DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL

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2TEXTO: NEWTON FERREIRA DA SILVA MACIEL (2015)

As pessoas idosas, como eu, quando meditam, apreendem involuntariamente as recordações de episódios diversos. Quer queira, quer não. Os acontecimentos dos tempos passados vão surgindo, aos poucos ou aos turbilhões, dependendo do momento. É impossível deter tais digressões. Hoje, emergiu, repentinamente, a recordação de uma pessoa que conheci quando eu era adolescente. Imediatamente liguei os fatos advindos com este cidadão ao nome de uma novela da TV Globo exibida há diversos anos, denominada Dinheiro na mão é vendaval¹. Pois é sobre este assunto, ocorrido em nossa cidade e que ficou na sua história, os quais muitos ignoram e alguns não se recordam, que escreverei a seguir, relacionado com a fugaz importância do dinheiro.

O personagem principal deste assunto teve uma vida muito imprevista. Apesar do tema aqui tratado ter acontecido há mais ou menos sessenta anos e não existir em Patos de Minas nenhum parente vivo das personalidades ligadas à ocorrência, não mencionarei quaisquer nomes identificáveis. O motivo é evidente, pois a intenção é narrar os episódios e não denegrir as pessoas.

Fui informado que uma mulher deficiente mental, muito pobre, que vagava pela cidade estava grávida. Por ocasião do seu parto, uma senhora deu a ela assistência caridosa. A mãe teria rejeitado a criança do sexo masculino. Desta forma, a protetora procurou uma nova mãe que pudesse cuidar do recém-nascido. Encontrou-a na qualidade de uma mulher filantrópica que jamais gerara filhos, a qual aceitou o encargo. O marido da benemérita senhora era um homem conhecido por quase todas as pessoas da então pequena cidade de Patos. Na realidade, ele era um “capitalista”, ou seja, um ricaço, de acordo com os padrões do momento. Na realidade, emprestava dinheiro a preços módicos.

Com o tempo, a afeição do casal pelo menino foi crescendo e, assim, passou a ser tratado como se fora filho. Logo após se tornar adulto, seu pai adotivo faleceu repentinamente. Decorrido o prazo costumeiro, após a missa de sétimo dia, o adotado, ansioso e possuidor de muitas ambições mandou chamar um especialista para abrir a enorme caixa-forte da casa, para ver o que tinha lá dentro, uma vez que seu segredo era ignorado por todos. Segundo a versão, anos depois, narrado pelo encarregado de abrir o cofre, havia no mesmo numerosas cédulas de grande valor, bem como promissórias e cheques. Enfim, uma fortuna bem razoável…

A viúva era possuidora de escassos estudos, como era normal em seu tempo para uma dona de casa e, desta maneira foi envolvida pelo adotivo, que manobrava, a seu bel-prazer, o dinheiro e os pertences deixados pelo abastado senhor. Como é comum nestas situações, o “pobre menino rico” resolveu esbanjar o dinheiro comprando automóveis novos, chamativos, bem como proporcionando festas homéricas. Dentro de pouco tempo surgiu em sua vida uma moça linda, corpo esbelto, que o encantou imediatamente. Casou-se com a mesma e aí começou o verdadeiro gasto pecuniário. Comentavam certas pessoas que ele se hospedou em um famoso hotel da cidade de Petrópolis (RJ), então um dos mais caros do país, durante um mês pagando as suas despesas e, também, da família da esposa. Os gastos exagerados eram evidentes. O noveau riche teria alardeado que comprara um carro que fora propriedade de um herdeiro de Dom Pedro II…

Como é óbvio, não tendo aplicado devidamente o dinheiro e consumindo-o vorazmente, chegou o dia que já não possuía mais nada, exceto dívidas. Determinada noite teria o perdulário e sua esposa saídos às escondidas com destino à uma cidade da Zona da Mata Mineira, abandonando sua mãe adotiva a qual só não passou maus momentos devido à assistência de seu irmão, que não a desamparara. Os credores do ex-milionário procuraram-no aqui e ali. Não havia notícias do fintador. Por acaso, alguém o viu na referida cidade, seguiu-o e descobriu que residia em uma modesta casa. Eu soube que dois credores procuraram-no e pressionaram-no para receber o que lhes era devido. O esforço foi em vão. O resultado previsível aconteceu: retornaram à Patos sem nada receber. Não sei dizer o que aconteceu com a figura principal desta história, se está vivo, se deixou descendentes. Disseram-me que a sua mulher, depois que acabou a “grana” o abandonou que, se verdadeiro, confirmaria o velho adágio: “Quando a miséria entra pela porta o amor sai pela janela”. Afinal, o acontecido é uma lição de vida para todos nós: dinheiro adquirido facilmente “voa” para outros lugares, quase sempre proporcionando um triste fim.

* 1: Na verdade, o nome da novela é “Pecado Capital”, exibida entre 1975 e 1976. A música tema, de mesmo nome, foi composta por Paulinho da Viola e se inicia com “Dinheiro na Mão é Vendaval”.

* Foto: Empiricus.com.br.

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