BORGES X MACIEL: A CRISE DE 1925 – 1

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Para fiscalisar a canalisação d’água nos districtos de Lagôa Formosa, Santa Rita e Sant’Anna, serviço que devia ter sido effectuado pela Camara Municipal desta cidade de Santo Antonio dos Patos, aqui esteve, em fins do mez de Fevereiro do corrente anno o Exmo. Sr. Dr. Lauro Valle, engenheiro fiscal do Estado nesta Circumscripção.

Não foi encontrado pelo emissario do Governo nem SIQUER vestigio do inicio daquelle serviço: entretanto, de accôrdo com a mensagem do Exmo. Sr. Dr. Arthur Bernardes, quando Presidente de Minas, apresentada ao Congresso estadoal em sua 4.ª legislatura, em 1922, VE-SE que a este Municipio foi feito em 2.º emprestimo de 200:000$000 para aquelle fim.

LE-SE, de facto, naquelle documento official, firmado pela primeira autoridade, naquella occasião do Estado e hoje da União:

EMPRESTIMOS MUNICIPAES:

– Ao Municipio de Patos… Rs. 200.000$000 para canalisação d’água nos districtos, etc. etc. e mais Rs. 100.000$000 para construcção de predios escolares nos districtos, etc. etc. Isto em 3 de janeiro de 1922.

São dois fornecimentos pecuniarios vultosos que o povo em sua totalidade ignorava, só delles vindo a saber depois do dia 5 de outubro, data em que se iniciou no Municipio a enphondragem dos negocios publicos desta terra.

Não é de se admirar que o povo o ignorasse, porque vereadores ha na Camara que só AGORA tiveram conhecimento daquella operação de credito.

O facto que se apura é que nada se fez quer quanto á canalisação d’água quer quanto á construcção de predios escolares, e isto em junho de 1925, ou sejam quasi quatro (4) annos depois.

Propositalmente aguardava-se certidão, do secretario das Finanças a quem se recorrera, do emprestimo feito a este Municipio e das importancias já entregues para custeio do serviço que deu motivo ao seu contrahimento: mas a vinda do engenheiro para examinar as obras de canalisação d’água e construcção  de predios escolares já havia posto bem patente que realmente se objectivara a operação de credito a que vimos nos referindo, tornando egualmente claro que sua applicação está ainda por se fazer, devendo ser dada uma explicação satisfactoria, pela Municipalidade, já ao Estado que se mostra desconfiado com nossos administradores, apesar de clarividentes, já ao povo deste Municipio em nome de quem foi contrahido tão pesado onus, sem a menor necessidade, tanto que não teve o destino que serviu de desculpa para o contracto firmado com o Estado.

Agora o officio dirigido ao presidente do Municipio de Patos de 28 de maio p.p. vem corroborar a desconfiança que em Fevereiro pairava no animo do Governo estadoal e patentear mais uma vez a clarividencia de nossa administração que com tanto ardor e patriotismo resolve os problemas do Municipio.

Infelizmente é uma verdade que o povo de Patos tem vivido até hoje na ignorancia da applicação dos dinheiros publicos do Municipio porque nossa muita ilustre e clarividente edilidade não se dà ao prazer de prestar aos contribuintes mais directos e mais positivos esclarecimentos de seus actos, como aliàs fazem todas municipalidades; agora porem, quando não os dê ao povo, que vive trabalhando, suando e se esgotando, para pagamento de impostos improficuos, tem de prestal-os ao Estado que os exige, mormente quando os municipios são candidatos aos quartos e quintos empréstimos dos 9:000.000$000.

São calculados em quazi mil e duzentos contos (Rs. 1.200.000$000) os impostos que em 10 annos tem entrado para os cofres do Municipio de Patos, durante a actual administração: entretanto, não se vê no Municipio um só melhoramento que corresponda  à renda arrecadada e ao sacrificio do infeliz contribuinte.

Urge, portanto, que o poder mineiro zele pelo povo diretamente, fazendo converter em melhoramentos de utilidade publica os dinheiros arrecadados da economia geral a títulos de impostos e depois entregues às municipalidades, para fins determinados, sob a rubrica – esprestimos – como os que a este município foram entregues em 1922.

Justifica-se, á sociedade, agora, a propaganda feita pelo Cel. Farnezi, contra o Popular, quando, em cartas dirigidas a amigos nossos e suppostos seus dizia:

“Que seria um crime seu entregar o Municipio a pessoas incompetentes, interesseiras e cujo desejo unico era tratar e zelar os interesses próprios” (sic)

De facto têm sido incompetentes as pessoas que hoje formam o Popular, tanto que, embora os maiores contribuintes dos cofres municipaes e estadoaes, não tem sabido zelar pela applicação destes pesados impostos deixando sem uma syndicancia os negocios publicos do Municipio: interesseiras mostram-se agora, inquirindo em nome proprio e no de todos contribuintes qual a applicação dada aos 300.000$000 do emprestimo que o Exmo. Sr. Arthur Bernardes diz ter feito em 1922 a este Municipio, já que não foram elles empregados nos serviços a que se destinavam: zelam e tratam de seus interesses próprios, fazendo estas innocentes perguntas para as quais só existe uma resposta: CARTAS NA MESA.

O Dr. Mello Vianna, Presidente do Estado, tem uma vida publica e particular que é um protesto vivo contra toda deshonestidade administrativa e, como a administração deste Municipio, segundo reza o manifesto de 22 de março, se inspira nos exemplos de civismo deste grande mineiro, não póde deixar sem uma explicação cathegorica facto de tanta gravidade e que tanta luz vem lançar sobre os negocios do Municipio de Patos.

Enquanto isto, na curva de uma longa interrogação fica o povo inquirindo:

Onde foram os 200.000$000?

Onde foram os 100.000$000?

Onde foram os 1.200.000$000?

Tem a palavra o presidente da Camara Municipal de Santo Antonio dos Patos.

NOTA: Se foi coincidência ou não a História jamais nos permitirá saber, mas, lastimavelmente, os Livros de Atas da Câmara Municipal de Santo Antônio dos Patos no período de 1922 a 1926 simplesmente desapareceram. Segundo Geraldo Fonseca, em seu livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, era assim composta a Câmara Municipal na época do imbróglio: Adélio Dias Maciel (Presidente e Chefe do Executivo), Agenor Dias Maciel, Alfredo Araújo, Augusto Barbosa Porto, Cornélio França de Oliveira, Euphrásio José Rodrigues, Henrique Lúcio da Fonseca, Heráclito Amaral, Jerônimo Venâncio, José Pacheco de Oliveira, José Pereira Guimarães, Pio de Melo Ribeiro e Zama Alves Pereira.

* Fonte e fotos: Texto publicado na edição de 07 de junho de 1925 do Jornal de Patos, do arquivo do Laboratório de ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

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