PERDIGÃO: VINHA… MAS NÃO VEIO! − 4

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A notícia já foi publicada nos jornais das principais capitais do país. Elas dizem que a Sadia e a Perdigão estão desativando suas unidades de abate de frango no Estado de São Paulo, e que já aprovou a demissão de 774 pessoas. As informações esclarecem que a concorrência dos abatedouros clandestinos e a necessidade de se tornarem mais competitivas levaram as duas maiores empresas de processamento de frango do País ao redirecionamento da produção para Santa Catarina, Paraná e região Centro-Oeste. E isso é bom ou é ruim para Patos de Minas?

A região convive há mais de ano com a expectativa de que a indústria Perdigão e autoridades municipais se manifestem quanto à instalação de um abatedouro de aves na cidade, compromisso que foi assumido pela empresa, pelo município e pelo Estado em documento assinado durante reunião realizada na capital mineira, no final de 96. Mas o tempo passou e continua correndo, sem que nenhum pronunciamento concreto sobre o assunto chegue ao conhecimento da população. Por essa razão, ninguém melhor que o secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo, Dr. Wando Pereira Borges, para falar sobre a indústria anunciada há mais doze meses como a conquista definitiva que se transformaria em tábua de salvação para o pequeno produtor rural patense.

Qual o compromisso firmado entre Perdigão, município e Estado?

O protocolo assinado no final de 96 determina várias obrigações para os participantes, que são a Perdigão, o Estado e o município de Patos de Minas. Pelo documento, a Prefeitura Municipal assumia o compromisso de adquirir e doar à indústria um terreno com área mínima de cinqüenta hectares. E isso foi cumprido religiosamente, é bom que se frise, para que ninguém tenha qualquer dúvida a respeito. A Prefeitura honrou totalmente a responsabilidade que lhe foi atribuída, pois comprou exatamente a área escolhida pelo pessoal técnico da Perdigão, com 53 hectares, no momento em que foi definida a preferência pelo terreno, e colocou-a imediatamente à disposição da empresa. Sugerimos, inclusive, que a entrega da escritura fosse feita em cerimônia que aproveitaria a realização da Festa do Milho do ano passado, mas o presidente da Perdigão preferiu não vir, argumentando que escolheria numa outra data para a efetivação dessa cerimônia.

O que fez a administração municipal durante esse tempo de espera?

Continuamos mantendo contatos regulares com o pessoal técnico da Perdigão e com o diretor responsável pelo projeto. Mas no final de setembro fomos surpreendidos com a afirmação do diretor institucional daquela empresa em entrevista dada ao jornal Estado de Minas, de que o projeto Patos de Minas nada tinha sido decidido. Então eu enviei para o senhor Nildemar Seches, presidente da companhia, uma carta solicitando maiores esclarecimentos sobre a declaração. Após muita insistência de nossa parte, recebemos como resposta a informação de que a prioridade da Perdigão em 97 era a de completar a modernização das fábricas já existentes no sul do País. Para 98, essa prioridade seria o projeto Rio Verde, em Goiás. Quanto a Patos de Minas, não havia nenhuma definição clara de como o projeto seria desenvolvido.

E depois disso?

Depois disso, ficou acertado que nos reuniríamos com a diretoria da Perdigão, em São Paulo, no dia 14 de novembro. Na oportunidade, após longa conversa com o diretor responsável pelo desenvolvimento de projetos da empresa, tivemos a confirmação do que já nos tinha sido comunicado anteriormente e a confissão de que o atraso no andamento das obras na região Sul teria repercussão em Goiás – já que a equipe de engenharia era uma só -, o que, por sua vez, implicaria inevitavelmente em retardamento no projeto Patos de Minas. Insistimos para que nos fosse dada uma idéia sobre o tamanho do atraso, mas nos foi dito apenas que ele deveria ser superior a seis meses, porque isso já acontecia no sul do País e não havia nenhuma perspectiva de recuperação desse atraso.

O protocolo previa a liberação de financiamentos?

Sim, tanto que em dezembro, recebemos do secretário estadual de Indústria e Comércio, Maurício Campos, um pedido de informação sobre a posição da Perdigão. O secretário esclarecia que a primeira parcela do financiamento concedido pelo BDMG deveria ser creditada na conta da empresa no atual mês de janeiro, mas se caso ela não tivesse condições de utilizar a verba prontamente, não fazia sentido algum deixar o dinheiro parado em uma conta bancária. Remetemos novo ofício para a Perdigão e desta vez a resposta veio com rapidez, repetindo a afirmação de que a prioridade em 98 era o projeto de Rio Verde e confirmando a declaração de que não havia nada de positivo com relação a Patos. Diante disso tudo, ficamos com a grande dúvida: teremos o início do projeto Perdigão no início de 99? Ou ele ficaria para quando?

Qual a sua posição pessoal sobre o assunto?

Penso que a situação atual, da forma como está colocada, não permite que se pense na possibilidade de que, a curto prazo, a Perdigão venha se instalar em Patos. A menos, é claro, que as autoridades federais da área resolvam interferir em benefício da cidade, pois o poder de pressão do governo é muito grande e sensibiliza com facilidade as empresas que dependem de boas relações ministeriais. Se isso efetivamente acontecesse, a Perdigão estaria aqui em Patos amanhã. Mas… vamos analisar o assunto pela minha lógica de empresário: o investimento em Rio Verde é grande e o abatedouro de aves que vai ser construído lá é o dobro do projetado para Patos. Não acredito que eles tenham um crescimento de mercado capaz de absorver o aumento da produção de duas novas fábricas, em um mesmo momento. A Perdigão exporta grande parte do que produz e alguns dos mercados compradores estão vivendo situações críticas. Eu vejo com realismo – e não com pessimismo – o quadro atual da economia mundial e por isso considero como lógica a decisão da empresa quanto ao adiamento dos projetos. E essa decisão é simplesmente empresarial: os dois projetos não oferecem a garantia de escoamento normal da produção e por isso precisam ser repensados. Nós já esgotamos nossa capacidade de lutar pelo abatedouro de Patos de Minas. Há necessidade, então, de que um poder mais alto que o nosso também interfira em busca de uma solução política, ou seja, se algo vai ser adiado, então que seja o do lado de lá da fronteira. Mas, infelizmente, isso não está acontecendo.

Existem outros comentários a respeito do assunto?

Eu sei que existem, mas não acredito neles. Não dou o menor crédito para o zunzum a respeito de interferência política ou troca de favores políticos. Existe, na verdade, um problema econômico. Em 96 a situação era tranquila; em 97, tivemos muitas perturbações; em 98, ela ainda é uma incógnita. Daí, torna-se muito fácil compreender a necessidade da adaptação de projetos de grande porte a uma nova realidade mundial, e não local. Por outro lado, porém, não podemos esquecer que o que está em jogo é o interesse de um município que congrega mais de uma centena de milhar de habitantes, o que deveria motivar o interesse e disposição de luta de todas as forças capazes de atuar em favor do nosso bem comum. Nós já fizemos o que era possível, mas…

O protocolo assinado pelas partes envolvidas é um bom documento?

O protocolo é bastante detalhado e cria diversas obrigações para as partes nele envolvidas, como o Estado, através do BDMG, da Copasa, Cemig e DER, a Prefeitura Municipal e a Perdigão. Mas não estabelece qualquer tipo de penalidade para quem não cumprir sua parte no acordo. Acho, inclusive, que o documento é muito bom para a empresa, pois com o que se concede a ela faltou pouco para que nós nos víssemos obrigados a entregar uma fábrica pronta à Perdigão, aqui em Patos. Mas, volto a repetir, existe o problema de mercado. Com o real sobrevalorizado, fica difícil para o exportador brasileiro competir com moedas asiáticas subvalorizadas. A situação que o mundo está vivendo pode explicar o adiamento decidido pela indústria, mas não nos deixa conformados com o fato de ter sido o projeto Patos de Minas o escolhido, quando temos tudo para evitar que isso aconteça. Lamentamos que essa situação só nos permita a conclusão de que a Perdigão até que pode se estabelecer em Patos de Minas. Só não sabemos quando…

* Fonte: Texto publicado com o título “Perdigão pode vir, mas não se sabe quando” e subtítulo “Vários são os motivos que transformam o projeto em uma incógnita” na edição n.º 66 de 01 de fevereiro de 1998 do jornal O Tablóide, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Institucional.

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