que o banqueiro teria aplicado o valor de, aproximadamente, 5.000 Playboys com as fotos da nova Roberta Close, 300 edições do jornal Correio de Patos, contendo as declarações de José Mendonça a respeito da possibilidade do deputado ser varrido como uma barata do PMDB e 3.000 exemplares da Veja, comparando Patos de Minas ao Texas. “Se eu soubesse que isto iria acontecer, teria comprado até os direitos de publicação da Relação dos Chatos, do escritor Tomaz Vaz Borges”, desabafou Agenor.
DIÁLOGO: Dois bêbados conversavam dentro de um ônibus superlotado e com um pneu furado perto do Lavajato do Getúlio:
– Do jeito que anda as coisas, o Collor vai acabar confiscando até nossas pingas – comentou o primeiro.
– Se os vendeiros não acatarem o congelamento, é só avisar: o Romeu Tuma – completou o outro.
* 1: Leia “Protesto Patense Contra a Revista Veja”.
* Fonte: Coluna Conversa de Butiquim da edição de 24 de março de 1990 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Alodoutoracom.br, meramente ilustrativa