A crise política ocorrida entre os Borges e os Maciel no ano de 1925 gerou uma série de conflitos violentos. Tudo começou quando o Jornal de Patos, dos Borges (através de Deiró Eunápio Borges), acusou o Chefe do Executivo, Adélio Dias Maciel, de malversação. Durante o ano as rixas foram constantes. Ao final do referido ano, o distrito de Coromandel se desmembrou de Patrocínio, tornando-se independente. Na oportunidade, a Câmara Municipal de Patos entrou em negociações com a Câmara do novo município sobre demarcação de território. Foi motivo para uma nova rixa. Sobre o fato, o Jornal de Patos publicou uma matéria em sua edição de 03 de janeiro de 1926, atacando veementemente o fecho da negociação, com a seguinte manchete: Patos ameaçada de ver sua carta geographica rasgada vergonhosamente, sem um gesto, siquer, de commiseração por quem deveria defender a integridade de seu territorio!!
Uma semana depois, voltou à carga com o texto intitulado Accôrdo de divisas entre Patos e Coromandel, onde acusa o situacionismo de ceder 6000 alqueires de terra ao vizinho com o único propósito de tirar eleitores do Partido Popular:
No mez de Dezembro do anno p. passado, revoltado nosso patriotismo, vimos consummar-se, neste municipio, um facto que, por si somente, faz ressaltar a desorientação da politica dominante nesta terra.
É sabido que uma enorme parte do municipio, contra a vontade do povo patense e do pantanense – este a victima indefesa, foi cedida á villa de Coromandel, mediante um acordo que trouxe nas divisas dos dous municipios uma profunda modificação, alterando-as completamente.
E é um acto tão deploravel este, que não ha pessôa de bom senso que não se convença da nenhuma clarividencia da gestão dos negocios publicos municipaes em Patos.
Ninguem ha que deixe de perguntar: Porque motivo a creação da villa de Coromandel transformou, assim, as tradicionais divisas entre Patos e o ex-districto do municipio de Patrocinio?
Por que é que as divisas antigas não mais servem de base à confrontação entre Patos e Coromandel? Porque agora se recorre ao divisor de aguas de Lages e St. Antonio de Minas Vermelhas, com o sacrificio de 6000 alqueires pata o municipio, embora não se encontre na mesma lei justificativa para a modificação accordada?
Parece fácil a resposta…
Pelo accordo ora firmado entre os presidente de Camara dos dous municipios, um grande contingente de eleitores do Popular não terá de figurar entre os numerosos elementos que já se acham congregados para, unidos, porem fim á combalida politica dominante.
Pelas divisas desse impatriotico accordo, Patos perde uma extensa região que é o Pantano, onde o povo, independente e ativo, repeliu sempre e repele a actuação de uma politica que, ha dezena de annos, vem sendo um pesadelo para todo o povo do municipio.
O situacionismo ficará, talvez, livre de um povo ordeiro e bom, que não servirá de impecilho aos que, desde agora, receiam o veredictum das urnas, tal a onde de sympathia que vem prestigiando a campanha patriotica do P. Popular.
Longe de nós, entretanto, a pretensão de querermos discutir a lei que determina os accordos que se possam fazer entre os presidentes de camaras, em Minas, nos casos de duvida ou incerteza sobre os limites dos municipios circumvisinhos.
O que nos traz indignação não é, pois, a lei, e sim o absurdo do accordo feito pelo presidente da camara municipal de Patos, accordo de que resultou para o municipio o desmembramento de um grande trecho de terra, ligado sempre a Patos por laços commerciaes, politicos e administrativos.
Aferrados a um ponto de vista estreito sobre a arte de governar, pensando que é sempre possível imbair ao povo; obstinados em attentar contra os sentimentos de patriotismo da nossa população, julgando-a disposta a tolerar-lhes indefinidamente a mediocridade enfatuada, os chefes do situacionismo, cégos que querem ser, suppuzeram ter vibrado um profundo golpe no P. Popular, quando cavaram, mais uma vez, o seu proprio desprestigio, revelando-se ao governo e ao povo mineiro como politicos inhabeis e incompetentes…
* Fonte: Edição de 10 de janeiro de 1926 do Jornal de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
Foto: tudodesenhos.com, meramente ilustrativa.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.