Antes do pacote do Sarney havia um grupo que se aglomerava numa determinada esquina da Major Gote, fazendo daquele ponto uma espécie de financeira ao ar livre. Ali, os incautos desajustados iam atrás de soluções para os mais diversos problemas gerados por insuficiência de recursos e quase sempre deixavam um cheque pré-datado ou nota promissória como comprovantes das dividas que contraíram para tapar os rombos de seus orçamentos familiares e comerciais.
Nada estaria errado até aí, se a pessoa que recorria àquele grupo não estivesse pagando por seus infortúnios, escabrosas porcentagens a título de juros e, segundo dizem as más linguas, naquele ponto, chegaram a cobrar até 20% ao mês. Isto quer dizer, que antes das medidas de estabilização aquele ponto era nada mais que um balcão de comércio onde se vendia caro uma mercadoria chamada cruzeiro.
O ponto estava se tornando tão conhecido que não faltavam comentários irônicos de que aquela esquina era a principal concorrente da rede bancária da cidade e houve até quem apelidou o local como o ponto da turma do Injeitei. Este apelido se deu pelo fato de que era normal os emprestadores de dinheiro dizer aos pretendentes que havia “injeitado” um determinado valor de juros sobre a quantia que lhe pedissem, afim de sondar a possibilidade de receber uma porcentagem maior, o que quase sempre conseguiam.
Foi muito bom notar que depois do pacote econômico a Turma do Injeitei está praticamente dissolvida. Isto quer dizer que o presidente José Sarney conseguiu atingir com seu cruzado as manietagens daqueles que utilizavam a inflação como forma de explorar suas vitimas. Aquele ponto já não é o mesmo e provavelmente muitos dos que ali ficavam estão desorientados pela cidade, preocupados com os juros que na certa não irão receber ou procurando conviver com uma virtude chamada trabalho. Coisa que há muito tempo perderam ou simplesmente nunca tiveram. Sendo assim, viva o Brasil, viva o José Sarney e o alegre fim da Turma do Injeitei.
* Fonte: Texto publicado na edição de 29 de março de 1986 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Blogsoestado.com, meramente ilustrativa.