TEXTO: REVISTA RECREATIVA (2022)
Uma das maiores desilusões que tive foi saber que em outras cidades fora de Patos de Minas a atividade do Vai-e-vem era denominada “Footing”.
Como pode ser isso? Pensei com meus botões. Vai-e-vem era o que eu conhecia desde pequeno em nossa cidade. Vai-e-vem era uma imagem viva das moças caminhando em pares, trios, quartetos e até quintetos, para lá e para cá na Major Gote. Nós, os marmanjos, ficávamos fazendo um paredão nas laterais da rua para que elas pudessem passar. O início do vai-e-vem era na esquina da Major Gote com a General Osório, em frente à Recreativa. Chegando ao final do percurso (próximo à esquina do Roza Hotel, as moças davam meia volta e retornavam para fazer o verdadeiro desfile de belezas para o delírio dos marmanjos. Patos sempre foi um palco da beleza feminina. Aqui tem e sempre teve mulheres lindas, maravilhosas. E sempre vestidas na moda.
Um dia alguém quebrou o encanto de minha memória dizendo, isso na minha cidade é “Footing”. Cai das pernas, como se diz por aí. Fiquei espantado com a definição e com o uso de um costume que eu achava só nossa Patos tinha.
Parece que somente em Patos esse costume tinha o nome de vai-e-vem. Em outras cidades havia o mesmo costume, só que se chamava “Footing”. Claro que footing saía totalmente da minha compreensão.
Veio-e-vem é Patos. O resto do país pode chamar de footing. Mas na minha cidade não. Depois fiquei sabendo que algumas pessoas de nossa cidade chamavam o vai-e-vem de footing também. Não sei se por serem eruditos, cultos ou petulantes. Mas havia, aqui em Patos, quem chamasse o nosso querido vai-e-vem de footing. Uma heresia!! Vai-e-vem é carinhoso, respeitoso e é parte sagrada de nossas lembranças.
Sabe, pesquisando agora, esse costume foi popular no Brasil a partir da década de 1920. Até os anos 60 ainda perdurou em várias cidades brasileiras. Deve ter desaparecido depois do advento da televisão, eu acho.
Fiz uma pequena pesquisa e descobri que a tradução é complicada, uma vez que footing pode ser um montão de outras coisas. Mas, no meu coração, não consigo fazer a tradução de footing para vai-e-vem.
Prefiro a lição do Grupo Escolar Cônego Getúlio, onde estudei com a minha querida e saudosa D. Rita de Cássia. Na lição, vai-e-vem era o nome dado por um carpinteiro a seu serrote. Assim, como o martelo era toc-toc. Ele não emprestava as ferramentas para ninguém, pois muitos não as devolviam. Tinha ciúmes delas. Quando alguém pedia o vai-e-vem (serrote) emprestado ele dizia: – Se vai-e-vem fosse e viesse, vai-e-vem ia. Mas como vai-e-vem vai e não vem, vai-e-vem não vai.
Em minha memória vai-e-vem se foi e não voltou mais. Como as ferramentas daquele carpinteiro ranzinza. Ficou perdido no meio de muitas fotografias do coração de Patos, a nossa Patos de Minas.
NOTA: No livro “História de Minas Gerais” (2005) de Helena Guimarães Campos e Ricardo de Moura Faria, no último parágrafo da página 206 está impresso: Em algumas cidades era comum, ainda, o footing, que acontecia na praça principal. As moças ficavam andando em círculos na praça, observadas pelos rapazes. Dali saíram muitos namoros e casamentos, mas sob a eterna vigilância das mães e das tias, preocupadas com “o que os vizinhos vão falar”.
* Fonte: Texto publicado sem a autoria na coluna “Em Patos…” do n.º 15 (Ano IX – Edição Especial 2022) da Revista Recreativa, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 03/05/2013 com o título “Vai-e-Vem”.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.