TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1914)
Tão frequente apparecimento dos agentes de companhias de seguros que vêm esplorando o nosso povo (desculpem-nos; nossa pobre penna não encontra expressão mais adequada) sugeriu-nos a epigraphe acima. Logo que entre nós apparece um typo elegante, bem trajado e empunhando pequena mala, ouve-se – “E’ um agente de companhia de seguros, garanto”!
E’, sim, uma verdadeira epidemia que nos invade a par da acabrunhadora crise financeira, essa propaganda de seguros. Os agentes, cuja labia é irresistivel para os ingenuos, vão estimulando-nos o dezejo de melhor sórte, conseguindo arrancar, aqui, ali e acolá, centenas e centenas de mil réis.
Para melhor exito da pescada, servem-se esses agentes do intermedio e auxilio de nossos mesmos conterraneos. O mal é contagioso, propaga-se, por isso vamos nos envolvendo e envolvendo aos outros na rêde dos pescadores. Estes, no pouso, ao terminar do giro, e entre zombeteiras gargalhadas, exclamarão, desentulhando os bolsos recheados de notas – Eta, povo bobo! Incautos e ingenuos que somos! Continuemos a nos deixar seduzir pelo canto das sereis… Continuemos…
Embora não tenhamos os conhecimentos precizos para apontar os defeitos desta ou daquella Companhia, entre as muitas que surgiram por esses Brazis, podemos garantir que nem todas possúem uma organisação com a qual possam satisfazer o fim a que se propôem. Assim, por exemplo, não é possivel que todos os socios de umas certas Companhias possam até o final, aguentar com os elevados e repetidos sinistros das mesmas. E, de tal maneira, essas Companhias locupletar-se-ão com o prejuizo de muitos.
Continúam, por estes meios, os desagradaveis effeitos da serie chamada liberal de uma Companhia de seguros com séde neste nosso Minas. Não fôra sem razão, que ha pouco, nestas colunnas verberamos a maneira abusiva com que estavam sendo feitos os seguros na dita serie, a qual dá logar a gravissimas consequencias, como sejam: envenenamento e mortes, conforme o que, nestes dias, narrou um jornal do Rio. Ao passo que os seguradores, dominados do dezejo de fortuna, procuram mercadejar a vida do próximo, effetuando os seguros sem o conhecimento ou consentimento dos segurados, vão sendo alvos da antipathia e das imprecações desses segurados e de suas familias. Como é natural, mais cêdo ou mais tarde, descobre-se o segredo, e eis os seguradores de encontro a terrivel, porem, justa indignação!
Não acham um pouco desairoso e triste esse meio de enriquecer-se? E não se deverá pôr termo a taes desordens?
PACIFICUS.
* Fonte: Texto publicado com o título “Uma Epidemia!” na edição de 22 de fevereiro de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Gerandodemanda.com.br.