TEXTO: PADRE JOSÉ BATISTA (1945)
Em nenhum sector da cultura moderna, e muito particularmente da nossa cultura brasileira, é tão necessaria uma palavra de ordem e de bom senso como ao sector pedagógico.
Tem sucedido com êle o que se dà em certas portas de igreja ou esquinas concorridas, com esses mendigos profissionais, que se julgam donos de seus postos e não admitem que outros esmolem no canto que reservaram para si.
E’ o que fazem entre nós alguns pedagogos profissionais, propugnadores da “escola nova”. Informados de ciencia propria alguns e muitos por ouvir dizer, de que há um movimento de renovação dos metodos ou da filosofia pedagogica, um pouco por toda parte, assenhorcaram-se do terreno e não admitem que ali nenhum profano ponha os pés. A “escola ativa” é deles. A “pedagogia nova” é deles. E só eles têm o direito de falar em “escola nova”. Tendo-se apoderado, cuidadosamente, dos grandes postos de administração do ensino federal, municipal ou estadual, pontificam do alto de suas posições estrategicas e mantém á distância os não iniciados nos mistérios do novo credo, punindo severamente os que ousam transpor os limites do recinto sagrado.
Vão assim mantendo a confusão nos espiritos e fazendo crer que possuem o privilegio da ultima palavra em materia educativa.
Até aqui falou o grande líder do laicato catolico brasileiro, o sociologo Tristão de Atayde, num prefacio a um compendio de pedagogia, a cuja autoridade nos socorremos inicialmente.
Arautos militantes da escola-ativa, da pedagogia-nova vêm sendo no Brasil uma pleiade brilhante de sacerdotes e leigos catolicos de nomeada. Grandes mentores do pensamento catolico atual em nossa Patria, como Everaldo Backeuser, P. Leonel Franca, Jonatas Serrano, Lucio J. dos Santos, Alceu Amoroso Lima, em obras substanciosas, vêm orientando, no campo da teoria e no campo da pratica, todos os que se interessam pela tão momentosa e vital questão do ensino.
Sem receio podemos afirmar que, hoje como outrora, a Igreja não fica na retaguarda da campanha, nada quer dever a ninguem, conservando sempre sua posição de equilibrio sadiamente moderno na qualidade de “mãe da civilização”.
Aludem alguns ás deficiencias flagrantes de disciplina “tradicional”. Que significa o termo “tradicional”?
Sempre entendemos nós por esse termo aquele sistema educativo que o mundo teve de seguir após os excessos dos enciclopedistas da revolução francesa, disciplina sem religião, toda impregnada da força, regimen que, entre nós, a republica laicista consagrou e as escolas do pais receberam coagidas.
E foi esta creação de ateus sanguinarios e guilhotimistas que, pretendendo crear na escola a mentalidade puramente intelectualista, esqueceu maldosamente e timbrou a toda força formar o individuo desprovido de toda religião, como se esta devesse ser administrada no lar. Não havendo mais aí o imperio da consciencia formada pela religião que pedia o cumprimento do dever, recorreu o sistema ateista a maneiras despoticas, resvalando para a brutalidade, recorrendo á palmatoria etc. Felizmente contra esta historia de superlotar o cerebro infantil e jovem de verdades cientificas alheiando-o da visão dos grandes deveres humanos que a religião representa, já se insurgiu boa parte dos nossos pedagogos, entre os quais se filiam quase todos os adeptos da sã escola nova. Logo, escola nova não é o que por aí cogitam: neutralidade irreligião, naturalismo pedagógico.
NOTA: Em abril de 1942 uma nova reforma foi implantada com o intuito de reestruturar o ensino secundário, que foi Reforma Capanema, como muitos educadores denominam.
* Fonte: Texto publicado com o título “Educação e Preconceito” na edição de 14 de janeiro de 1945 do jornal Folha Patense, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Foto: Trechos do texto origibal.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.