COLÉGIOS E VAGAS

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TEXTO: JORNAL CORREIO DE PATOS (1977)

Alguns problemas vêm à tona neste período de começo de aulas. Os alunos são como que empurrados para as Papelarias e Livrarias em busca do material necessário, disputando preços e qualidade. Mas, quando vemos as listas que são oferecidas aos alunos, como “material necessário”, fica-se pensando até onde os pobres teriam vez para o estudo.

O pessoal lá da Capital nos envia “figurinos” prontinhos. E nós, os da província, ficamos a copiar ipsis litteris o que nos é mandado. Ora, gente da Capital tem recursos para manter estudos sofisticados. Tem? Queiram ou não, estamos sofisticando demais o nosso ensino e ensinando pouca coisa. Exigem-se mil e uma besteirinhas para que o aluno leve para a sala de aula. Isso quando a nossa realidade é bem outra. E há desespero dos pais que não sabem como e onde satisfazer tantas exigências inúteis e tolas, ditadas pela Sociedade de Consumo. Porque em Belo Horizonte, Brasília e adjacências se faz assim ou assado, não cabe que aqui também tenhamos que macaquear a burrice oficializada pela Sociedade do Desperdício e do Supérfluo. É época em que tudo exige poupança, economia! Isso quando o Governo quase suplica que apertemos o cinto. Não entendemos! Sinceramente, não dá para entender!

Outro problema que está atravessado na garganta de muita gente é mais complexo e sério. Mais abrangente e trás em seu bojo muitíssimos aspectos dignos de serem meditados.

Milhares de crianças ficaram sem vez nos Colégios Estaduais. Muito Bem! Há alguma coisa errado nisso.  Errado mesmo. Quando se fica à porta dos Colégios do Estado, é bom de se ver aqueles menininhos e menininhas bem nutridos, corados, com todo o seu material escolar de primeira! E nós nos perguntamos aonde estarão aqueles que não têm recursos para estudar. Aqueles para os quais tem um Colégio Estadual e sua razão de ser. Mas, o que é que vemos? Ali estão os filhos de médicos, fazendeiros, engenheiros, advogados e etc. Pessoas que, graças a Deus, têm recursos para manter seus filhos em Colégios Particulares. Gente em condições de pagar o estudo de seus filhos.

Existe “um Exame de Seleção”! Existe! Mas tem que passar, urgentemente, por uma reforma. Não estamos aqui para dizer que fulano ou beltrano está errado. Não estamos especificando colégios. Falamos de Colégios Estaduais. E neles há, não tenhamos dúvida, uma injustiça oficializada. A que recorrer? Como mudar isso? Por que chegamos a este estado de coisas? Será que a Educação – no dizer de um colunista social – vai continuar a ser a vergonha nacional? E não queiramos transferir responsabilidades para o Governo. Não e não! Querer creditar ao Governo o nosso próprio desgoverno, é querer fazer a política da avestruz. Somos nós mesmos que criamos ou permitimos que se criem situações bem pouco recomendáveis a uma consciência esclarecida.

Coloquemo-nos no lugar daqueles que lutam por sobreviver. Coloque você sua filha ou seu filho na situação de uma criatura que vive de seu salário, minguado, contado cada semana. Tem muito menino ou menina ocupando lugar que por justiça, pertence a um menos favorecido de sorte. Convenhamos que, o que realmente existe, não é falta de vagas nos Colégios Estaduais. O que existe é excesso de egoísmo naqueles que, privilegiados por Deus com uma sorte menos ruim, não se sensibilizam diante do óbvio que está aí a todos nós envergonhando.

Vão nos dizer que os meninos pobres é que não passaram no Exame de Seleção… Perguntamos: poderiam passar, disputando um lugar ao sol, com meninos e meninas bem nutridos, sem quaisquer problemas dentro de casa? Qualquer livrinho de pedagogia nos ensina que uma criança mal alimentada produz pouco no aprendizado. O que está errado é a maneira com que é feita a bendita seleção dando igualdade de condições para os que necessitam e os que, por uma questão de bom senso, nem deveriam procurar o ensino gratuito.

Hoje muito se fala em Direitos Humanos! E como se fala! O mundo vive gritando o mesmo tema há séculos! Mas… e os Deveres Humanos? Aonde estão? Estes me obrigam: o direito nos outros é o meu dever! Um direito mutilado, supõe sempre um dever omitido. Seria saudável se falássemos menos em direitos humanos e muito mais em deveres humanos. O mundo seria bem melhor! E aí está um que exige de nós uma reflexão séria. É um direito líquido e certo que essas crianças têm um lugar para se promoverem através do Estudo. E é um dever líquido e certo de que não temos o direito de ocupar o lugar que lhes cabe com crianças que graças a Deus, têm outros lugares para estudar.

Não querer entender isto é fácil. Mas não será fácil – ah! isso garantimos que não será – no dia do face a face com Deus, responder a isto: “Tudo o que fizestes ao menor dos meus irmãos, foi a MIM que o fizestes”!

É… não estão faltando vagas nos Colégios Estaduais… Está é sobrando muito egoísmo no coração de muita gente…

* Fonte; Texto publicado na edição de 06 de fevereiro de 1977 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Jornalistaflavioazevedo.blogspot.

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