INGERÊNCIA POLÍTICA DO DR. ADÉLIO DIAS MACIEL

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digitalizar0001 - CópiaO historiador patense Geraldo Fonseca, durante uma de suas inúmeras pesquisas, declara: “Um dos últimos números da Revista do Arquivo Público Mineiro é, integralmente, dedicado à publicação de interessantes documentos sobre o movimento revolucionário de 1930. Relaciona a publicação telegramas, relatórios e outros papéis, sem tecer comentários, tarefa que fica por conta do curioso, do historiador, do jornalista. Patos, que naquele tempo não grafava que era “de Minas”, dá presença com uns poucos papéis, curiosíssimos documentos para os de hoje”¹.

Geraldo Fonseca ainda afirma: “Tivemos surpresa ao verificar uma das caixas relacionadas na citada edição da Revista do APM. A caixa de documentos, do setor Triângulo, traz cópias de telegramas. Quisemos conhecer os telegramas de Christóvão e Adélio. O primeiro, que presumimos ser o radiotelegrafista, repassa ao governo alguns radiogramas das forças paulistas, por ele interceptados. Quanto ao telegrama de Adélio (Dr. Adélio Dias Maciel), procedente de Patos, configura flagrante ingerência na política do vizinho município de Rio Paranaíba. Naquele tempo – em 1930 –, poderia ter gerado, caso seu texto se tornasse conhecido, naquela cidade, um estremecimento de imprevisíveis consequências políticas. Logicamente, o telegrama de Adélio nada tem a ver com o conteúdo da edição da revista. Por engano foi juntado aos papéis que só tratam da revolução de 30. Para que não fiquem falhas na memória histórica, tanto de Patos de Minas, quanto de Rio Paranaíba e Carmo do Paranaíba, segue a integral transcrição do radiograma:

Procedência: Patos – Radiotelegraphista: Andrade – A Estação Radiotelegraphica do Gabinete do Presidente do Estado de Minas Gerais – 8.12.1930
Dr. Gustavo Capanema – Secretário Interior Belo Horizonte.
Município Rio Paranaíba, instalado há 8 anos, pobre, pouco povoado, sede decadente, até agora não poude se organizar convenientemente, devido a insignificante renda e falta de gente habilitada para se governar.
Os poucos cidadãos intellectual (sic), estão divididos em dois grupos inconciliaveis, menos por motivo da ordem política do que por questão religiosa. Os catholicos, em grande maioria, não têm um chefe capaz de dirigil-os e a quem o governo possa entregar a direção política e administrativa do município. O outro grupo é dirigido pelo sr. Hilarino Rocha, com algumas qualidades de administrador, mas fortemente guerreado, sem nenhuma probabilidade de vir a conquistar as sympathias do povo, porque é chefe também da Igreja Protestante.
A renda da Câmara, que suppõe não ter ainda ultrapassado de vinte contos annuaes, é consumida em subsídio, ordenados e expediente, não existindo nem uma meza de propriedade da municipalidade.
A cadeia, construída pela população por ocasião da creação da villa e sede da Câmara, por empréstimo, está em ruinas.
Nestas condições, atendendo-se a tudo isto e a que mesmo bem administrado falta ao logar elementos para se manter, devido à falta de renda, que não poderá ultrapassar a 25 contos, não seria conveniente, no momento, a fuzão deste com o município de Carmo do Paranahyba, também pequeno e de poucos recursos?
Peço ao prezado amigo examinar com o Sr. Presidente esta questão e responder-me alguma com urgente.
Abraços.
Adélio.

Houvesse vingado o pedido acima, Rio Paranaíba teria perdido, pela sexta vez, sua autonomia municipal, caso raríssimo nos quadros nacionais de divisões administrativas.

* 1: Leia o texto “Participação Patense na Revolução de 1930”.

* Fonte: Texto do historiador Geraldo Fonseca publicado na edição n.º 78 de 15 de outubro de 1983 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

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