SOBRE A BACIA DO CÓRREGO DO MONJOLO

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A ocupação urbana da Bacia do Córrego do Monjolo ocorre próxima do centro da cidade. Entretanto, os bairros no entorno são considerados periferia. Os setores de ocupação urbana que margeiam o canal sofrem com as enchentes no período da chuva, ocasionando doenças e problema de saúde pública. No entendimento da dinâmica hídrica da Bacia do Córrego do Monjolo, é fundamental caracterizar suas principais variáveis: a área, a forma, declividade da bacia, declividade do curso de água. A área é de 14,20 km². A rede de drenagem da bacia é a dendrítica e retilínea, semelhante a um galho de árvore e ocorre em substratos homogêneos como cristalino ou sequência de sedimentares.

Uma obra de infraestrutura significativa no leito do córrego foi realizada na década de 1980, com a criação da Avenida Sanitária. Esta obra tinha o intuito de levar infraestrutura para a periferia da cidade e solucionar problemas já elencados. Assim, propiciou-se um direcionamento da ocupação urbana ultrapassando as margens do córrego. O projeto de criação da Avenida Sanitária foi realizado pela Elenge Engenharia, de Belo Horizonte, juntamente com a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, no ano de 1986. A viabilização da obra inicialmente foi realizada pelo Município e depois pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), no período de gestão de três prefeitos. O traçado pelo talvegue do córrego consistiu em uma canalização a céu aberto. Além disto, ocorreu o detalhamento do projeto com os estudos hidrológicos (para evitar enchentes), topográficos, canalização, projeto geométrico, micro-drenagem, interceptores, especificações técnicas entre outros aspectos, para que o obra tivesse mais segurança e evitasse problemas futuros.

Também tinha-se uma preocupação com a canalização do esgoto dos bairros do entorno, a partir da implantação de interceptores debaixo da Avenida Sanitária, impedindo que os esgotos fossem diretamente lançados no córrego. Porém, com o crescimento urbano e com a proximidade do leito do córrego ao centro da Cidade, a rápida construção dos bairros no entorno não foi realizada com interceptores.Com isso, o esgoto dos novos bairros foi lançado diretamente no corpo de água. A poluição do córrego não foi provisionada no projeto. Assim, não houve um planejamento em longo prazo, visto que, com a expansão urbana da Cidade, a canalização foi realizada de maneira parcial por trechos, devido ao alto custo da obra.

Esta Avenida Sanitária passou a ser denominada Avenida Fátima Porto. Trata-se de uma via de grande extensão, com 2900 metros de comprimento inseridos na área de canalização aberta do córrego, cruzando três diferentes bairros: Antônio Caixeta, Jardim Andradas e Cidade Jardim. Esta é a principal via de acesso rápido dos bairros do entorno do leito do córrego ao centro da Cidade e os principais pontos comerciais. Com a edificação da infraestrutura da Cidade e com o crescimento urbano, ocorreu a modificação no planejamento urbano local e a denominação de algumas ruas. O perímetro urbano da Cidade está inserido parcialmente na bacia do córrego, porém, a montante da bacia, ainda há áreas que não foram ocupadas, o que possibilita um crescimento potencial da urbanização neste sentido.

Na interseção da Avenida Fátima Porto com a Avenida JK, ocorreu uma alteração natural do terreno, para a construção do aterro sob a Avenida JK. Nesse local, o greide da pista ficou situado acima do terreno natural. Assim, o córrego é canalizado por um bueiro (tubulação curta) que propicia a passagem do curso de água debaixo do aterro da Avenida JK. Esta obra propiciou também um direcionamento do escoamento do córrego para uma seção transversal estrangulada em virtude da presença do bueiro. Estes estrangulamentos constituem importantes singularidades que influenciam no comportamento hidráulico, ou seja, em alterações nas profundidades de água do canal.

Ao longo da Avenida Fátima Porto, tem-se um elevado grau de impermeabilização do solo, devido ao fato dela estar próxima do centro da Cidade e ligando o bairro central aos bairros já elencados. A ocupação urbana na área ocorreu principalmente com a proliferação de estabelecimentos comerciais ao longo da Avenida Fátima Porto, por ser esta uma via arterial de fluxo rápido. Além disso, o crescimento também foi verificado com a construção de residências e prédios nas vias paralelas à Avenida. Outro elemento da ocupação urbana da área é o aumento do escoamento superficial e a redução na infiltração, que vem induzindo a ocorrência de enchentes em alguns trechos do córrego. No cruzamento da Avenida Fátima Porto com a Avenida Ivan Borges Porto já foi verificado o descolamento do revestimento asfáltico provocado pelo cisalhamento gerado pelas elevadas velocidades do escoamento superficial direto sobre a via.

Na Avenida Ivan Borges Porto, há uma afluência caracterizada por pequena canalização fechada que veicula as águas provenientes das nascentes que correm no Parque Municipal do Mocambo. Porém, a canalização em 2012 sofreu reforma para reduzir os problemas de macrodrenagem e microdrenagem no afluente do córrego. Além disso, percebe-se a necessidade de medidas para que se que tenha a redução do lançamento de resíduos sólidos e da produção de sedimentos, os quais obstruem o escoamento da água pluvial para o canal central e não evitando problemas urbanos e principalmente as enchentes. Bocas de lobo com sedimentos são problemas de microdrenagem que afetam diretamente a macrodrenagem. Além disso, o Parque do Mocambo, criado na década de 1990, possui nascentes, uma área de mata nativa, quadras e áreas de lazer. Mas, com a desativação das piscinas e a retirada dos animais ocorreu a falta de atrativos do parque o que reduziu os seus frequentadores. Com o menor fluxo de pessoas frequentando essa região do parque e com a presença de áreas verdes, gerou-se o aumento da criminalidade. Porém, com a transferência do Conservatório Municipal de Patos de Minas, em março de 2012, para um edifício construído no interior do Parque, percebe-se um processo de revitalização do local com atrativos de lazer e recreação para a população.

Tendo em vista a expansão da ocupação urbana da Cidade, o Parque do Mocambo é uma área fundamental para a infiltração das águas da Bacia do Córrego do Monjolo e para a preservação da mata nativa, fatores que reduzem a geração de escoamento superficial. Porém, o Parque também sofre com forte escoamento superficial no período chuvoso possibilitando o carreamento de sedimentos. Importante ressaltar que o início da Avenida Fátima Porto não possui uma avenida arterial, até 2012, como a Avenida JK e sim um prédio abandonado. Porém, iniciou-se a implantação de uma Avenida à direita do Córrego do Monjolo no sentido de montante para jusante. Esta avenida ocupa parcialmente a área de preservação permanente (APP), mas, como a área está no perímetro urbano, a legislação brasileira possibilita essa intervenção, de acordo com a Lei nº 4771/1965 do Código Florestal Brasileiro.

Em 2012 foi implantado o prolongamento da Avenida Fátima Porto. No trecho do prolongamento da Avenida, suas duas pistas passaram a margear um lado do Córrego, favorecendo o crescimento da ocupação urbana em direção à cabeceira da bacia. Na realização da obra de prolongamento da avenida, o córrego passa da área central da via para sua margem, o que se percebe que a avenida passa a ficar na mata ciliar de um lado do córrego. A ausência parcial da vegetação é onde ocorre o prolongamento no início das obras. Além disso, apresenta-se a vegetação no final da avenida, com as formações do canal anterior do Córrego do Monjolo.

Com a consolidação do prolongamento da Avenida Fátima Porto ligando as duas avenidas de acesso da cidade, a Avenida JK e a Avenida Marabá, favorece-se a ocupação urbana na bacia do Córrego do Monjolo, com uma via de acesso rápido. Também essa continuação da Avenida Fátima Porto facilita o escoamento superficial, que anteriormente era retido parcialmente pela vegetação. Outro elemento fundamental na ocupação da bacia são os loteamentos, que estão em processo de criação para iniciar a ocupação urbana.

Diante do que já foi demonstrado até o presente ponto, observou-se a indicação dos prováveis pontos críticos do canal e o estudo da expansão urbana dentro da área de drenagem, com a finalidade de se compreender a ocupação do solo no interior da Bacia analisada. A junção da Avenida Fátima Porto com a Ivan Borges apresenta problemas de macrodrenagem e microdrenagem. Assim, com a caracterização da bacia realizada e o referencial teórico sobre a temática de estudo pode-se estabelecer ferramentas de planejamento para um melhor direcionamento da expansão urbana de Patos de Minas.

* Fonte e foto: Simulações Computacionais Para Estimativa da Influência do Crescimento Urbano na Formação de Zonas Inundáveis Adjacentes ao Córrego do Monjolo, em Patos de Minas-MG (2013), de Ana Clara Mendes Caixeta.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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