A chegada do protestantismo a Patos de Minas data de 1889, com os casais John Thomas Smith/Eliza Jane Smith e Jorge Cramer/Maria Cramer. Eles eram ingleses e vieram do Rio de Janeiro. No mesmo ano, um casal da região de Cantagalo, no Estado do Rio, chegou a Patos de Minas: Saint-Clair Justiniano Ribeiro e Francisca Beatriz Ribeiro. Eles estavam interessados no protestantismo e em contato com os protestantes ingleses professaram sua fé. As três famílias reuniam-se aos domingos para a celebração do culto, sob a direção do pastor Smith e também faziam a pregação da palavra entre o povo patense.
A Sra. Smith assumiu a direção da Escola Municipal do Sexo Feminino. Em 1896 funcionavam classes com 41 alunas. Dentre as disciplinas do currículo básico (leitura, gramática, história, aritmética e ciências) estava a “Lições de Cousas”. Havia também trabalhos manuais com agulhas. O asseio, a educação e boas maneiras das alunas impressionavam a todos, inclusive os inspetores. Ela ficou na direção da escola até 1898.
Com a presença das famílias protestantes e a visita esporádica dos primeiros missionários norte-americanos, dentre eles Charles Morton, as primeiras conversões em Patos de Minas não tardaram: João Camilo da Cruz, João de Barros e Silva, Francisco Tolentino, Francisco Amâncio e Maria Carioca Amâncio. Posteriormente converteu-se Dr. Antônio Dias Maciel, João Pacheco Filho, Américo Coelho, Oscar Gomes e João Evangelista Gonçalves.
O casal Smith permaneceu em Patos de Minas até 1899. Saint-Clair Ribeiro mudou-se para Lagoa Formosa em 1893 e foi um dos responsáveis pelo início da Igreja Presbiteriana da cidade, uma das mais antigas do Alto Paranaíba cujo templo foi inaugurado em 1928. Então, o trabalho religioso na cidade de Patos de Minas ficou nas mãos do Sr. João Camilo da Cruz. Depois de Charles Morton, outros missionários estiveram em Patos de Minas, dentre eles o Revdo. See, André Jensen e Robert Daffin da WBM, o Revdo. Alberto Zanon da IPB entre 1909 e 1922 e Alva Hardie e Eduard Lane novamente pela WBM, após 1923.
Com a morte de João Camilo em 1905, João de Barros e sua esposa Rita, assumem a direção do trabalho, passando os cultos a serem realizados em sua casa, onde logo depois é fundada a escola Dominical e pouco depois, em virtude do crescente número de presentes, os trabalhos passam a se realizar em uma residência reverentemente chamada de “Casa de Oração” situada na Rua Olegário Maciel.
Outro importante personagem da história da Igreja Presbiteriana em Patos foi o Dr. Antônio Dias Maciel. Estudante ginasial do Instituto Gammom em Lavras ele foi influenciado pelos ideais religiosos presentes naquele colégio. De volta a Patos de Minas, as novas ideias do estudante provocaram grande reboliço na sociedade patense, pois o moço era Antônio Dias Maciel, filho do Cel. Farnese Dias Maciel e sobrinho do Dr. Olegário Dias Maciel, que na ocasião era presidente do Estado. O jovem não escondia suas convicções e começou a tomar parte no trabalho evangélico, que se realizava em casa de João de Barros. Sua atitude era olhada com desagrado pelos próprios patenses, devido ao receio de que a questão religiosa prejudicasse o prestígio político da família. Ele, porém, somente cuidou de atender aos reclamos de sua consciência, enfrentando com coragem os preconceitos e as perseguições que começavam a surgir¹.
Com a conversão do Dr. Antônio Dias Maciel em 1915, a Igreja Presbiteriana local passou a contar com maior prestígio social, sendo que ele era advogado e membro de uma família influente não apenas na cidade, mas em todo o Estado de Minas Gerais. Por sua influência, muitas pessoas da elite patense converteram-se ao presbiterianismo. Embora Patos fosse a menor congregação sob a jurisdição da Missão Oeste do Brasil, era grandemente entusiasmada e muito liberal para com a causa do “bom Salvador”.
A cidade foi sempre considerada reduto forte do catolicismo, do qual uma das famílias tradicionais do município, os Borges, representavam a principal coluna. Os Borges eram, e são até os dias de hoje, irreconciliáveis inimigos políticos dos Macieis, a facção que sempre dominou. Dada a influência dos Borges no município e na sociedade local, com o seu apego ao catolicismo, o ambiente sempre foi desfavorável à implantação do protestantismo, embora do lado da política dominante, a dos Macieis, houvesse mais liberdade e tolerância.
O Dr. Antônio Dias Maciel ajudava nos cultos e pregações e foi o diretor da Escola Dominical, contando com uma frequência de 95% dos matriculados. As coletas (dízimo) dessa congregação eram as mais altas do campo da WBM, embora fosse a menor congregação. De “espírito liberal” e preocupado com a questão educacional aliada à causa religiosa, fundou em 1929 o Instituto Sul-Americano, uma escola evangélica com internato e externato para a educação dos jovens da igreja.
Em 1932, chegou a Patos de Minas Maria de Melo Chaves (ex-professora do Patrocínio College) e seu esposo, o seminarista Carlos Chaves. Eles foram convidados pelo Dr. Antônio Dias Maciel para dirigir o Instituto Sul-Americano e para ajudar no trabalho religioso da Igreja. A escola funcionava ao lado da Casa de Oração. A respeito da congregação de Patos de Minas, Mariinha de Melo fez a seguinte observação: Após o primeiro culto, celebrado depois de nossa chegada, ao encerrar-se a reunião, Dr. Antônio começou a apresentar-nos aos crentes. Fiquei assustada, pois a igreja era composta, na maior parte, de homens formados e de destaque na sociedade local. Eram tantos os doutores, que comecei a ficar tonta.
Nesse sentido, a congregação patense diferencia-se um pouco da característica essencialmente rural da WBM. O presbiterianismo em Patos de Minas teve início na própria sede do município, e apenas mais tarde no meio rural: Pilar nos anos de 1940, e Chumbo nos anos de 1950. Os membros da Igreja eram homens formados, de prestígio na sociedade local e de posses, em contraste com o homem do campo, pequeno proprietário de terra ou agregado, que não possuía meios nem mesmo para a instrução dos filhos.
O Instituto Sul-Americano, por ser uma escola protestante provocou a comunidade católica da cidade e transformou-se em pretexto para a família Borges prejudicar politicamente a família Maciel. O Presidente do Estado de Minas Gerais, Dr. Olegário Dias Maciel, para não perder os eleitores nem o prestígio político entre o povo, inclusive os “capitalistas” da época, propôs ao sobrinho o fechamento da escola protestante, abrindo em seu lugar uma escola oficial do Estado. Assim, do Instituto Sul-Americano, surgiu, em 1932, a Escola Normal, depois denominada Colégio Estadual Professor Antônio Dias Maciel, pois a escola ficou sob sua responsabilidade. O Dr. Antônio Dias Maciel também influenciou a conversão de diversas pessoas nas congregações de Carmo do Paranaíba, Lagamar, Patrocínio, Uberlândia e Araguari, onde sempre fazia pregações.
Em 1938 chegou a Patos de Minas o Revdo. Estevão Sloop, o primeiro pastor a residir na cidade. Do seu trabalho resultou a construção do templo em 27 de junho de 1947, quando foi organizada a Igreja com cento e quinze membros comungantes. O Revdo. Estevão além de pastorear a Igreja de Patos de Minas também ficou responsável pelas comunidades rurais da região. Antes dele, as congregações dessa região recebiam a visita dos missionários apenas duas vezes por ano. Agora, sob sua responsabilidade, o campo era visitado mensalmente e a Igreja Presbiteriana na região obteve considerável crescimento de membros através da constante assistência religiosa e educacional, com a fundação das escolas paroquiais ao lado das igrejas, ou funcionando dentro dos próprios templos. O Revdo. Estevão ficou em Patos de Minas até 1942, retornando no ano de 1948. Ele foi responsável pela extensão do campo de trabalho até Paracatu, Unaí, Vale do Urucuia e Brasília. De 1943 a 1946, ele foi substituído pelo Revdo. Wilson Castro Ferreira. E de 1947 a 1948 passou a residir em Patos de Minas o Revdo. Augusto da Silva Dourado, um dos responsáveis pela criação da Escola Evangélica de Pilar, distrito de Patos de Minas. De lá o presbiterianismo difundiu-se para os municípios de Lagamar e Coromandel.
* Fonte: Trabalho Religioso e Educação: A Disseminação do Presbiterianismo na Região do Alto Paranaíba-MG (1884-1947), de Viviane Ribeiro (UNIPAC), Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia, e Michelle Pereira da Silva Rossi (UFU), Doutoranda em Educação e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia.
* 1: Leia “Fúria Religiosa do Monsenhor Fleury”.
* Foto 1: Federacaoprtm.blogspot.com (símbolo oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil).
* Foto 2: Do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.