TEXTO: FERNANDO BORGES DE ANDRADE (1971)
Não há muito (que nos perdôem os bons atleticanos), o glorioso galo foi recebido em Patos de Minas com churrasco e banquete. No jôgo, contudo, com um Mamoré em bôa fase, perdia de 2 x 0 e lutou até o desespero para conseguir um pálido empate. Conclusão: O mínimo que a imprensa carijó publicou em Belo Horizonte foi que a caravana atleticana passou fome em Patos, foi espezinhada etc. e tal, como se fôssemos terra de índio… Leváramos um duro golpe da imprensa escrita.
Agora, nós que não somente vimos de casa, mas no próprio Palácio do Rádio, fomos de nôvo vítimas dos profissionais da televisão. Patos de Minas concorreria normalmente com uma cidade de seu nível de progresso e grandeza¹. Soubemos que Sete Lagoas foi inicialmente convidada. Não tendo podido aceitar o convite, escolheu-se a pequena e simpática Pedro Leopoldo. Cidade próxima a Belo Horizonte, com acesso fácil e constante aos meios de divulgação e televisão entrou na luta gozando da ajuda e simpatia dos “programadores”. O que podíamos concluir depois do que vimos?
Os colaboradores do Sr. Fernando Sasso não se continham, no palco, em torcer por Pedro Leopoldo. O nosso tempo escoava rápido, e era de ver como os “meninos prodígios” de Pedro Leopoldo tiveram prazo para dirigir os tratorzinhos. Ora, meu pai que é músico fêz tudo para que eu, menino, tocasse violão, e até hoje, passado dos trinta, as cordas não me obedecem. Em Patos, no desfile da Festa do Milho, a meninada é que dirige os tratores, não só dirigindo o carro do papai, porque o Sr. Delegado proíbe. Aliás, trator, ligada a marcha, anda até sozinho, em círculo. O nosso raro e musical violonista e vocalista Vilmar (5 anos) não foi considerado. Ponto perdido.
Pediram banda de música. Levamos música e perdemos para uma fanfarra. Nós nos enquadramos no quadro exigido e a vibrante moçada de Pedro Leopoldo não tocou uma só peça. Mais um ponto perdido.
O Sr. Sasso chamou muito bem a atenção para o quadro folclórico. Que autenticidade a dos nossos roceiros com as rabecas por êles fabricadas. Que dizer das nossas belas fiadeiras, e da dupla espetacular dos nossos violeiros. Mas isto somou um pontinho só, contra uma sessão de macumba importada, porque em Minas, mesmo o juri dos “Mineiros Frente a Frente” não engoliu aquela representação como número folclórico. Mas como doeu o teste “programado” sôbre o Atlético.
Em resumo, para Pedro Leopoldo: “Quais foram os artilheiros do Cruzeiro no Penta-Campeonato?”. Até a vovozinha sabe que foram os “Desconhecidos” Tostão e Dirceu Lopes em 1969. Para Patos: “Qual foi o último time do Atlético em campo, no último jogo que fêz quando foi penta-campeão?”. O Atlético foi penta-campeão nos idos de 193… (mil novecentos e trinta e…). Ajuda Kafunga!!? Além disto deve ter feito no mínimo uns cinquenta jogos para conseguir o título, modificando sempre a escalação. Esta era para derrubar mesmo…
Mas não foi só. Quanto ao casal pedido a Patos, o homem teria que ter no máximo 1,50m e a mulher no mínimo 1,70m. Pedro Leopoldo traria um casal em que o homem fôsse bem maior que a mulher. Parabéns!!
Chega!! Vencemos nos quadros importantes: Personalidades ilustres; folclore; melhor instrumentista; melhor cantor. Brilhou o homem do campo, o nosso camponês, o nosso roceiro, o que cultiva a terra, o símbolo vivo da nossa grandeza e nossa riqueza; aquele que nos alimenta, o homem mais útil que talvez exista; brilhou o homem da cidade, o homem culto, o que se cultivou. O nosso versado instrumentista Onofre se destacou espalhando a linguagem universal da música, através de sete instrumentos. E brilhou o nosso Waldir, pelos dons vocais e instrumentais de que apenas os escolhidos são dotados.
Perdemos, duvidosamente, em que? No maiô (um juri mais jovens e teríamos ganho disparado…); perdemos no tratorzinho; na historinha de mentira (bolas! a nossa era muito mais mentirosa, né, Zé Maria?); e, finalmente, perdemos na perguntinha do Atlético de trinta anos atrás.
Nunca nos orgulhamos tanto de nossa gente quanto agora, quando sem côr política, partidária, social ou o que lá que seja, vimos elevado tão alto o nome de nossa Cidade. Não foi em vão o sacrifício do chefe da delegação, Sr. Rafael Gomes de Almeida, em nome de quem sejam homenageados todos os colaboradores, que, pelo que soubemos, através de noites indormidas tudo fizeram, em poucos dias para que a cidade fosse bem representada como de fato foi.
Paturebada!! Cabeça erguida e pé na tábua! Repitamos a nosso modo o dito famoso: “Fomos vencidos. Seremos vencidos muitas outras vezes. Jamais derrotados”.
* 1: Trata-se do programa “Mineiros Frente a Frente”, uma gincana entre cidades mineiras transmitido através da TV Itacolomi e comandado por Fernando Sasso, com grande êxito na década de 1970.
* Fonte: Texto publicado com o título “Mineiros Frente a Frente?” na edição de 25 de maio de 1971 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do UNIPAM.
* Foto: Um dos parágrafos do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.