Fiscal do Sarney é um título popular que se refere ao controle de preços no comércio varejista brasileiro pelo cidadão consumidor. Este título foi instituído nacionalmente, com menção na mídia, por ocasião do lançamento do Plano Cruzado, em 1.º de março de 1986, pelo então presidente do Brasil, José Sarney. Segundo o presidente, “cada brasileiro e brasileira deverá ser um fiscal dos preços, um fiscal do presidente para a execução fiel desse programa em todos os cantos desse país”. Dessa forma, surgiram os chamados Fiscais do Sarney com uma cartela de preços do governo em mãos – muitos usando um broche verde-amarelo nas camisas com os dizeres: “Eu sou fiscal do Sarney” – denunciando ao governo os pontos de venda que aumentassem os preços de seus produtos. Em muitos casos chamavam a polícia, que decretava ordem de prisão aos responsáveis pela remarcação dos preços e a interdição do estabelecimento comercial. Entretanto, o plano foi um fiasco: após um curto período de euforia de consumo e de aquecimento econômico, muitos produtos começaram a sumir das prateleiras e os fornecedores passaram a cobrar ágio; e assim, a inflação voltou a disparar.
Um artigo publicado na edição n.º 155 de 31 de janeiro de 1987 da revista A Debulha nos conta que os Fiscais do Sarney de Patos de Minas entraram em ação propiciando a vinda de fiscais da Sunab e da Polícia Federal para por um fim ao abuso de muitos comerciantes:
Quem pensa que a Sunab parou de fiscalizar os preços pode ir mudando de idéia. Dois agentes do órgão governamental, juntamente com um da Polícia Federal, estão em Patos de Minas, visitando o comércio local em busca de irregularidades que, a essa altura do campeonato, são fáceis de serem encontradas.
Na sexta-feira, 30, a Revista A Debulha recebeu a visita de um informante, que nos deu informações e pediu sigilo de seu nome. Ele nos contou que diversos estabelecimentos comerciais de Patos de Minas já haviam sido visitados pelos agentes da Sunab e Polícia Federal.
Todavia, não pôde adiantar sobre as faltas cometidas, pois elas terão que ser julgadas; nem sobre as penalidades, pelo mesmo motivo. A observação feita pelo informante, de que alguns estabelecimentos, ao tomarem conhecimento da presença em Patos da Sunab, fecharam as portas sob o protesto de “balanço”, confirma a existência de abusos – crimes – contra a economia popular.
Apesar de ter citado todos os estabelecimentos visitados e autuados por praticarem preços acima dos permitidos, o nosso informante ressaltou que estes estabelecimentos terão que responder judicialmente pelas infrações. Por isso mesmo, fica aqui registrada a atuação dos “fiscais oficiais do Sarney”, sem o nome dos estabelecimentos comerciais visitados, que divulgaremos ao futuro, caso sejam punidos por decisão da justiça.
Até que os fiscais voltem para Brasília, temos certeza de que muitos comerciantes vão fechar para “balanço”, reabrindo no dia seguinte com preços inferiores aos praticados no anterior.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: Wikipédia e Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Laranjasnews.com.
