TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1914)
O “Jornal do Estado”, que se publica em Nova York, trouxe ultimamente uma dissertação instructiva sobre a relação existente entre os leitores e o jornal, com a qual veio provar, segundo diz o jornal allemão “Das Echo”, que cà por este lado do grande lago (o Atlantico) existem torturas para o jornalismo, eguaes às que se conhecem na Europa. Damos a seguir alguns dos conceitos emittidos pelo jornal americano.
Quem são os maiores bemfeitores do mundo? E’ inegavel que são os jornaes. Cada instituição beneficiente se serve, em primeiro logar, dos jornaes, è verdade que gratuitamente, pois ella que embolsar o dinheiro e não despender.
A’ redacção se pedem noticias e referencias, á administração se pede a publicação gratuita de annuncios. O publico é de opinião que isso “nada” custa aos jornaes, aquelle bocadinho de “composição” não lhes é sacrificio nenhum e o papel, esse de toda a maneira tem de ser gasto, sendo coisa secundaria que se và imprimir nelle isto ou aquillo. Este erro, que se acha muito propagado, precisa afinal de ser desfeito.
Se fosse a fazer conta de quanto se gasta em dinheiro por anno só com a composição de taes noticias ou artigos e dos respectivos annuncios, se obteria uma somma bem consideravel. E’ tambem erronea a opinião de que é preciso se “encher” os jornaes. Qualquer redactor pode informar ao publico que os jornaes, qualquer que seja o seu formato ou numero de paginas não soffrem de “falta”, mas sim de abundancia de materia. Assim é que uma cunha empurra a outra e o resultado é sempre “excesso de composição”. Dahi se conclue a evidencia que cada artigo, por menor nemuro de linhas que contenha, custa dinheiro.
Por acaso sabe o leitor commum, ao receber o jornal prompto, formar uma idèa da somma de esforço intellectual, do gasto de trabalho technico e da quantidade de despesas que foi preciso empregar na confecção da leitura que diariamente lhe è fornecida? Si o soubesse, seria sua critica menos acerba e sua participação de natureza mais sympathica e ao mesmo tempo mais pratica. Ha entre os membros das diversas corporações alguns que se dizem mais atilados; esses acham atè que poupam despesas ao jornal, fornecendo-lhe “gratuitamente” noticias das instituições que pertence, pois de outra maneira teria o editor de pagar seus collaboradores, ao passo que assim, elle consegue encher o espaço sem dispendio.
Outros dizem: “De que servem estas noticias e artigos commerciaes pelos quaes ninguém se interessa”? Assim pensam aquelles para que è superflua essa leitura e de materia informativa, sem as quaes, porem uma grande quantidade de leitores não poderia passar. Ainda outros, que têm predilecção por assumptos recreativos, revelam-se contra a politica, que enche columnas inteiras.
Póde a gente, pois, agir como quizer; app’ausos unanimes de seus leitores só recebem os jornaes em casos rarissimos; cada um desses senhores preferia sempre ver o jornal repleto de noticias que correspondessem a seu interesse particular.
* Fonte: Texto publicado com o tìtulo “Jornaes e Leituras” na edição de 28 de junho de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.