A cultura patense está perdendo mais espaço físico, como se isso ainda fosse possível. Mas é verdade: o Teatro Telhado¹, construído em 1978, com o auxílio da Prefeitura Municipal, comércio local, pessoas ligadas ao movimento cultural e com a participação direta de elementos do CET (Centro de Estudos Teatrais), deverá ser demolido dentro de algumas semanas. Em seu lugar, o Grupo Braz Silva, proprietário do terreno, irá construir, a médio prazo, um edifício comercial e residencial.
De imediato, será implantada no local do teatro uma loja de brinquedos. Parece até brincadeira do destino. Sede do extinto CET durante seis anos, o Teatro Telhado serviu de local para a apresentação de mais de 12 peças de teatro, perfazendo um total estimado em cerca de 120 espetáculos teatrais encenados no pequeno palco de 22,5 metros quadrados. Lá, 136 poltronas receberam até hoje um público estimado em mais de 16 mil pessoas, que assistiram não somente peças, mas também shows musicais dos mais diversos grupos e cantores.
É triste falar em espaço físico para a cultura em Patos de Minas. Causa desânimo – isso é perceptível – em qualquer militante da cultura patense, a lembrança da omissão e desinteresse de autoridades constituídas no que diz respeito à construção de locais próprios para a realização de eventos culturais. Na área de teatro, a situação é mais grave e constrangedora. O Teatro Telhado, em vias de ser jogado ao chão, é (ou era) o único local especificamente destinado à apresentação de peças.
O que se vê, em decorrência de todas as dificuldades enfrentadas pelo setor de teatro da cultura de Patos, é o enfraquecimento e a inatividade dos grupos. Lógico, sem locais apropriados sequer para promover ensaios, os grupos de teatro – seus integrantes – vêem-se obrigados a abandonar seus ideais e deixar morrer o sonho. Na verdade, o sonho da continuação do Teatro Telhado já acabou, e isso reflete uma situação geral em Patos de Minas, o que provoca não só a inatividade dos grupos existentes, como também impede o surgimento de novos grupos.
É preciso entender que o esforço de Vicente Nepomuceno, João Marcos Pacheco, Romero Nepomuceno e tantos outros patenses não foi em vão. Todas as peças montadas e, antes, ensaiadas no Teatro Telhado são a prova disso. Mas, sem dúvida nenhuma, ver este esforço jogado por terra, depois de 8 anos, deve representar para todos aqueles que militam na cultura de Patos de Minas o mesmo que receber uma punhalada fatal-irreversível, certeira. Dá o que pensar ver um dos setores de nossa cultura morrer à míngua, sem merecer a atenção de políticos – ditos representantes do povo – e autoridades constituídas.
Estamos em ano político e não há melhor ocasião para que candidatos de Patos prometam (desde que cumpram depois) a construção de um Teatro Municipal em nossa cidade. Ou será que Patos, com mais de 100 mil habitantes, não necessita de um teatro? Seria um local não apenas para apresentações de espetáculos teatrais, mas também para outros fins, oferecendo espaço físico à cultura de nossa gente.
No dia 7 de julho de 1978 era inaugurado em Patos de Minas o Teatro Telhado, um sonho dos integrantes do CET – Centro de Estudos Teatrais, que até então enfrentavam problemas com local apropriado para a realização de ensaios e apresentações de peças. O CET, naquela época um dos 5 grupos de teatro de Patos, assinou então um contrato de comodato com João Pacheco Filho – proprietário do terreno ocupado pelo teatro. Este contrato durou até 1982, quando Anávio Braz de Queiroz, um dos sócios da Braz Silva, adquiriu o terreno e o cedeu ao CET também através de comodato.
Conforme declaração de João Marcos Pacheco, presidente da Fundação Cultural do Alto Paranaíba (FUCAP) – entidade a qual foi doado o patrimônio do CET, quando de sua extinção em setembro de 1984 –, o atual proprietário do terreno onde está erguido o teatro não possui culpa. Segundo o presidente da FUCAP, Anávio Braz “é um homem de grande espírito comunitário que, depois de adquirir o terreno, em 1982, continuou permitindo a atividade do Teatro Telhado, através de contrato de comodato”.
A primeira peça apresentada no Teatro Telhado foi “O Rapto das Cebolinhas” de Maria Clara Machado, dirigida por Walmir Oliveira. Fizeram parte do elenco de “O Rapto das Cebolinhas”, apresentada para inaugurar o teatro, Marcos Alves, Aurélio Pinheiro, Heitor Pinheiro, Saint-Clair Nascimento, Júlio César Nepomuceno, Ana Neri Oliveira, Saul Borges, Beatriz Santana e Elaine Viegas. No mês seguinte seria apresentada a peça “Quarto de Empregada”, de Roberto Freire, dirigida por João Marcos Pacheco e estrelada por Marlene Pinheiro e Maria Aparecida de Paula, uma das peças que mais atraiu público ao Telhado.
Durante os 8 anos de Teatro Telhado não faltavam visitas ilustres. E uma delas, sem dúvida, merece ser registrada: a de Paulo Autran, um dos mais conceituados nomes do teatro brasileiro. O CET havia trazido o ator a Patos para apresentar o monólogo “O Ator e o Texto” e naquela tarde do dia 10 de junho de 1978, Paulo Autran foi ao Telhado (em fase final de construção) bater um papo descontraído com rapazes e moças integrantes do CET. É do mesmo dia a mensagem manuscrita deixada por Paulo Autran àqueles jovens entusiastas do teatro patense, onde expressa seu desejo de que o grupo continue sempre coeso e unido (foto).
Mesmo sem oferecer condições para a apresentação de algumas peças, como “O Milagre de Anne Sullivan”, “1 + 1” Não é Um Só” e “PUTZ – A Menina que Buscava o Sol”, o Teatro Telhado foi importantíssimo na montagem daquelas peças, uma vez que ali foram feitos todos os ensaios das mesmas.
A peça “O Milagre de Anne Sullivan” é um dos principais trabalhos do CET – sem dúvida o mais comentado. Sobre ela, na época de sua apresentação, disse o professor Adolfo Anderle: Ao Centro de Estudos Teatrais de Patos de Minas nós queremos parabenizar por dois motivos: Pela escolha felicíssima da peça “O Milagre de Anne Sullivan”. E pelo desempenho maravilhoso dos artistas. Todos os professores de excepcionais deveriam assistir essa peça para se entusiasmarem com o que é possível fazer com as crianças excepcionais; todos os pais e irmãos de crianças assim, deveriam assistir para aprender um pouco de como agir; enfim todo o povo deveria assistir para aprender a aceitar e apoiar as escolas que lidam com excepcionais e para testemunhar que aqui em Patos temos artistas tão bons quanto os do Rio ou de qualquer outro centro cultural do país.
Afora as apresentações teatrais, calculadas em torno de 120 nestes 8 anos, perto de 30 shows musicais, cursos de arte, palestras, debates, filmes e outras atividades artístico-culturais tiveram lugar no Teatro Telhado. Estima-se que um público entre 16 e 17 mil espectadores assistiram a algum tipo de apresentação no Telhado.
* 1: Localizava-se na esquina da Rua Major Gote com Avenida Brasil, onde hoje funciona uma farmácia de manipulação.
* Fonte e foto: Texto publicado com o título “O Sonho Acabou” e subtítulo “Inaugurado há 8 anos, o Teatro Telhado, onde já foram feitas mais de 100 apresentações de peças e shows, tem seus dias contados” na edição n.º 148 de 30 de setembro de 1986 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.