Época de eleição é a mesmice de sempre: santinhos distribuídos, rostos à mostra com os tradicionais chavões: vou lutar por isso e o escambau, por uma maior segurança, por mais creches, etc. e o mentiroso juntos vamos mudar Patos de Minas. Por que mentiroso? Ora bolas, depois de eleito, nos quatro anos de gestão, o sujeito faz o que quer, quando quiser e se quiser, sem jamais lhe solicitar uma opinião sequer, não importando o sistema de governo. Isso porque, na Ditadura, você não tem nenhuma participação na escolha do sujeito que vai mandar na sua vida. Na Democracia do voto, eis que bacaninha, é você quem escolhe esse sujeito.
As disputas eleitorais eram acirradíssimas por aqui. Tempos do Voto Marmita e dos Coronéis¹. E foi por essas bandas temporais que um aliado do então prefeito Genésio Garcia Roza resolveu lançar sua candidatura à Câmara Municipal. Havia um descampado em frente ao Cemitério Santa Cruz conhecido como Praça do Cemitério². Como o mequetrefe candidato morava nas redondezas, visitou um monte de comércios para anunciar um comício para o outro dia com início às nove horas da manhã na citada praça.
Ele e dois amigos chegaram às seis da manhã, montaram um pequeno tablado de 4 m² e 30 cm de altura e ficaram aguardando os eleitores. Mas a hora do início do comício estava chegando e nada de eleitor, apenas alguns passantes na intenção de visitar o cemitério ou indo para algum afazer. Deu nove horas e nada de eleitor. Resolveu ir até o Bar da Mariquinha ali pertinho, que era de uma prima dele, e ela confirmou que espalhou a notícia para muita gente e que achava que o povo tinha esquecido.
Ficaram os três olhando entre si e reparando nas poucas pessoas que passavam sem prestar muita atenção em três homens em cima de um pequeno tablado. E agora, o que fazer, desmontar o tablado, colocar na camionete e ir embora carregando o vexame? Isso não, jamais! Foi então que o candidato teve uma luminosa ideia. Combinou tudinho com os dois amigos e quando ele deu o sinal os três começaram a gritar o mais alto que puderam:
– Pelamordedeus, me ajuda; pelamordedeus, me ajuda; pelamordedeus, me ajuda…
Sabemos que naquele tempo não havia essas infernais motos e bicicletas motorizadas e muito menos carros com som nas alturas. Portanto, sem muito barulho no ambiente, os gritos dos três só não acordaram os moradores do cemitério, e com isso muitos foram saindo de suas casas, dos botecos e comércios, o povo assustado com a gritaria foi chegando perto do tablado e quando já tinha umas 40 pessoas, por aí, os dois amigos do candidato desceram do tablado dizendo:
– Vamos chegando, gente, que o comício vai começar.
E o candidato começou:
– Pelamordedeus, me ajuda a ser eleito e eu vou fazer muito por essa nossa região.
Falou mais de hora e foi muito aplaudido. E foi eleito com grande ajuda do Genésio. O nome dele? Esqueci!
* 1: Leia “Voto Marmita”.
* 2: Em 24 de abril de 1974, a Lei n.º 1372 denominou o espaço de Praça João Senhorinho, onde durante muito tempo funcionou o Projeto Saci.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.