NOVOS MINEIROS, OS

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NOVOS MINEIROSTEXTO: CARLOS VIEIRA (CHARLIE) – 1986

A paisagem rural patense, junto a praticamente todo o oeste mineiro, mais extensas terras em Goiás e Mato Grosso, vêm sofrendo nítida transformação. Nos antigos campos e cerrados, o que se vê agora são quilométricas plantações. Soja? Em maioria, não? Fácil é perceber que ali estão sendo usados métodos agrícolas bastante mecanizados e inovadores. E não há dúvida: é um belo espetáculo todo aquele mar vegetal.

Um amigo economista me explica: “Transição de economia”, diz “De uma economia de subsistência, pouco mecanizada e não ambiciosa – com o progresso – nasce uma economia de mercado, capitalista, altamente mecanizada e voltada não só à região, mas a centros maiores”. É este o fenômeno: transição. Quem está trazendo isso? Vocês sabem: são os gaúchos e os japoneses, aqui chegando à procura de espaço e terra.

“Gaúchos”, na verdade são todos os sulistas: paranaenses, catarinenses e os do Rio Grande, gaúchos propriamente ditos. Quanto aos japoneses, são todos brasileiros de São Paulo? Há estrangeiros? Se afirmativa a resposta seriam eles frutos do controvertido projeto JICA? Vocês devem saber.

O certo é que muita mudança vem acontecendo, tanto na área rural quanto na urbana: a terra valorizou-se, a cidade cresce em ritmo impressionante e, ao lado disso, novos hábitos e costumes vão sendo incorporados ao nosso “jeito mineiro de ser”. Estamos então, ganhando econômica e culturalmente. “Garantido non”? “Barbaridade tchê”!

Apesar de todo o ganho, não se pode deixar de dizer o que há por detrás de mudança como esta que se processa em Patos. O progresso tecnológico, contínua conquista humana, carrega entretanto muitas contradições. Soluciona problemas, mas gera outros, novas injustiças. Uma economia de mercado, a grande exportação, não resolvem o eterno problema da fome. Ironicamente, o progresso o faz tornar-se mais gritante. De que adianta, por exemplo, transformar agregados miseráveis de fazendas pouco produtivas em bóias-frias de fazendas-empresa? E em termos nacionais? A corrida à produção de soja e à sua exportação não resolvem o Brasil. Podem incrementar economias regionais, gerar empregos, enriquecer alguns, mas não resolvem a crise que vivemos, atenuada ou não pelo recente pacote econômico. O próprio Governo reconheceu isso, reavaliando sua política de incentivos agrícolas, dando novamente prioridade à produção de alimentos básicos.

Assim, não se deve encarar o crescimento econômico de maneira apenas eufórica e ufanista. É preciso ver seus males. Por outro lado, combater radicalmente o progresso, é ingenuidade.

De qualquer forma, eis nossa cidade em franco desenvolvimento. Vejam Patos adquirindo novos contornos, vícios e virtudes do mundo moderno. Graças à circunstancial chegada dos novos mineiros.

* Fonte: Texto publicado com o subtítulo “Gaúchos e Japoneses não trazem apenas benefícios para Patos de Minas” na edição n.º 144 de 31 de julho de 1986 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br, meramente ilustrativa.

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