TEXTO: FREDERICO ALBERTO (1967)
A história de uma cidade sempre está vinculada ao esfôrço e à luta de um povo. Um povo dinâmico e capaz de grandes sacrifícios a fim de fazer com que aquêle quinhão de pátria tenha progresso e desenvolvimento. Muitas vêzes a pessoa trabalha inconscientemente e jamais espera que seja partícipe da história local. Isto acontece sobretudo com os advindos. No entanto, nenhuma terra nasceu nem progrediu pelo esfôrço primário de seus filhos de nascimento. Foram os forasteiros, os filhos por adoção é que plantaram a semente para os nativos de anos após.
Patos de Minas nasceu à beira de uma lagoa, de acôrdo com a sua tradição e história. Nasceu de negros foragidos das senzalas de Goiás e de Paracatu e de tropeiros em demanda a outras paragens levando mantimentos e tangendo o rebanho. O comércio no ínvio sertão. O local era ameno para um descanso. O local possuía a beleza da paisagem verde e entrecortada de lagoas remansadas para o repouso. O tempo os obrigou, foragidos e viandantes, a cuidarem do amanho da terra para a sua própria sobrevivência. Com isto, perceberam e descobriram que a terra era rica, era dadivosa, pródiga. Os viandantes se encarregaram de levar a notícia para outras paragens. Outros, além daquêles mensageiros, vieram e fixaram-se na terra. As lagoas forneciam a água abundante e patos ariscos em quantidade. Por isto mesmo denominaram a localidade de Patos. Um nome comum passou a especificar a região. Muita gente foi chegando e construindo a sua vivenda. Conseguiram as sesmarias por parte do Govêrno. A fé exigiu a edificação de uma capela, um orago, onde o homem, no instante do encontro consigo mesmo e de seu descanso no ermo do sertão, prestasse um culto de adoração a seu Deus. E a capela surgiu, tendo Santo Antônio de Lisboa como padroeiro. O santo português ouviu as preces dos primeiros devotos locais. Já era Santo Antônio dos Patos, em franco progresso.
Por causa do progresso, as lagoas passaram a ser intruzas. O progresso as foi secando. Em seus lugares foram abertas ruas e avenidas, edificaram-se casas, igrejas e mais paróquias. Apenas uma lagoa nos ficou de legado. Tôdas as outras passaram a existir sómente na tradição do povo e nas crônicas dos livros. Ficou apenas a conhecida Lagoa Grande, na zona sul da cidade. Está vencendo o tempo. Mas nem por isso está muito livre do mesmo destino das suas co-irmãs. Nós, em nossos dias, devemos preservá-la. O Sr. Prefeito Municipal que tem demonstrado preocupação com o embelezamento da cidade, poderia aproveitá-la e, através de um engenheiro urbanístico, fazer dela um dos pontos mais amenos e pitoresco de Patos de Minas. Com sua avenida contôrno, onde se poderá construir vivendas agrestes. A nosso ver, com a venda dos lotes em tôrno da lagoa, já daria para fazer face à grande parte das despesas do embelezamento da referida lagoa e, através de subscrição pública, numa homenagem do próprio povo aos anônimos fundadores da terra, erigir um monumento aos tropeiros e escravos. Um monumento em pedra ou bronze, que falasse aos corações de tôdas as gerações. Pois nós, além da cultuação da memória dos pioneiros, deixaremos para a posteridade a lembrança imorredoura do amor e do reconhecimento dos de hoje àqueles que iniciaram o progresso para nós. Haverá beleza urbanística e local de descanso para todos os patenses. Outro será o aspecto da terra dadivosa, plantada à margem esquerda do histórico Paranaíba.
Todos esperam que Patos de Minas receba êste presente do govêrno e que, no seu próximo aniversário, tenhamos a inauguração da PAMPULHA DA TERRA DO MILHO.
* Texto publicado na edição de 24 de maio de 1967 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Dreamstime.com, meramente ilustrativa.