INCRÍVEL AVENTURA DE DOIS ÁCAROS, A − 2/4

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– Mas que coisa, não estou chiando, só estou preocupado com as nossas vidas.

– Tudo bem, mas você vem ou não vem?

– Para aonde vamos?

Wanderley estava acometido de um ímpeto exploratório alucinado. Sua intenção inicial era escalar um dos seios da moça. A meta seria muito difícil, pois a altitude era enorme, principalmente porque, antes, era preciso alcançar seu corpo que não parava de se mexer ao sabor das músicas que ouvia através de fones nos ouvidos. Após um tremendo esforço, os dois ácaros conseguiram atingir as axilas da moça.

– Segura firme, Rivaldo.

– Ai, meus Deus do céu, ela não para de se mexer, vou cair.

– Deixa de moleza e agarra bem, já estamos quase em cima.

– Está escorregadio, Wanderley, parece até que isso é óleo.

– Deve ser alguma coisa desse tipo. Segura bem e dá um passo de cada vez. Agarre uma de minhas pernas porque estou me segurando nos pelinhos. Segura bem, atenção… estou subindo… pronto. Agarre a minha mão.

– Nossa, Wanderley, que vista mais linda.

– Viu, te falei que valia a pena. Repara só na altura.  Vamos descansar um pouquinho para escalarmos uma daquelas duas montanhas.

– Wanderley, vou te falar uma coisa e espero que não fique com raiva de mim.

– Fala logo.

– Olha só para essas duas montanhas, repare como são altas demais. Vamos deixar isto de lado, vamos ficar um tempão aqui curtindo a vista e depois vamos embora.

– Pelamordedeus, já estou ficando irritado contigo.

– Tá bom, tá bom, qual das duas vamos escalar primeiro.

– Deixe-me ver… huummm… parece que aquela da esquerda é a mais alta. Ou serão do mesmo tamanho?

– Mas tem que ser a mais alta?

– É claro, dá mais prazer, e olha só aquele elevado que tem no alto dela. Vamos até lá.

– Começamos pela frente ou por trás?

– Como começamos pela frente ou por trás? Presta atenção, Rivaldo, montanha não tem frente e traseira. O que temos que fazer é escolher em qual parte dela vamos iniciar a escalada.

– Pra mim é tudo a mesma coisa.

– Êta ácaro burro! Vamos fazer o seguinte: iniciaremos a escalada por essa parte que está na nossa frente.

– Por que você achou melhor esse lado?

– Santa misericórdia! Rivaldo, liga seus miolos. Já reparou que esse lado está mais iluminado? Os outros lados estão muito escuros.

– E não é que é mesmo? Até o elevado do alto está bem visível daqui.

Usando de todas as energias, os dois ácaros escalaram um dos seios da moça. Foi uma longa subida, que quase se transformou em tragédia quando um dedo se pôs entre os dois para uma leve coçada.  Ao lado do mamilo, dois seres minúsculos se vangloriavam do feito. Após o deslumbramento da altitude e da bela vista, resolveram descer. Foi quando viveram outro momento de tormenta: a moça resolveu virar-se na cama. Quando a montanha começou a girar, o desespero tomou conta das duas criaturas.

– Eu falei, eu falei que este negócio ia dar rolo.

– Cala a boca, Rivaldo, segure firme.

– Ai minha Nossa Senhora Aracnídea. Wanderley, não estou conseguindo segurar direito.

– Segura firme que já vai passar.

– Está ficando escuro, Wanderley.

– É a montanha que está girando. Olha, viu só, passou.

– É, passou, mas agora estamos num breu danado.

– Olha pro outro lado.

– Que lado?

– Pra lá, seu ácaro burro, não está enxergando a luz?

– É mesmo, e agora?

– Simples, sua besta, vamos descer até a base da montanha. Aí damos a volta e vamos pro lado claro, sacou?

– Pra você tudo parece muito fácil, não é?

– Feche a matraca a vamos logo descer daqui.

– Mas Wanderley, olha só a altura, eu acho que não vou conseguir.

– Mas você não subiu?

– Subir até que não foi tão difícil, mas agora estou com medo de descer, é muito inclinada essa montanha.

– Vamos fazer o seguinte: segura um dos meus braços.

– O que você está pensando fazer?

– Vamos logo, segura um de meus braços.

– Não vou segurar coisa nenhuma, primeiro me conte o seu plano.

– Santa misericórdia, não tem plano nenhum, apenas vou sentar e descer escorregando, só isso.

– O que, descer escorregando desta altura? Nunquinha, vou ralar a bunda toda.

– Muito bem, está ótimo. Então senta aqui do meu lado para pensarmos juntos como vamos fazer pra descer.

– Ô Wanderley, por que eu tenho que sentar ao seu lado para pensarmos juntos?

– Dai-me paciência. Senta logo aqui junto de mim, ô caramba.

– Não sento não, daqui estou ouvindo você muito bem.

– Rivaldo, vamos parar de brincadeira e vem logo aqui antes que eu perca a paciência.

– Ok, eu vou, mas vê lá o que você vai fazer.

– Isso, aqui, bem juntinho. Agora olhe bem lá para baixo e sinta o chão que estamos pisando.

– Mas o que o chão que estamos pisando tem a ver com a altura que precisamos descer?

– Rivaldo, apenas sinta o chão. É duro ou macio?

– Bem… deixa eu ver… é, interessante.

– Interessante o que?

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Biomax-mep.com.br, meramente ilustrativa.

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