VICENTE NEPOMUCENO ATÉ 2013

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VICENTEVicente Nepomuceno nasceu em Catiara no dia 27 de setembro de 1914, filho de Estevão Antonio Nepomuceno e Cornélia Regina de São José. Do seu casamento com Maria de Lourdes Nepomuceno nasceram oito filhos: Mafalda, Terezinha, Consuelo, Valério, Romero, Júlio César, Leonardo e Luiz André.

Vicente fez o curso primário em Catiara, distrito de Serra do Salitre, trabalhando depois, durante 26 anos, como farmacêutico prático ajudando seu pai no mesmo pequeno povoado. Mais tarde, já em Patos de Minas, foi sócio da Lavanderia Cometa, da Casa do Fazendeiro e da Frutolândia Lanches.

Foi em Catiara, ainda, que Vicente Nepomuceno iniciou sua vida artística, decorando igrejas e confeccionando presépios. “Aprendi a fazer flores com minha mãe”, diz ele, e enfatiza: “A Igrejinha de Catiara, eu projetei, baseando tudo no olho.” A partir de 1952, com a mudança de sua família para Patos de Minas, passou a trabalhar como vitrinista e vendedor na “A Patense”, loja comercial de Lafaiete Pacheco. Porém, o longo caminho percorrido pelo artista foi todo assinalado por muitos momentos de grande destaque, dentre os quais podem ser mencionados: 1.º Prêmio, em 1969, do 4.º Torneio da Primavera acontecido em Belo Horizonte, que contou com a participação de 43 carros alegóricos. O tema explorado foi “A Rosa”; Como carnavalesco foi por 3 anos consecutivos o 1.º colocado em Acesita-MG, no Vale do Aço, pela escola de samba “Os Bolas Brancas”, tendo colaborado, também, na confecção de alegorias para a escola de samba de Uberlândia; Sua participação no teatro começou igualmente em Patos de Minas, e ele então foi cenógrafo, figurinista, ator e diretor, sendo fundador do primeiro grupo de teatro patense, o TAPA (Teatro Amador Patense). As peças teatrais apresentadas foram “Os Transviados”, “Testemunhas de Acusação” e “A Cigana me Enganou”. Em 1970, juntamente com seus filhos e João Marcos Pacheco, criou o CET (Centro de Estudos Teatrais) produzindo as peças “Édipo Rei” e “O Milagre de Anne Sullivan”; Como Diretor Artístico e Cenógrafo de espetáculos teatrais, foi responsável por sucessos como “A Grande Estiagem” e “O Embarque de Noé”; As peças infantis foram muitas: “Chapeuzinho Vermelho, “Pluft, o Fantasminha Camarada” e “Maroquinhas Fru-Fru”, além de outras de autoria de seus filhos, como “Quarto Morto”, “Cidade do Absurdo” (Romero Nepomuceno), “Pedacinho de Minas” e “Confusões de um Natal Feliz” (Consuelo Nepomuceno). Grande colaborador das artes cênicas, foi cenógrafo nos festivais de dança de Patos de Minas e região.

Foi a partir da 3.ª Festa do Milho, em 1960, que Vicente Nepomuceno começou a mostrar a grandiosidade de seu trabalho. Convidado por Anávio Bras de Queiroz para idealizar e construir o carro alegórico da candidata Vera Nunes de Castro, patrocinada pela Agência Chevrolet de Patos de Minas, Vicente deslumbrou os patenses com um conjunto onde um pato puxava carruagem simbolizada por uma espiga de milho levando no alto a linda moça que se transformaria em Rainha da Festa. Do assoalho do carro cresciam pés de milho, alusão específica à abundância de nossa produção agrícola. Sobre essa primeira participação na Festa, Anávio comentou: “Vicente Nepomuceno foi um achado para a Festa do Milho”. Eurípedes Pacheco, o Pai Vaca, também se manifestou: “Não vai mais haver Concurso de carros alegóricos. Vicente, de agora em diante você está contratado”.

Foi dessa forma que o mestre continuou colaborando com os promotores de nossa festa maior, e hoje, aos 99 anos, ele se sente orgulhoso e feliz pelo trabalho realizado. Se no princípio esse trabalho era inspirado em coisas da terra, com ideias nascendo e criando forma em desenhos, com o tempo foi se realizando com base em tema proposto antecipadamente. Como diz o artista: “vou à igreja, visito o Santíssimo e peço inspiração. Meu principal ajudante é o travesseiro: deito e fico pensando que em 10 dias posso fazer um carro alegórico. Espero que a juventude não despreze a arte e que alguém possa dar continuidade ao meu trabalho”. Que utiliza preponderantemente materiais como ferragem, madeira, gesso, isopor e espuma. Vicente relembra: “Fiz o cartaz da 30.ª Festa Nacional do Milho/1988, em óleo sobre tela”.

Entre 1961 e 2002, Vicente Nepomuceno confeccionou por volta de 250 carros alegóricos, todos levando a marca inconfundível de sua criatividade, a maioria procurando valorizar a agricultura e pecuária, sustentáculos da economia regional, e o da coroa giratória, tradicional e por diversas vezes trabalhado com o grão de milho em seu estado natural, foi um dos mais suntuosos já elaborados pelo artista. Por isso, muitas foram as cidades que o convidaram para abrilhantar e embelezar suas festividades, como Belo Horizonte, Uberlândia, Acesita, Patrocínio, Paracatu, Carmo do Paranaíba, Presidente Olegário, Vazante, Monte Carmelo e Lagoa Formosa, em Minas Gerais, além de Itaberaí, em Goiás.

Vicente foi um autêntico autodidata. Fez várias telas, que estão entre seus familiares. E as imagens de gesso? Quantas restaurou? Ele não sabe … E hoje, ainda continua esta tarefa. Mais uma obra, na Catedral de Santo Antônio a imagem de Cristo Crucificado no altar central.

Vicente Nepomuceno já recebeu diversas homenagens. Criou e modelou o monumento “As 3 Graças”, que hoje encima o chafariz construído na remodelada Praça Antônio Dias, réplica, em alumínio, de um carro alegórico apresentado na 37.ª Festa Nacional do Milho, em 1995. Com essa obra o artista realiza um velho sonho, e diz emocionado: “vou deixar um trabalho para os meus descendentes”. Parabéns, por isso, ao Dr. Jarbas Cambraia, Prefeito Municipal, que presta em praça pública uma merecida homenagem ao mestre e artista. E mais: Título de “Cidadão Honorário de Patos de Minas” em 1997; Homenagem no Espaço Cultural Banco do Brasil em 1997 pela Casa da Cultura; Sala de Espetáculos “Vicente Nepomuceno” no Teatro Municipal Leão de Formosa inaugurado em 11 de dezembro de 2000; A Usina Cultural no alto da Casa das Meninas leva o seu nome; Recebeu as homenagens da Unart em1998; Artista do Século XX em 2000; Foi eleito o “Rei do Pantanal” na turma Festinvita, em viagem pelo Rio Paraguai; Homenagem no Projeto Raízes em 2003; Em 2008 recebeu o Troféu do Jubileu de Ouro da 50.ª Festa Nacional do Milho; Em 2011 foi homenageado no 1º Balaio de Arte e Cultura.

No Memorial Romero Queiroz Pereira, uma trajetória de sua vida é o “Espaço Vicente Nepomuceno”, inaugurado pelo Sindicato Rural em 2002. Fez 3 obras doadas ao Acervo do Memorial: Tropeiro, escultura em tamanho natural;  Exaltação ao Milho e Mãe Terra. Sobre a nossa Festa máxima, Vicente deixa a mensagem: “É preciso valorizar o trabalho do artista, resgatar nossa história. A originalidade da Festa do Milho precisa ser preservada”.

Vicente Nepomuceno é um dos maiores valores culturais que Patos já teve, não só como ser humano, mas também pela riqueza de sua alma artística, pela simplicidade, humildade e perseverança, dotes que tornam inapagáveis o registro de sua presença, hoje e sempre, como um dos maiores colaboradores da Festa Nacional do Milho. Atravessou o tempo pintando o sete, pintando com as mãos, pintando com os olhos, cantando com Deus.

NOTA: Vicente Nepomuceno faleceu em 28/10/2019.

* Fonte: Texto baseado em duas matérias de Marialda Coury, uma publicada na edição n.º 04 do jornal O Tablóide de 16 de junho de 1996 e a outra com a foto publicada na edição n.º 1066 do jornal Folha Patense de 28 de setembro de 2013.

* Foto: Jornal virtual PatosHoje.

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