MELHORAMENTOS NECESSÁRIOS EM 1907

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TEXTO: JULIO FLORO (1907)

Ora que se acha reunida a edilidade, seria occasião azada tornarmos sentido o que se faria mister e necessario fôra para transformar-se nossa cidade em uma das melhores deste centro.

Isso, porem, haveria logar si não fossemos os primeiros a reconhecer que parcos são os seus recursos, minguados os seus orçamentos, não afferecendo assim margem a grandes melhoramentos. Mas, si no geral assim o é, tambem não deixamos de assignalar que o honrado antecessor do actual Agente Executivo¹, com a sua administração toda de economias, cujos beneficios ora se patenteiam, preparou um terreno seguro, pelo qual pode agora perlustrar a nossa Camara e seu Poder Executivo, levando por deante melhoramentos de grande monta, sem sacrificios dos creditos e das finanças de nosso municipio.

Si o momento é de relativa folgança, porque delle não nos aproveitar?

O pensamento do illustrado Agente executivo actual, já manifesto, é o saneamento, não só desta cidade, como tambem dos districtos.

Ora, o saneamento de nossa cidade envolve problemas varios e complexos a se resolverem, dentre os quaes se sobreleva o da canalisação de agua potavel, construcção de um matadouro, arborisação da cidade, prohibição de chiqueiros no centro da cidade, etc., etc.

De alguns destes problemas já temos tractado sucessivamente no “Trabalho”.

Destes melhoramentos, porem, os de mais palpitante necessidade são o abastecimento de agua, construcção de matadouro e arborisação. Uma vez realizados estes, os outros se impõem para os completarem, não só pela força do meio como dos seus agentes. Qual o proprietario de chiqueiro que, vendo a cidade assim cuidada e saneada, se atreveria mais a ter chiqueiro de porcos? E, quando ainda nisto teimasse, não estaria ahi toda a população a exigir-lhe a retirada delle?

De outro melhoramento que já temos ouvido fallar, é a mudança do Cemitério. Concordamos que a sua localização não é a melhor, por tender a ficar no centro em vista do crescimento da cidade. Mas, dahi dizer-se que não se presta mais elle e seus fins vae grande distancia. Dizem ter elle já toda a sua area saponificada. Ora, a não ser que as condições e constituição de seu terreno sejam especialissimas, não podemos absolutamente admittir em vista do que nos ensinam os mestres, ter elle já o seu terreno saponificado.

No Brasil, em varias de suas principaes cidades, ha cemiterios que funccionam ha mais de trez séculos, sem que ate hoje se notem saponificadas as suas areas. Haja vista o da Consolação em São Paulo; o Campo Santo, na Bahia; o de Aracaju, em Acarajú; o de S. Francisco, em S. Francisco; o da Boa Morte, em Barbacena, etc., etc.

O que aqui ha entre nós, não é a saponificação do terreno, é a falta de local para enterramentos, não podendo em vista disso, dar-se tempo á inteira decomposição do cadaver, parecendo, por isto, a primeira vista, estar de facto, o terreno já saponificado.

Tome a Camara outras providencias; exija deitar-se na sepultura productos que abreviem a decomposição e evitem exalações, aprofundando as sepulturas, e meio caminho já terão andado para satisfazer as exigencias dos que isto reclamam.

Si ainda algo fôr preciso, augmente-se provisoriamente uma pequena area, mesmo cercada de arame trançado, e teremos assim obviado em parte os inconvenientes que se apontam.

Respeitemos os mortos, cuidemos, porem, antes de tudo, dos vivos, para que trabalhem pelo progresso desta terra.

* 1: Jerônimo Dias Maciel (01/01/1905 a 16/08/1906) e Olegário Dias Maciel (04/01/1907 a 04/01/1908), respectivamente. Há um pequeno intervalo entre os dois ocupado por José Carlos Nascentes (16/08/1906 a 04/01/1907). Leia “Prefeitos”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Melhoramentos locaes” na edição de 20 de janeiro de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Original do início do citado texto.

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