O movimento para dotar Patos de um hospital teve começo em 1915 e seus cabeças foram os médicos Adélio Dias Maciel e João Borges, os farmacêuticos Agenor Dias Maciel e João Gualberto de Amorim Jr. (Zico Amorim), Sesostris Dias Maciel (Major Gótte) e Cônego Getúlio Alves de Mello.
No dia 21 de fevereiro, com grande número de pessoas da sociedade, reuniram-se os mentores do movimento no Cine Magalhães. Durante os debates aparece o problema de como angariar fundos. Então, o Dr. Adélio sugere a formação de comitês e subcomitês. Os primeiros seriam constituídos na cidade, enquanto os outros, nos distritos. A sugestão foi unanimemente aceita.
Entusiasmado com a ideia, o Capitão José de Santana, o Capitão Juca, doou o terreno para o futuro hospital. Apesar de a política, na época, ser acirrada, todos deixaram de lado suas ideologias e paixões partidárias e procuraram dar-se as mãos para a execução de tão nobre objetivo.
Em 12 de outubro, o jornal O Riso comentou sobre o movimento:
Graças ás novas deliberações postas em pratica pela commissão do Comité, parece ter tomado agora um grande impulso, com bôas tendências a se transformar em realidade, a gigantesca idéa de se construir nesta cidade uma casa de caridade – O Hospital S. Antonio.
E’ a nosso ver um dos maiores melhoramentos de que se vae dotar Patos, e para cuja acquisição não deve deixar de concorrer, proporcionalmente, ás suas forças, um só patense, visto como os seus effeitos não se limitarão aos habitantes da cidade apenas, mas, se extenderão a todos os necessitados do municipio.
Estes serão em breve, os melhores attestados da utilidade d’esta tão necessaria quão sublime instituição de caridade, podendo-se já antever, em futuro mui proximo, a diminuição do desenfreado charlatanismo reinante, e suas salutares consequências.
Que não fique, pois, só em iniciativa tão bello emprehendimento, é o que muito deseja um patense.
Foi realizada uma intensa campanha de doações, e essas doações não eram somente locais, mas de algumas cidades vizinhas. O mesmo jornal O Riso chegou a publicar em sua edição de 31 de outubro os nomes de alguns doadores de Carmo do Paranaíba e respectivos valores: Pe. Gregorio Lombraña (20$) e Francisco Cherubim Vargas, Jovino da Costa Sampaio, Azarias José da Silva, Braz Domingues de Araujo, Ananias Antonio de Manezes e Dr. Leoncio P. de Mello, todos com 10$. Muitos outros contribuíram.
Apesar do entusiasmo dos idealizadores e das doações, o tempo foi passando e o empreendimento ainda estava no papel. Mas no afã de se ver erguido na cidade o primeiro hospital, a luta continuava, como atesta esta nota publicada na edição de 10 de janeiro de 1918 do jornal O Commercio:
Entre todas as affirmações do rapido e crescente progresso de que se pode orgulhar a nossa cidade, muito bem impressionarà o espirito de seus habitantes, como o dos extranhos, a existencia do Hospital Santo Antonio. A’ frente desse emprehendimento, que tão elevados intuitos visa, acham-se vultos da maior representação social de Patos e mais directamente responsaveis pelo seu bem, e que não poupam esforços para a consecução deste benemerito objectivo da caridade.
O comitê encarregado da recepção de donativos, resolveu empregar o maximo esforço para o inicio das obras do hospital no menor praso, confiando a direcção das mesmas, que serão feitas por administração, ao Sr. Cap. Amadeu Maciel, cujo espirito de iniciativa e rara força de vontade são subejamente conhecidas em nosso meio.
Registrando com satisfação o valiosissimo donativo do Sr. Cpm. José de Sant’Anna, que concorreu para o hospital, com um magnifico terreno, e toda a madeira necessaria, o comité faz um appello a todos os habitantes do municipio para que accorram sem detença á realisação de tão humanitária idéa, depositando em mãos do thesoureiro Sr. Major João Gualberto de Amorim, as suas contribuições, o que espera, seja feito dentro do menor lapso possivel.
Apesar do esforço de todos, dificuldades imprevistas não registradas oficialmente obstaram a realização do intento. Mesmo com o Hospital Santo Antônio juridicamente instalado, não chegou a funcionar, uma vez que não se construiu o prédio nem se adquiriu nenhum material para sua instalação.
Quando tudo parecia perdido, Olegário Dias Maciel foi eleito Presidente do Estado. Aí entrou o irmão de Olegário, Farnese Dias Maciel. Este o convenceu a executar o projeto da construção do hospital. O sonho, porém, era maior que as possibilidades. Os alicerces se transformaram em campo de recreio para as crianças. Somente no final de 1924, com verbas estaduais obtidas por Olegário Maciel, a obra ganha novo impulso, agora com o nome de Hospital Central¹. Mas, assentado o madeiramento em alguns dos pavilhões, esgotam-se os recursos. Outra longa espera. Frustrado, nosso povo vê o madeiramento apodrecendo. Cresce o prestígio de Olegário e o povo volta a sonhar. Mais ou menos quatro anos depois, chegam novas verbas e as obras prosseguem, mas ainda faltava uma adversidade: na fase de acabamento, as peças de louça e os metais hidráulicos que aqui estavam para serem instalados são removidos para Barbacena. Olegário intervém e, prontamente, chegam novas peças. Conclui-se a obra. Chegavam o mobiliário e as roupas de cama. O povo afluiu para a arrumação de tudo. Olegário fora eleito Senador e Presidente do Estado e nada mais impediria a inauguração, que finalmente aconteceu em 18 de julho de 1930, mas não como Hospital Santo Antonio ou Central.
Queriam os patenses que o Hospital tivesse o nome de Olegário Maciel. Este recusou terminantemente. Foi, então, escolhido o nome de seu pai, Antônio Dias Maciel, o Barão de Araguari. Ante o respeitoso silêncio do Presidente, prevaleceu a sugestão. A História só não contou porque a ausência do “Maciel”.
* 1: Leia “Hospital Central: Sucessor do Santo Antonio e Antecessor do Regional”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: Jornal O Riso; jornal O Commercio; Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca; Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello e edição n.º 6 da revista A Debulha, de 31 de julho de 1980.
* Foto: Hospital Regional poucos meses após a inauguração, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 05/03/2013 com o título “Hospital Regional na Década de 1930”.