LAGOA GRANDE: VELHO SONHO

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TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1941)

No planalto em que foi, durante quasi cem anos, fincada a cidade, tres lindas lagôas refletiam a côr dos céus. Uma, onde hoje está o brejo que separa a cidade em duas partes, foi secáda por um português qualquer, em tempos relativamente já bem remótos. Outra, a lagoínha, combatida pelas enxurradas, já quasi desapareceu, e, em bréve ficará esquecida. Resta, já pobre em tamanho e coberta de capim, a Lagoa Grande, outrora imenso sonho de praia com mais de dois quilometros de comprimento por seiscentos metros de largura, na qual, nos tempos da fundação da cidade, brincavam os patos selvagens, dormitavam os jacarés, e a córsas fugidias, tranquilamente, espiando os socós pernaltas e as garças brancas, mitigavam a sêde.

O plácido lençol que ia dos fundos da casa do velho Jacinto, banhava quasi os cercados dos moinhos de trigo, tinha vontade de se derramar para o ribeirão, ou de entornar-se para o Paranaiba, foi, a pouco e pouco, retirando-se, nivelando-se, perdendo a antiga grandeza.

A erosão, trabalhando pacientemente nas estradas, é a grande responsável pelo fenômeno de ordem geográfica, e pelo crime de ordem estética.

Mas não foi somente a chuva nutriz a grande inimiga do lago primitivo. O homem interveio, e, capaz de modificar o ambiente físico, aliou-se às águas pluviais na obra de nivelamento. As enxurradas foram canalizadas metodicamente para o côncavo tranquilo. Buracos, cercas, bebedouros, conjugaram-se para quebrar as linhas naturais, dispostas em harmonia com os plainos simétricos que arquitetaram a suave ondulação de nossos campos.

Em meio aos espíritos negativistas, insensíveis às creações da beleza, houve sempre aqueles de eleição, sonhadores, capazes de comoverem-se ante tôdas as exteriorizações do belo.

Daí, o velho sonho de muitos patenses, qual o de se por um fim as mutilações efetuadas contra os recantos aprasíveis que circundam a cidade. E nenhum se cristalizou com mais pureza que o de impedir a destruição paulatina da linda Lagoa Grande.

O sr. Prefeito Clarimundo Fonseca deseja realizar êsse sonho, construindo o cais em tôrno do lago, transformando-o em passeio público.

Obtivemos esta informação e transmitimo-la aos nossos leitores, com os nossos aplausos calorosos.

Calma, cheia de agua azul, a lagoa será o mais belo logradouro da cidade, desta cidade que cresce em tôdos os sentidos, principalmente em direção às correntes que lhe banham, não fugindo assim à lei histórica de que os grandes centros urbanos se ergueram sempre à margem dos rios, dos lagos ou do mar.

* Fonte: Texto publicado com o título “Velho Sonho…” na edição de 13 de julho de 1941 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

* Foto: Do livro Patrimônio de Santo Antônio: Do Sítio ao Templo, de Sebastião Cordeiro de Queiroz, publicada em 20/01/2017 com o título “A Chapada na Década de 1940”. À esquerda, a Lagoa Grande.

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