NOTAS DO “JORNAL DOS MUNICÍPIOS” EM JANEIRO DE 1978

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Próximo centro de troncos rodoviários, Patos de Minas tem que, naturalmente, estar com o devido preparo para integrá-lo. E inúmeras pessoas já aqui aportaram e aportam, realizando pesquisas no sentido de aplicarem investimentos, quer nas áreas industriais, agro-pecuárias do comércio. Ao chegarem, sabendo da movimentação desenvolvimentista que, breve, as convergentes rotas rodoviárias nos proporcionarão, os viajantes investidores que (de um modo geral, hoje, são usuários de nossos ônibus), tanto precisamos, sentem-se alegres ao primeiro contato conosco, ao verem na Major Gote a conhecida e fixa saudação “BEM-VINDO À TERRA DO MILHO E DO FOSFATO”, mas… depois espera-lhes uma RODOVIÁRIA tão pequena e suja, voltando eles até para outras cidades vizinhas, antes mesmo de conhecerem a nossa. É necessário, portanto, que a nova RODOVIÁRIA de Patos de Minas seja urgentemente construída, para que, como nossa digna sala de visitas, corresponda, de fato, ao nosso “BEM-VINDO À TERRA DO MILHO E DO FOSFATO”.

O globo ainda lá está, na esquina da Avenida Getúlio Vargas c/ a Rua Olegário Maciel, no casarão, cheio de tantas portas, do saudoso comerciante (o maior torcedor de futebol que conheci) Sr. Zama Alves. O inesquecível Zama gordo, de quem assim se referiam para diferenciá-lo do magríssimo (verdadeiro contraste com a sua inteligência), o também saudoso Zama Maciel. Globo que, agora, sem letreiros, faz-nos a todos, que o conhecíamos antes, reavivá-los, numa dessas lembranças que apertam corações: “CASA ZAMA”, oh “CASA ZAMA”, que não volta mais!

Muito se tem dito das doenças perigosíssimas, transmitidas ao homem pelos ratos de cemitério, colhidas nos defuntos em decomposição, sob os conhecidos sete palmos de terra depositados. O enterro passava, outro dia, em direção ao Sta. Cruz, quando vendo-o, pensei sobre o propalado acima, já compreendido por povo vizinho, adiantado ou avançado no tempo, como queiram, mas digno de imitação, que já instituiu através de seu alevantado corpo legislativo, seu forno de cremação de corpos, sob a aquiescência de ilustre figura eclesiástica. Se a alma é imortal, como afirmou há pouco tempo S.S. o Papa, e o corpo é sujo e efêmero, não seria melhor transformá-lo em cinzas, ao último sopro de nossas vidas, guardando-as, se quizerem, ou jogá-las como que no Ganges de nossa terra, o Paranaíba. Avançada ou não, porquanto no tempo do Império já existia, para cremação de corpos, o Templo da Combustão; Uberlândia terá breve o seu forno crematório, para que seja devidamente imitada por todos nós. Fazê-lo o mais breve possível, pois se os mortos continuam cada vez mais vivos disse-o, também, S.S. o Papa, eles estão a nos espreitar a todos e todos nós, avisando estranhadamente da esquesitice desses nossos sepultamentos atuais, repelindo-os como verdadeiros sepulcros caiados.

Dia 28/11/77, 18 hs. e 8 ms. Esquinas da Rua Tiradentes c/ Travessa Queiroz. Subia por esta um grande, pela sua estatura física e, acima de tudo, espiritual, cidadão patense. O momento proporcionou-me a honra de, por alguns instantes, batermos um papo. Através do qual fiquei surpreso ao me dizer que espera, se Deus estabelecer, atingir 100 anos de idade. Pelo seu modo, ainda “espigadinho”, ele, com certeza, agora com 98 anos de idade, parece-me, como o encontrei, no encontro casual acima, o que muito me agradou, chegará, com a bênção de Deus, envolvido pela amizade dos seus e de todos os conterrâneos, ou não, a 1 século de vida. Vida que é um símbolo ímpar de valor moral, de que tanto Patos se rejubila, na pessoa exemplar do ilustre médico Dr. João Borges.

Patos de Minas, no dia 12/12/77, emocionada, sob autêntica demonstração de dor e de comoventes soluços, levou ao Sta. Cruz o corpo de seu grande amigo: Binga. Ele que, em vida teve, como todos nós, os seus erros e virtudes, estas mais que aqueles, entre as quais, cumpre-me aqui, numa reverência à sua memória, assinalar: foi um homem extremamente bom. Bondade que, certamente, dar-lhe-á lugar merecido na Assembléia Eterna.

Nem sempre há vôo sem pássaros. São pássaros da imaginação, levando-nos por imensos vôos do pensamento aos poemas para rezar do ilustre Prof. Ricardo Rodrigues Marques nas horas em que as brisas do infinito sussurram em nossas vidas, fazendo-nos como que, ao lermos esses poemas, mormente em horas da “Ave Maria”, na “real abstração” de seus momentos, como aconteceu comigo, invocar também: “SENHOR, QUE A FORÇA DE TEUS MILAGRES FAÇA CRESCER EM MIM NOVO FRÊMITO DE ASAS”.

* Fonte: Notas publicadas na coluna “Palanque do Povo” da edição de 04 de janeiro de 1978 do Jornal dos Municípios, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

* Foto: Capa da edição do citado jornal. A matéria “A Morte de um Bom Adversário” está publicada com o título “Sebastião Alves do Nascimento (Binga) − Falecimento: Homenagem de um Adversário Político”.

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