Tito Silva nasceu em Angra dos Reis-RJ em 24 de dezembro de 1893. Foi um comerciante muito conhecido em Patos de Minas. Sua padaria (Santa Terezinha), localizada na esquina da Rua Dr. Marcolino com Silva Guerra, foi ponto de encontro de várias gerações. Faz parte da história do estabelecimento comercial de Tito Silva o caso de um falsificador de moedas de réis que foi descoberto quase por acaso¹.
Muito querido na cidade, Patos de Minas sentiu-se abalada em 18 de janeiro de 1950 com o assassinato de Tito Silva numa emboscada. A edição do dia 22 do jornal O Patense noticiou a tragédia:
A cidade foi abalada quarta-feira última, dia 18, com a notícia do assassinato, em condições as mais trágicas, do sr. Tito Silva, pessôa largamente estimada no município, dadas as suas qualidades de bom cidadão e amigo de todos os que dele se aproximassem, quer por transações comerciais, quer para um favor, pois era uma dessas raras pessoas que não sabem negar auxílio a quem quer que seja. A tragédia, que privou a nossa sociedade de um dos seus melhores elementos, ainda se cerca de verdadeiro mistério, dados o local e as circunstâncias em que a mesma se verificou.
Segundo corre na cidade, o sr. Tito Silva se dirigia de automóvel, para o lugar denominado Cachoeira da Mutuca, distante uns doze quilometros da cidade, a fim de atender a um chamado para acerto de contas. Antes de atingir o local em apreço, foi o referido cidadão atacado de emboscada, tendo recebido um tiro de espingarda, na altura do mamilo direito, provocando sua morte. Mais tarde, um fazendeiro nas imediações descobriu o cadáver, tendo se comunicado imediatamente com as autoridades policiais, que para ali se dirigiram. Ao chegarem, constataram os policiais que haviam dois cadaveres: o de Tito Silva e o de um indivíduo preto, que mais tarde se apurou chamar-se João Candido. Segundo se presume, o sr. Tito Silva, mesmo ferido mortalmente, teria feito uso de sua arma, prostrando sem vida o seu agressor.
Pelas autoridades policiais foram tomadas as providências necessárias, tendo sido instaurado rigoroso inquérito para o completo esclarecimento do caso. E isto se faz necessário, porque, segundo se comenta, o sr. Tito Silva, depois de ferido, não teria força para sacar a sua arma, pois o seu braço direito ficou inutilizado com a carga de chumbo. Tudo faz crer na existência de uma terceira pessôa, possivelmente o mandante.
Confiamos na ação enérgica do sr. delegado adjunto de polícia.
E a polícia trabalhou com afinco na elucidação do caso. No dia 05 de fevereiro, o mesmo jornal O Patense noticiou:
Pelo sr. dr. Delegado adjunto de polícia acaba de ser esclarecida a tragédia do dia 18 de janeiro findo, verificada no lugar denominado Cachoeira da Mutuca, neste municipio em que perderam a vida o sr. Tito Silva e o seu matador, o indivíduo João Candido. Ficou apurada a responsabilidade criminal de Rufino Caldeira Brant, o qual, credor de Tito, ajustara os serviços de João Candido para receber a dívida. Rufino Caldeira Brant se encontra recolhido à cadeia pública da cidade e já com prisão preventiva decretada pelo exmo. Sr. Juiz de Direito da comarca.
O esclarecimento dos fatos, que provocaram os mais desencontrados comentarios na cidade, se deve à ação energica do dr. Fábio Bandeira de Figueiredo, competente e honrado delegado adjunto da circunscrição, coadjuvado pelo seu inteligente escrivão, sr. Italo Terêncio José.
No livro Logradouros Públicos de Patos de Minas, Júlio César Resende escreveu que Rufino Caldeira Brant nasceu em Patos de Minas em 22 de maio de 1913. Fez o curso normal em Paracatu. Durante dez anos, residiu no povoado de Alagoas, onde era fazendeiro, fabricante de cachaça e rapadura. Em Patos de Minas foi construtor e corretor de imóveis. Faleceu na cidade aos 76 anos em 30 de setembro de 1989.
A respeito do crime, no Fórum Olympio Borges há dois processos. Sem ter acesso a eles, pois era necessário pagar para tal, foi possível obter algumas informações nas fichas de cada um. Consta que Rufino era casado, filho de Abdias Caldeira Brant e Maria Fernandes Brant, e tinha 36 anos de idade. O julgamento aconteceu em 15 de abril de 1950, sendo Rufino absolvido.
Rufino Caldeira Brant saiu totalmente ileso deste imbróglio, como atesta a Lei n.º 2.897 de 31 de outubro de 1991, que assim determina em seu Art. 1.º: Fica denominada a Rua “RUFINO CALDEIRA BRANT”, a atual Rua “4”, localizada entre as quadras 01, 38 e 39, setor 01, bairro Bela Vista.
* 1: Leia “O Fabricante”.
* Fontes: Texto publicado com o título “Tragicamente assassinado o sr. Tito Silva” e subtítulo “O criminoso teria sido morto pela sua própria vítima – Suspeita-se que haja uma terceira pessôa envolvida na traiçoeira trama – As providências da polícia” na edição de 22 de janeiro de 1950 do jornal O Patense; texto publicado com o título “A Tragédia do dia 18 de Janeiro” e subtítulo “Completamente esclarecido o mistério em torno da emboscada de que foi vítima o sr. Tito Silva” na edição de 05 de fevereiro do jornal O Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Pensamentosdeovelha.worpprees.com, meramente ilustrativa.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.