Dois amigos patenses descendentes de portugueses, já muito rodados na vida, lanchavam tranquilamente no Café Expresso numa manhã de sábado, como faziam frequentemente. Um deles comentou:
– Essa mania dos brasileiros dizerem que em Portugal só tem Manoel e Joaquim já está me torrando a paciência, onde já se viu isso, imaginar que em Portugal só tem Manoel e Joaquim, isso é um absurdo, não é mesmo Joaquim?
– É isso aí, Manoel.
Coincidência ou não, os dois amigos patenses descendentes de portugueses se chamam Manoel e Joaquim. Depois do lanche, o Manoel foi em busca da esposa que fazia compras numa loja de confecções na Rua Major, e o Joaquim o acompanhou. Foram papeando, travando contato com os conhecidos, criticando o poder público por permitir a instalação dos insanos toldos que são riscos à integridade física dos transeuntes, xingando um desgraçado que passou pilotando uma moto de barulho ensurdecedor, olhando com cara de poucos amigos uma das inúmeras peruas locais que, ao lado de uma lixeira, jogou ao chão um folheto, até que chegaram à loja. Quando o Joaquim olhou lá para dentro através do vidro da vitrine reparou no que parecia para ele um manequim de costas e comentou com o amigo:
– Tem base não, Manoel, olha só a roupa daquele manequim, que coisa horrorosa, parece uma daquelas peruas que vivem zanzando pelo Centro e, nusga, que balofa, como é que pode isso, um troço feio desse como manequim!
No que o Joaquim acabou de comentar, o manequim se mexeu, virou-se e foi em direção à entrada da loja. Foi nesse exato momento que ele percebeu a enorme, a estratosférica, a colossal rata que acabara de cometer: era a esposa do Manoel.
Dizem que o Joaquim e o Manoel não são vistos juntos na lanchonete há muito tempo.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.