NATAL DE 1943

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TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1943)

A alegria estrepitosa que domina os corações brasileiros na venturosa noite de natal, decorre naturalmente do sentimento religioso herdado de nossos maiores.

A nossa cidade de Patos viveu, na noite de ante ontem, uma de suas mais memoraveis e impressionantes noites de natal.

A chuva que participando dos nossos justos e louvaveis costumes de embelezar a noite da vinda do Salvador, ornamentando-a com sorrisos cristalinos de paz e de ventura, deu-nos uma tregoazinha e permitiu o mais intenso movimento pelas casas de brinquedos e presentes.

Era de ver a lufa-lufa do povo que afetuoso e emotivo ás casas comerciais, escolhendo um presentinho que mais agradasse a pessoa mimoseada.

A criançada exultava de contentamento, estarrecida diante da avalanche dos estoques e da generosidade dos seus.

O dinheiro que está correndo em profusão e a compreensão mais nítida que a humanidade vem tendo dos laços sociais de solidariedade e afeto, superam bem a hora de encarecimento de vida que estamos vivendo.

Diante das vitrinas, que a nossa velha luz, em um “tour de force”, procurou realçar e colorir, desfilou verdadeira multidão que se comprimiu na escolha do objeto mais expressivo e mais elegante para o seu presente.

Os modernissimos e lindos estojos de papel que a Papelaria Folha de Patos exibiu, gozou de especial preferencia, atraindo para cá a fina goma de nossa sociedade.

A mocidade patense − encantadora fase de afeto e do carinho em consonância com a afetuosa data do natal − trocava em palavras os sentimentos mais puros de afeição e amizade.

Na noite da alegria, até a pobre criança abandonada, refeita com as gostosas “sobras” do natal, assistia afoita aos gestos de generosidade daqueles que faziam as compras para vestí-la e alegrá-la na manhã seguinte.

Só eu é que, no torvelinho da alegria alheia, busquei por todo canto a minha alegria condensada numa silhueta, num sorriso penetrante.

Busquei em vão. Decididamente o velho Papai Noel é humano e tambem faz as suas correntes contra os mortais.

Mas a esperança é imortal, e no outro natal Noel se modificará, trazendo-me o presentinho real da presença dela e de seu sorriso.

* Fonte: Texto assinado por “Alencar” e publicado com o título “Presente de Natal” na edição de 26 de dezembro de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

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