QUANDO O GATO URINA POR TODA A CASA

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AApós anos de domesticação e devido às condições de vida dos seres humanos, principalmente nos grandes centros urbanos, cada vez mais os gatos estão sendo mantidos em ambientes fechados, confinados em casa ou apartamentos, com pouco ou nenhum acesso ao ambiente externo. Tal espaço limitado pode resultar em distúrbios físicos e comportamentais.

Dentre as diferentes formas de comunicação, a olfativa em gatos se mostra muito importante. Várias glândulas sebáceas e apócrinas (compostas de uma parte secrecional espiralada) são responsáveis pela secreção de odores na pele, além das glândulas salivares. A urina e a secreção de glândulas faciais são utilizadas como forma de comunicação pelos animais. Vários trabalhos relatam à importância da comunicação através do olfato em felinos domésticos. Esta forma de comunicação pode ser utilizada para o enriquecimento de animais domiciliados bem como de laboratórios e zoológicos.

A marcação com urina, também conhecida como urina em spray, é um comportamento frequente, fazendo parte do repertório comportamental normal dos felinos domésticos. Quando este comportamento se mostra excessivo, é considerado responsável por até 44% das queixas de alterações comportamentais dos gatos no atendimento clínico. Este comportamento é muito frequente, principalmente nos gatos machos não castrados, que acredita ser com o intuito de marcação territorial, podendo também ocorrer em 10% dos gatos machos castrados e 5% das fêmeas.

A urina em spray se difere da micção normal. De acordo com um estudo realizado com 500 proprietários de gatos, observou-se que a grande maioria destes (74%) não é capaz de diferenciar a micção normal da marcação urinaria. Neste mesmo estudo constatou-se que 33% dos Médicos Veterinários avaliados não são capazes de diferenciar estas duas formas de eliminação e cabe aos mesmos orientar os proprietários que esta faz parte do repertório comportamental normal dos gatos.

Algumas situações podem agravar esta marcação, dentre estas podemos citar: excitação, invasão do território, mesmo que não seja diretamente por outro animal como cheiro de outros animais em seu território. Este comportamento também é utilizado como forma de comunicação, ocorrendo tanto nos machos quanto nas fêmeas, principalmente estas ultimas quando se encontram no período de estro (cio). Pode ocorrer também quando, dentro do ambiente familiar está presente uma nova pessoa, criança e outros animais dentro ou próximo do território e quando o ambiente se encontra com superlotação de animais ou a caixa de excrementos se encontra fora do local ou sobrecarregada.

Outra situação que pode agravar a marcação territorial inadequada é a cistite idiopática felina. Conforme relatos, onde foram descritos vários casos de animais que apresentavam marcação territorial excessiva e quando estes foram analisados através da urinálise (é usada como um recurso de triagem ou de diagnóstico porque detecta anormalidades de substâncias e de células associadas a distúrbios renais ou metabólicos e infecções urinárias) foi observado hematúria (presença de sangue na urina), urina concentrada e cristais de estruvita (fosfato amônio magnesiano, que predispõe a formação de cálculos), devendo-se levar em conta esta patologia no diagnóstico diferencial de distúrbios comportamentais relacionados a urina em spray.

Quando este comportamento se torna excessivo pode-se utilizar algumas opções de tratamento para que este seja reduzido e controlado. Conforme alguns autores os animais que são encaminhados à terapia comportamental, inicialmente deve-se realizar um exame clínico completo, associado a exames laboratoriais, a fim de excluir qualquer outra patologia associada, principalmente distúrbios do trato urinário. O tratamento atualmente mais recomendado para controlar este comportamento é a castração de ambos os sexos, pois como este comportamento apresenta forte influência hormonal, ocorre redução na manifestação do problema em cerca de 90% dos machos e 95% das fêmeas.

Outras formas de tratamento incluem mudanças comportamentais com remoção das causas, como evitar que um gato de fora tenha acesso ao ambiente do gato domiciliado e evitar acesso ao local aonde ocorre às marcações urinárias. Outra terapia é o contra condicionamento, estimulando o gato a despender energia de outras formas evitando que manifeste este comportamento. A punição também pode ser utilizada através de spray de água ou um leve tapa no focinho, mas esta última forma de modificação comportamental só irá funcionar se for aplicada no momento que o animal estiver realizando a urina em spray.

Associado as mudanças comportamentais pode-se empregar o tratamento medicamentoso. Os medicamentos utilizados nos tratamentos de distúrbios comportamentais começam a atuar, normalmente, cerca de 1 a 2 semanas após o inicio da administração. Dentre os fármacos utilizados os antidepressivos são atualmente os mais recomendados. A clomipramina atualmente é o fármaco de escolha. Em alguns estudos o índice de sucesso com a utilização deste se mostrou superior a 90%, com os resultados observados cerca de uma semana após a sua administração e após 7 a 8 semanas de uso obteve-se redução de 100% dos animais, quando comparado ao grupo controle e não foi observado efeitos colaterais. Há outros medicamentos para o controle, cada um com suas vantagens e desvantagens, cabendo ao Médico Veterinário decidir pelo mais indicado a cada caso.

Hormônios sintéticos têm sido utilizados, mas devido aos muitos efeitos colaterais seu uso tem sido desestimulado. Alguns estudos avaliando o uso destes obtiveram sucesso terapêutico de 55% a 74%.

Os feromônios também podem ser utilizados, apesar de ainda não serem facilmente obtidos no Brasil. Normalmente é aplicado em locais aonde o proprietário não quer que o animal urine. E tem sido utilizado com sucesso de até 97% dos casos.

O sucesso do tratamento depende da quantidade de fatores associados a este comportamento, o número de diferentes superfícies que são manifestadas, o temperamento do animal assim como a paciência, habilidade e persistência dos proprietários. Outro fator importante é o trabalho conjunto dos proprietários com o Médico Veterinário associando a terapia comportamental e medicamentosa.

* Fonte: Marcação Urinária em Gatos Domésticos (Felis silvestris catus Linnaeus, 1758) – Revisão de Literatura, de José Olimpio Tavares de Souza e João Alberto Boechat da Rocha (Médicos Veterinários, Mestres em Comportamento e Biologia Animal da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-MG) e Professores da Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC-JF), publicado na edição de janeiro de 2010 da Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária – ISSN: 1679 – 7353.

* Foto: Gatakristallin.blogspot.com.

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