PROBLEMAS NO BAIRRO CÓRREGO DO MONJOLO EM 1977

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

MONJOLOFoi ali a antiga fazenda (latifúndio) do Sr. Antonio da Silva Caixeta, que possuía os históricos monjolos movidos pelo córrego que por lá passa.

Vários meeiros, arrendatarios e camponeses residiam na Fazenda dos Caixetas como empregados, até que por volta aproximadamente de 1950 o processo de loteamento foi feito pelo proprietário, e com isso os lotes foram sendo vendidos ou cedidos e ocupados posteriormente pelos primeiros moradores do futuro bairro do Córrego do Monjolo, que lá foram construindo suas primeiras casas e fixando-se.

Bairro dos Caixetas e Bairro Boa Vista foram os nomes oficiais dados às aglomerações de casas que iam se formando na antiga Fazenda, estando situados no extremo leste do perímetro urbano de Patos de Minas. O Bairro dos Caixetas localiza-se abaixo da Rua Agenor Maciel e à esquerda da Rua 5 de maio. O Boa Vista, à margem esquerda do Córrego do Monjolo, e à direita da Rua 5 de Maio, estando incluído nele o final da Avenida Brasil. Mas, o nome vulgar e o mais conhecido e usado é Bairro do Córrego do Monjolo, abrangendo os dois bairros citados, originados dos tradicionais monjolos outrora existentes naquelas bandas.

Os moradores do Córrego do Monjolo são na maioria operários braçais e domésticas que na labuta do dia a dia têm ainda de enfrentar os muitos problemas de infra-estrutura (água, esgoto e luz); que na época das últimas eleições teve citação nos eufóricos comícios dos candidatos ali presentes, e, inclusive a promessa de breve resolução do problema com o extremo de enviarem para ali manilhas, que passadas as eleições foram retiradas do local, ficando só a promessa. (ver Mutirão n.º 3). A falta de rede de esgoto na maior parte do bairro, a inexistência de luz em alguns trechos, as frequentes enchentes e o mal cheiro causado pelo córrego, as ruas esburacadas, são a constante tortura pra todos, como mostra o pintor predial, cearense com 44 anos de idade, poeta (ver poema ARRIBADA), estudante, residente à Rua Teófilo Otoni, Sr. Mauricio Alcantarino:

– “Vou falá pra Vocês primeiramente que não sou daqui. Saí do Ceará com 14 anos de idade, e fui trabalhar como servente de pedreiro no Rio de Janeiro.

Quanto ao Bairro eu vou lhes dizer que aqui pra nós da Teófilo Otoni, que temos melhores condições financeiras, não é das piores não, mas para os outros mais pobres como os da 5 de Maio, as transversais e os moradores lá do Boa Vista, a coisa é triste. Os favelados lá do morro, nem é bão pensar! No Boa Vista não tem nem uma rede de esgoto, a não ser a da Casa das Meninas, e tem alguns trechos sem iluminação. Há uns postes por aqui também que precisam ser trocados, tá tudo podre!

Eu me lembro, e foi a pouco tempo os moradores do Córrego fizeram um abaixo-assinado pra ver se chegava a rede de esgoto; mesmo assim o problema continuou. Quando chove a água cava cada valeta nas ruas e é uma erosão feia, chegando até a roer as paredes das casas. Não tem nem uma galeria pluvial pra ela correr, então vai furando as ruas. É por isso que o nosso bairro é pouco comunicável, é difícil um carro descer aqui, as ruas esburacadas não oferecem condições nenhuma, e mesmo as pontes como a da final da Rua Farnese Maciel não tem segurança”.

Dona Virgínia, lavadeira, 76 anos, viúva, tendo 6 filhos, residente no Bairro à Rua Virgílio Borges 99, conta um pouco de sua vida e fala do bairro:

– “Nóis era agregado da Fazenda lá perto de João Pinheiro, mas acontece que o patrão morreu, e tivemo de mudar pro Carmo, porque a fazenda foi dividida entre os filhos e os parentes. Meu marido ficou doente e morreu, nóis lavava roupa pra fora pra poder sustentar e depois meu filho queria aprender ofício, né!, e viemos pra cá, pois lá não tinha condições. Tem 24 anos que moro aqui, esta casa graças a Deus é nossa. Trabalhamo muito tempo pra poder pagar a casa, a situação era difícil filho, é assim mesmo, pobre vive é de tema, viu? Pois olha só: antigamente 500 contos dava pra ir no mercado e compra um punhado de coisas, gastava 3 ou 4 pessoas pra carrega, hoje? Ah, hoje até um menino trais. É e tem mais, a gente trabalha a vida inteira, eu e os meninos, todo mundo né, e olha só nossa situação! Duns tempos pra cá o bairro tem melhorado, mas ainda falta muita coisa, né? Aqui na nossa rua e ali no Beco 21 as redes estão por cima da rua, e as manilhas dão um mau cheiro danado”.

Um dos maiores pânicos no entanto que atingem os moradores, são as constantes e assustadoras enchentes, provocadas pelas fortes chuvas como a do final do ano de 1975, quando causou grandes danos à população.

– “Quando veio aquela enchente em 1975, êta coisa feia sô! A gente ficou apavorado vendo a água chegando em casa, derrubando muros, levando tudo, e a criançada, que perigo! Eu até lembro quando fizemos um abaixo-assinado e fomos até a prefeitura pra resolver o problema. O negócio é que o mato cresce (olha aí cumé que tá!) pra dentro do Córrego e atrapalha a água correr, e então ela sobe e entra nas casas. A prefeitura veio cá e cortou o mato só uma vez, e quando chove, não precisa ser muito forte não, a água sobe até meio metro aqui da casa. Mas este negócio de cortar mato não adianta, pois ele cresce de novo. Tem mesmo é que dar um jeito de canalizar o Córrego”.

O povo se preocupa com razão. Os problemas existem aos punhados e só são conhecidos dos políticos a autoridades quando vem as eleições e a hora de pedir votos. Hei gente! Pense nisso agora…

* Fonte: Texto publicado com o título “Córrego do Monjolo – Enchentes e Gente” na edição de maio de 1977 do jornal Mutirão, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto: Ucvinvestigacion.blogspot.com.

Compartilhe