HOSPITAL REGIONAL ANTÔNIO DIAS

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Em 1913, formado no Rio de Janeiro, começa sua clínica o Dr. Adélio Dias Maciel. Em 1914, outro filho de Patos, o Dr. João Borges, cola grau em medicina, passando a clinicar em sua terra. Em 1915, o Dr. Adélio instala na farmácia do primo Agenor um Laboratório de Análises Clínicas com “aparelhos dos mais aperfeiçoados para todo e qualquer tipo de exame”. Foi um grande avanço para a cidade que contribuiu em muito para propiciar a criação do primeiro hospital de Patos.

Encontros aparentemente informais entre os Drs. Adélio e João com os farmacêuticos Agenor Dias Maciel e João Gualberto de Amorim Junior, depois reunidos outros integrantes, propiciaram a iniciativa da criação, por necessidade urgente, de um hospital em Patos. No dia 21 de fevereiro de 1915, com grande número de pessoas da sociedade, reuniram-se os mentores do movimento no Cine Magalhães. Durante os debates aparece o problema de como angariar fundos. Então, o Dr. Adélio sugere a formação de comitês e subcomitês. Os primeiros seriam constituídos na cidade, enquanto os outros, nos distritos. A sugestão foi unanimemente aceita e assim se desdobrou:

Comitê Central: Dr. Antônio Carlos Soares de Albergaria, presidente; Dr. João Borges, secretário; Major João Gualberto de Amorim, tesoureiro; Major Sesóstris Dias Maciel, Cônego Getúlio Alves de Melo, João Gualberto de Amorim Junior e Dr. Adélio Dias Maciel, membros.

Comitê Feminino: Jorgeta Maciel, Olímpia Caixeta de Amorim, Mariana Augusta de Santana e Lina Corrêa Borges.

Subcomitê de Lagoa Formosa: Laura Dejanira da Fonseca, Florescena Borges da Fonseca e Cândida Corrêa Borges.

Subcomitê Santa Rita: Ermelinda de Araújo, Balbina de Araújo Marra e Violeta Luiz de Mendonça.

Subcomitê de Santana: Ana Gonçalves da Cunha, Ana Tereza de Jesus e Salvina Caixeta.

Subcomitê Areado: Rita de Cássia Novais, Ormezinda Corrêa Borges e Emília da Mota.

Formados os comitês e subcomitês, puseram mãos à obra. Entusiasmado com a idéia, o Capitão José de Santana (Capitão Juca) doou o terreno para o futuro hospital. Apesar de a política, na época, ser acirrada, todos deixaram de lado suas ideologias e paixões partidárias e procuraram dar-se as mãos para a execução de tão nobre objetivo. Era pensamento dos líderes do movimento construir um hospital de caráter regional, a fim de atender a toda a região, carente deste tipo de recurso. Mas, dificuldades imprevistas obstaram a realização do intento, apesar de terem fundado o Hospital Santo Antonio¹, que não chegou a funcionar, uma vez que não se construiu o prédio nem se adquiriu nenhum material para sua instalação.

Apesar dos historiadores dizerem que não chegaram a arrecadar nenhuma importância em dinheiro e que conservou-se apenas a lista de adesões e promessas de contribuição para levar-se avante a construção do hospital, houve sim muitas doações dos cidadãos patenses e até de gente de fora, como atesta uma pequena nota publicada na edição de 31 de outubro de 1915 do jornal O Riso: Para a construção da nossa Casa de Caridade, que brevemente virà preencher uma sensível lacuna em nosso meio, concorreram os seguintes moradores em Carmo do Paranahyba. E cita os nomes e respectivas importâncias doadas: Pe. Gregorio Lombraña (20$) e Francisco Cherubim Vargas, Jovino da Costa Sampaio, Azarias José da Silva, Braz Domingues de Araujo, Ananias Antonio de Manezes e Dr. Leoncio P. de Mello, todos com 10$.

Quando tudo parecia perdido, Olegário Dias Maciel foi eleito Presidente do Estado, por causa da morte de Raul Soares. Aí entrou o irmão de Olegário, Farnese Dias Maciel. Este o convenceu a executar o projeto da construção do hospital. O sonho, porém, era maior que as possibilidades. Os alicerces se transformaram em campo de recreio para as crianças. Somente em 1924, com verbas estaduais obtidas por Olegário Maciel, a obra ganha novo impulso, mas, assentado o madeiramento em alguns dos pavilhões, esgotam-se os recursos. Outra longa espera². Frustrado, nosso povo vê o madeiramento apodrecendo. Cresce o prestígio de Olegário e o povo volta a sonhar. Mais ou menos quatro anos depois, chegam novas verbas e as obras prosseguem, mas ainda faltava uma adversidade: na fase de acabamento, as peças de louça e os metais hidráulicos que aqui estavam para serem instalados são removidos para Barbacena. Olegário intervém e, prontamente, chegam novas peças. Conclui-se a obra. Chegavam o mobiliário e as roupas de cama. O povo afluiu para a arrumação de tudo. Olegário fora eleito Senador e Presidente do Estado e nada mais impediria a inauguração.

O Presidente eleito tudo acompanhava pessoalmente. Intrigada com seu retiro em Patos, a grande imprensa aqui manda repórteres para entrevistá-lo. Um deles, do Diário Carioca, vendo o prédio do Hospital, deixa escapar a seguinte exclamação: “Se os dirigentes da nossa Santa Casa vissem aquilo”.

No dia 17 de julho de 1930 chegam a Patos as autoridades que vinham para a inauguração. A comitiva é grande, afinal, aqui a esperava o Presidente eleito. Há um banquete no Hotel Rodovia³. Mais tarde, patrocinada pela Câmara, há uma grande festa na Chácara da D. Nhá (Etelvina Maciel, viúva do Major Jerônimo Dias Maciel), na hoje esquina da Rua Padre Caldeira com Rua Major Jerônimo.

No dia 18 de julho de 1930, às 13:00 horas, se iniciam as solenidades de inauguração. Antes fora habilmente resolvido um problema: queriam os patenses que o Hospital tivesse o nome de Olegário Maciel. Este recusou terminantemente. Foi, então, escolhido o nome de seu pai, Antônio Dias Maciel, o Barão de Araguari. Ante o respeitoso silêncio do Presidente, prevaleceu a sugestão. A História só não contou porque a ausência do “Maciel”.

A cidade jubilava. À noite houve uma festinha – “brincadeiras”, como se dizia – na casa do Cel. Arthur Thomáz de Magalhães.

No outro dia, partia a comitiva das autoridades e, com ela o Dr. Olegário, que ia preparar suas posses no Senado e na Presidência do Estado. O povo patense, emocionado, foi-se despedir dele. O ambiente era festivo, mas muitos choravam. Olegário, circunspecto, partiu. Patos o ofereceria definitivamente à Pátria. Absorvido pelas obrigações de Estado, aqui não voltaria mais. Aquela ata de inauguração do Hospital Regional Antônio Dias, que ali se guarda com carinho, foi o último documento assinado em Patos de Minas pelo grande estadista. Olegário Dias Maciel faleceu em Belo Horizonte no dia 05 de setembro de 1933.

Desde 1932, o Hospital conta com a colaboração inestimável das Irmãs da Congregação das Religiosas de Nossa Senhora das Dores.

* 1: Leia o texto “Hospital Santo Antonio: Embrião do Regional”.

* 2: Leia “Hospital Centra: Sucesso do Santo Antônio e Antecessor do Regional”.

* 3: Leia “Rodovia Hotel – 1937”.

* Fontes: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca;  Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello e edição n.º 6 da revista A Debulha, de 31 de julho de 1980.

* Foto 1:  Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 05/03/2013 com o título “Hospital Regional na Década de 1930”.

* Foto 2: Patos Hoje.

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