IMPACTOS AMBIENTAIS NAS MARGENS DO RIO PARANAÍBA EM 2003

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CURSO DO RIOAs matas ciliares são formações vegetais que se seguem ao percurso dos rios, possuindo um solo úmido e com grande presença de material orgânico. Protegem as margens dos rios do contato direto com as chuvas, impedindo a lixiviação, promovendo a redução de perdas de solo, a erosão e o assoreamento dos mananciais. Absorvem e interceptam as radiações solares, contribuindo para estabilização térmica dos pequenos cursos d’água e aumentam os refúgios e fontes de alimentação para as faunas silvestre e aquática.

O desmatamento ciliar provoca a redução do nível do lençol freático, o aumento do material em suspensão e o assoreamento dos mananciais, com diminuição do volume e da qualidade de água para o consumo humano. A Lei Municipal nº 2.870/91, em seu artigo 1º, prevê que a preservação permanente para as margens do Rio Paranaíba deve abranger uma faixa de 100 metros de cada lado, ao longo de toda sua extensão no território do Município. De acordo com o artigo 3º, é proibido o corte total ou parcial destas áreas ou de qualquer forma de exploração dos recursos naturais que venha causar desequilíbrio ao meio ambiente.

Nas margens do Rio Paranaíba, de maneira geral, a ocupação humana urbana é intensa tendo consequências de ordem ambiental e social para a população. No ambiente, há o agravamento pelo desmate, interferindo negativamente no ciclo hidrológico, tendo influência nas condições climáticas, favorecendo a erosão e o assoreamento do rio e diminuindo a oferta de água para consumo. Sendo o Rio Paranaíba o principal manancial de captação de água e receptor de esgotos para a região de Patos de Minas, são necessários estudos técnico-científicos para conservação e recuperação do rio em geral.

A mata ciliar do Rio Paranaíba tem sido suprimida por diversos fatores resultantes de atividades humanas. Ao longo da margem direita, onde há urbanização, não há presença de cobertura vegetal e, na margem esquerda, onde há atividades agropecuárias, a cobertura vegetal está visualmente degradada.

No mês de novembro de 2003, foi mapeada toda a região do Rio Paranaíba no perímetro urbano com o auxílio de mapas em livros e na internet, por fotografias registradas em GPS e através da visualização “in loco”, sendo evidenciada toda a faixa vegetal que margeia o rio e medida quando possível. Os fragmentos de matas ciliares foram divididos por bairros que margeiam o rio, sendo analisados os seguintes parâmetros: delimitou-se a área ocupada pelos estratos herbáceos, arbustivos e arbóreos, fazendo a contagem de todos os indivíduos e, quando possível, medindo o diâmetro basal das plantas; também foi medida a área de sombreamento arbóreo. Foi analisado o nível de degradação ambiental relacionado com a presença de agentes poluentes e de poluição, analisando a presença de emissários de esgoto, de animais em decomposição e a presença comum de dejetos de lixos. Através da medição desempenhada na montagem do mapa de presença vegetal na margem do rio, foi analisado o cumprimento da lei relacionada à área de preservação ambiental estabelecida pelo Município.

Ao percorrer o leito do rio, foi mapeada visualmente e, quando possível, medida com trena toda a presença de mata ciliar, sendo esta dividida por bairros, sendo evidenciada a largura máxima da mata em cada bairro e cobertura residual que se segue à margem do rio, sem presença de clarões, analisadas em porcentagem.

Os bairros Jardim Paulistano e Santa Luzia apresentaram os menores índices de comprimento e largura de mata ciliar; já os bairros Várzea e Santo Antônio apresentaram a maior largura, em duas curvas do rio; os demais bairros mantiveram um padrão de presença de degradação. A maior faixa de conservação da mata foi de aproximadamente trinta e cinco metros de largura em uma curva do rio, no bairro Santo Antônio.

A existência de vegetação ciliar, principalmente do estrato arbóreo, está condicionada ao relevo que margeia o rio, ou seja, quase não há presença de matas ciliares em relevo plano, sendo encontrada apenas em algumas partes do relevo íngreme acondicionada aos esbarrancados. São encontradas em todo o percurso do rio plantações ou pastagens atingindo a sua borda, sem presença de cobertura arbórea, devido ao desmatamento extremo e acentuado. Por esse motivo, são evidenciados processos erosivos, que atuam principalmente na época das cheias, causando os desbarrancamentos. O problema gerado é notável: são encontradas várias árvores secas dentro do leito do rio, sendo estas arrastadas pelo escorregamento de porções da barranca onde se encontravam afixadas. Foram encontradas pelo menos duas árvores em pé, dentro do leito do rio, devido ao escorregamento recente da barranca.

PARANAÍBA 3A identificação das espécies foi feita basicamente pelo reconhecimento visual das mesmas com a ajuda de técnicos do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que possuíam um conhecimento prévio sobre as várias espécies, devido à prática em trabalhos de controle da exploração florestal na região. Das espécies desconhecidas, foram coletadas amostras como folhagem, cascas, presença de frutos e flores. Estas amostras foram levadas para o UNIPAM e posteriormente identificadas com a ajuda do professor Dr. Regildo Márcio Gonçalves da Silva, especialista em Botânica.

Das espécies arbóreas encontradas na margem do rio, as mais frequentes, encontradas em quase todos os bairros, foram os Angás (Inga sp) e as Gameleiras (Ficus sp), sendo estas encontradas desde plantas pequenas até arvores formadas com extratos superiores, além de Jatobá do Mato (Hymenaea courbaril var stilbocarpa), Pau D’óleo (Copaifera lansdorffii) e bambus (Bambusa sp.). Só foram evidenciados dois Jacarandás (Machaerium sp.) no bairro Jardim Paulistano.

Foi encontrada em todo o percurso grande quantidade de dejetos de lixos, de animais mortos e também a presença de emissários de esgotos, em sua maioria, clandestinos. Estes são precursores de animais peçonhentos e transmissores de doenças, o que representa um perigo para a população ribeirinha.

Em todo o percurso no perímetro urbano, foi evidenciado um elevado nível de poluição visual relacionada com a presença de emissários de esgotos, entulhos de lixos, presença de animais peçonhentos e causadores de doenças, além de animais mortos, já em decomposição. Nas proximidades do matadouro municipal, foi encontrado um emissário de esgoto escorrendo diretamente no barranco, agravando o nível de lixiviação do local, além da presença do córrego do matadouro, sendo conhecido pela população local por córrego de sangue, devido à elevada quantidade de sangue animal despejado diretamente no rio.

Outro local de situação alarmante é no bairro Copacabana, onde a deposição de sólido trazida pelo córrego Água Limpa forçou o Rio Paranaíba a mudar o seu curso, chocando diretamente no barranco e causando desbarrancamento, o que tem provocado um elevado nível de assoreamento no local.

A dificuldade encontrada no desenvolvimento deste trabalho se relaciona à elevada distância percorrida pelo Rio Paranaíba no perímetro urbano de Patos de Minas, sendo uma região com presença de dejetos de lixos por todo o percurso, dificultado a passagem, além do perigo de presença de animais peçonhentos ou transmissores de doenças. Analisar a mata ciliar em todo a sua extensão torna-se um trabalho cansativo e amplo. Devido a esse fato, não foi analisada a copa das árvores no que se refere a seus padrões de volume, de largura e de altura, além do diâmetro basal das plantas, que se tornou inviável pelo alto número de árvores analisadas. Outra dificuldade se relaciona ao período de cheia do rio, sendo este do final de novembro, persistindo até maio, o que dificultou consideravelmente a transição na margem do rio.

A degradação das matas ciliares no perímetro urbano de Patos de Minas é alarmante, sendo que o rio é totalmente dependente de suas matas ciliares, e a população de Patos de Minas, dependente do Rio Paranaíba. A falta de informação e de interesse em reflorestar essas áreas faz com que o problema e suas consequências tenham dimensões cada vez maiores. Se a população e as entidades responsáveis pela fiscalização do rio não tomaram precações urgentes, o Rio Paranaíba estará condenado ao extermínio, afetando rigorosamente não só a cidade de Patos de Minas, mas também boa parte do Brasil.

* Fonte: “Impactos Ambientais Nas Margens do Rio Paranaíba no Perímetro Urbano de Patos de Minas-MG”, de Geraldo Marins Neto (Graduando do 6º Período de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Patos de Minas e bolsista do IV PIBIC) e Celine de Melo (Professora Adjunta do Centro Universitário de Patos de Minas e da Universidade Federal de Uberlândia e orientadora da pesquisa).

* Foto 1: Showmystreet.

* Foto 2: Atlasdasaguas.ufv.br.

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