Quando Mirtes e Valdemar se casaram, ambos tinham 30 anos. Coincidentemente, os dois viúvos, sem filhos, que se conheceram por acaso numa festa de aniversário de amigos em comum. Dois meses depois, não tiveram dúvidas em juntar suas escovas de dentes, formalizando a união no civil e no religioso, esta numa linda cerimônia ocorrida na Igreja do Rosário. Após dois anos, nasceu o filho que tanto sonhavam, uma linda menina batizada com o nome de Maria, homenagem dos pais fervorosamente católicos à mãe de Jesus por lhes ofertarem a grande felicidade.
Que gracinha era a bebê Maria. Cresceu sob as bênçãos da mãe de Jesus e desde novinha frequentou a Igreja do Rosário com os pais. Para ela, o tempo foi passando sadiamente. Chegando aos 12 anos de idade, estudiosa e ótima aluna na Escola Estadual Abner Afonso, passava horas em casa no seu quarto, estudando, lendo livros e usando o celular somente quando necessário. Televisão, com aquela porqueira de programação, nem pensar. Facebook, Instagram e outras, só de vez em quando para saber das novidades. Óbvio, a Maria tinha seu grupo de amizades naquela sua faixa etária, com alguns mais e outros menos em idade, mas sempre imbuídos de seus ideais religiosos tão bem pregados pelos progenitores. Era comum a turminha se reunir em sua casa para trabalhos de escola.
Maria chegou aos seus 14 anos de idade. Aparentemente, tudo transcorrendo normalmente na família, popularmente tudo dentro dos conformes. Mas, eis que Maria começou a apresentar dissabores de saúde esquisitos, tais como enjoos, tonturas, vômitos e um desejo extremo de comer fígado de galinha frito. Dona Mirtes, preocupadíssima, marcou consulta com um clínico geral, ôpa, agora não é mais clínico geral e sim generalista, seu primo Alfredo e conhecedor de certas peraltices de sua prima de 2.º grau. Após ouvir sobre os sintomas da jovem, o doutor solicitou que ela fosse ao banheiro e fizesse um pouquinho de xixi num potinho apropriado. Feito o teste rápido de gravidez, o doutor perguntou
– Maria, por um acaso você já está namorando?
– Ainda não namorei ninguém, Alfredo, e por isso nem beijei homem algum.
Com a confirmação seríssima da mãe, imediatamente o médico foi até a janela do consultório e lá ficou olhando para o céu. Passados uns dois minutos, a prima Mirtes, estranhando a atitude do primo Alfredo, não aguentou e perguntou:
– Que é isso, Alfredo, ficou doido?
Minha prezada prima Mirtes, até o presente momento isso só tinha acontecido uma única vez, e quando aconteceu, a Estrela de Belém guiou os três Reis Magos até uma manjedoura. Eis que depois de mais de dois mil anos, aconteceu novamente, uma outra Maria virgem, e dessa vez eu quero ver a Estrela indo para sua casa.
Dizem por aí que os primos estão de mal!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.