ANARQUIA POSTAL

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4Em 1937, o Serviço Postal de Patos de Minas enfrentava sérios problemas em sua estrutura primordial, que era a coleta e entrega de correspondências. A revolta dos patenses era gritante, a ponto do jornal Folha de Patos, em 05 de julho, publicar a seguinte matéria, com o título Anarquia Postal:

Reina absoluta anarquia no serviço postal pelo menos no tocante a esta zona.

Até há pouco tempo a agência postal local, uma das mais movimentadas do oeste e triângulo mineiro, padecia de um desgoverno lamentável. Todavia, com a designação do atual encarregado da nossa agência postal-telegráfica, as coisas ali vão melhorando sensivelmente, estando em vias de se normalizarem.

Mas, quando assim esperávamos, eis que surge de outra fonte, nova balbúrdia, nos ditos serviços que grandes inconvenientes têm trazido para o público e comércio, em geral.

Referimo-nos à desorganização, e por que não dizê-lo relaxamento do Ambulante da Oeste, que sem noção de responsabilidade, deixa de passar em Ibiá para o trem do ramal de Patrocínio, as malas desta zona, conduzindo-as para Uberaba. Isto já por duas vezes nesta semana. Chamamos a atenção dos responsáveis de Uberaba, para a anarquia que se observa no serviço postal, para esse tão inqualificável desmazelo. Se o funcionário é desidioso, que o processem regularmente, pondo-o, afinal, no olho da rua. O serviço postal deve ser saneado para o bem geral. Aqui fica nossa veemente e justa reclamação.

Passados alguns anos, a reclamação do jornal não surtiu o efeito desejado. A situação se agravou e o povo continuava descontente com os serviços da agência patense dos correios. Em 05 de maio de 1941, com o título Com Vistas à Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos, o mesmo jornal publicou outra matéria sobre o assunto:

Não são poucas as reclamações que nos são feitas contra os serviços da nossa agência postal-telegráfica.

O horário é incompreensível e arbitrário, sujeito à interpretação cômoda dos funcionários; a distribuição da correspondência demorada; as cartas expressas são às vezes entregues alguns dias depois da correspondência simples, e assim tudo mais. Não há boa vontade.

Reconhecemos que o número de funcionários é reduzido, não está proporcional ao movimento da agência, mas nem por isso se justificam irregularidades imperdoáveis.

Pedimos a atenção do Sr. Diretor Regional dos Correios e Telégrafos, com sede em Uberaba, para o fim de serem tomadas providências que ponham termo a uma situação que vem prejudicando seriamente a nossa cidade.

E o imbróglio continuou, parecendo até que a Diretoria Regional dos Correios não estava nem aí para as reclamações, pois mais uma vez o jornal se manifestou, desta feita em sua edição de 21 de dezembro de 1941, com o título Ainda Com os Correios:

O serviço de correios de Patos está constantemente em luta com os interesses da população. Várias vezes, temos reclamado contra ele, e, hoje, voltamos a campo na defesa dos prejudicados que, no caso, vem a ser todo o povo, com especialidade o comércio.

A agência local determinou que os condutores de malas não recebam mais correspondência avulsa, proibindo-os de aceitá-las de qualquer espécie. Ora, a mala expedida é fechada às dez horas e a jardineira parte para Catiara às doze horas. Há, portanto, duas horas entre um ato e outro.

Acontece ser hábito, por necessidade, facilmente compreensível, que sejam aproveitadas estas duas horas. Grande parte da correspondência de última hora é mandada para ser colocada no ambulante do trem noturno que passa em Catiara às quatro horas. Esta correspondência só é aceita pelos proprietários de jardineiras quando devidamente selada. Não há, portanto, prejuízo para o correio, e se serviço houver este é dos citados proprietários que também fazem o transporte de malas gratuitamente.

A falta de senso prático da referida ordem resulta em claridade meridiana.

O jornal tem por finalidade defender os interesses do povo a quem serve. Veiculamos as queixas de nosso povo, e transmitimo-las às autoridades competentes para devido exame e solução.

Aqui fica registrada esta anomalia da agência do correio local, com vistas da Administração Geral dos Correios.

Agindo como representante do povo, o jornal deve ter recebido da Diretoria Regional uma resposta sobre as queixas, isto porque em 11 de janeiro de 1942 a Folha de Patos, com o título Ainda Com os Correios, se manifestou novamente:

Continuando os nossos comentários sobre o ofício que nos foi dirigido pela Diretoria Regional dos Correios de Uberaba, queremos salientar que jamais o comércio de Patos, (ou mesmo particulares), pleiteou a condução de correspondência nos carros que fazem regularmente a carreira para Catiara para ludibriar a agência local, no tocante a selagem da mesma correspondência.

Só em uma hipótese poderia o correio ser logrado, aquela de cartas para a Estação de Catiara. E esta hipótese deveria ser desprezada, dada a insignificância do movimento, e dado o constante vai-vem de passageiros entre Patos e a dita Estação, passageiros estes que poderão conduzir cartas sem selos, mas sobre os quais não é possível os “zelosos uberabenses” exercer vigilância.

A alegação da Diretoria Regional naquele sentido, é sem cabimento, e não merece maiores comentários.

As mais vivas demonstrações de apoio à “Folha de Patos” vêm recebendo da parte da população da cidade, e das cidades vizinhas, relativamente à nossa atitude em fase dos serviços do correio local. O apoio popular dá alento para novas investidas.

E a Folha de Patos, realmente, praticou novas investidas contra os Correios e Telégrafos de Patos de Minas, atos que muito contribuíram para que, paulatinamente, os serviços fossem aperfeiçoados.

* Fonte: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Noticias.r7.com.

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