O asfaltamento da Rodovia do Milho teve início em 1969. O processo foi árduo, as lutas intensas para haver uma ligação confortável com a BR 262. Poucas semanas antes de sua liberação total para o trânsito, foram detectadas algumas irregularidades com relação ao pessoal que controlava as “barreiras”: este pessoal estava cobrando “propina” para que alguns veículos pudessem trafegar nos trechos ainda não liberados¹.
Finalmente, em 29 de fevereiro de 1972, o tão sonhado e esperado asfalto da Rodovia do Milho estava definitivamente entregue aos motoristas. Esta faísca de progresso, no entanto, deve ter acalentado além da conta aqueles há muito acostumados com buracos, poeira e barro. E eles, anos e anos se aborrecendo com buracos, poeira e barro, de repente se viram trafegando na negra rodovia, lisa, serena e convidativa para se ouvir melhor o ronco dos motores. E assim, menos de dois meses após a inauguração da estrada, eis que a “Rodovia do Progresso” já havia se transformado na “Rodovia da Morte”. Que o diga a matéria publicada na edição de 09 de abril de 1972 do Jornal dos Municípios:
O progresso tem sempre uma história de sangue a vincar sua passagem. O que está acontecendo na “RODOVIA DO MILHO” é esta passagem onde o sangue está sendo derramado no asfalto negro que todos nós queríamos apenas como fator de progresso e desenvolvimento. No entanto, a juventude, na sua louca fobia de nada temer, vai fazendo desta rodovia do progresso, a RODOVIA DA MORTE.
Carros passam em desabalada correria, nos volantes, esta juventude inquieta e buliçosa que, irrefletidamente, deixa no lar a Mãe, o Pai, os irmãos, em inquietudes desnecessárias. O preço do progresso não precisa ser tão caro assim, em que vidas em plena florescência se esvaiem unicamente pela irrefleção de jovens que não temem o perigo da máquina que está matando mais do que o cancer.
Patos de Minas ficou chocada com a morte de Alaor e Ricardo. Dois jovens amigos. Dois ótimos filhos, mas, que, numa diabrura sem limites, deixaram-se consumir pela volúpia de uma máquina que comia os quilometros do asfalto que tanto acalentavam nossos sonhos de progresso.
Ai estão agora, duas famílias no pranto e na dor, por entes que se foram, em pleno iniciar de vidas que floriam numa comunidade que é jovem também.
“RODOVIA DA MORTE”…
Que une o sul e o norte
Rodando, rodando, rodando…
O carro vai, mais uma morte…
Gente, vamos parar com estas correrias. Vamos deixar que esta rodovia asfaltada seja apenas mais uma etapa para o nosso desenvolvimento e nunca mais um episódio para a dor e o pranto de mães e pais que choram a morte de seus filhos queridos.
“A DOR QUE MAIS DÓI NUM PAI É AQUELA QUE LHE CHEGA ATRAVÉS DA CARNE DOS FILHOS”. (Humberto de Campos)
* 1: Leia “Se der Propina Passa no Asfalto”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fonte: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Botecodobruno.wordpress.com.