JORNAL “O RISO”: MANIAS E COUSAS ENCRENCADAS EM 1915/1916

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DSC02086O jornal O Riso teve a sua primeira edição lançada em 10 de abril de 1915. Era de formato pequeno, com o lema Ridendo Castigat Mores¹. Em seu expediente não mencionava o proprietário, nem os redatores, sendo registrado “Sociedade Anonyma” e “Redactores Diversos”. Apenas a partir do n.º 22 é que vamos encontrar: Redatores – Juca & Cia. No entanto, parece-nos que o seu proprietário era Alfredo Borges e a sua redação se encontrava a cargo do farmacêutico Wagner Corrêa, de Formiga, aqui residindo. Era um órgão literário, crítico e noticioso. Dos pequenos jornais humorísticos e literários, foi um dos que teve mais longa duração.

Uma de suas características era publicar pequenas notas sarcásticas sobre pessoas, independentemente da posição social na cidade e região. Para tanto, tinha as colunas “Manias”, “Cousas Encrencadas” e “Indescrições”. Eis alguns exemplos:

– O sr. dr. João Borges querer fazer dentro da cidade uma colossal fazenda.
– A Meninada daqui pensar de ha muito (sem achar que a castigue) que parede caiada é quadro negro.
– O sr. dr. Adelio julgar que seus punhos estão sempre a cahir e andar ás pressas.
– O sr. Alfredo Borges estar de continuo a gritar que a “Papelaria S. José” recebeu novo sortimento.
– O coronel Arthur tocar píanola e estar sempre a dizer que as fitas de hoje são novas e bôas.
– O sr. Aristeu Borges acreditar piamente no que dizem os jornaes “comprados” e respeito da Guerra, trepando logo á serra quando ouve falar dos nobres feitos alemães.
– O sr. Paulino fazer da sala de Distribuição da Agencia do Correio d’esta cidade – o seu Dormitorio.
– O dr. Felippe gostar tanto de dançar, a ponto de querer exigir que as alumnas Anna da C. Lago e Maria da Conceição e Silva valsassem lá no Palco, na cançoneta – A Escola.
– Os srs. Aurelio C., Dino, Totó, Cornelio, Deiró e outros ficarem até alta noite ao lado da Igreja, apòs a conferencia, cortando casacas…
– O sr. Josetinho querer chegar a ser um valente Athlèta…
– O sr. capitão Americo Sant’Anna sahir de negocio em negocio, perguntando preços de artigos…
– O sr. Sinhosinho pretender ser um bom cavalleiro…
– O sr. Lindolpho contar as suas proezas namoristicas em Formiga e realçar o progresso dessa cidade…
– O prof. Leonides fiscalisar as obras do grupo-escolar…
– O dr. Fleury atacar constantemente o forte Magalhães.
– Os srs. Josetinho, José Olympio, Napinho e Elias Mantovani, ficarem num baile atè acabar, indo em seguida para outro, sem nenhum acanhamento.
– O ataque ao forte Aurelio Caixeta, feita pelos jovens Alberto e Alphêu Borges.
– O modo do Laurindo, Jorge e outros rapazes, tirarem dama para dançar: apresentam o braço, somente, não procurando saber se a senhorita está resolvida a fazer semelhante sacrificio.
– O sr. Josè Olivieri querer fazer fortuna, com um cavalo que não vale 50$000.
– O coronel Arthur querer arranjar cavalhada para Agosto proximo, a custa da Camara!… Muito bem, dr. Marcolino; o fiasco não seria pequeno. Continue a trabalhar contra, sim?!
– As pazes do Josè Olympio.
– A nossa Camara não conseguir que o sr. proprietario do Pasto da Olaria conclua o fechamento do patrimonio, collocando outra porteira na passagem da Biquinha.
– O sr. dr. João Nepomuceno, Juiz de Direito de Patrocinio, convidar o sr. dr. Albergaria para julgar là dois réos no dia 15 e encerrar a sessão nesse mesmo dia.
– O sr. José de Mello Filho, querer rifar duma só vez um – Negocio de Molhados. Será loteria? Que mania!…
– O Capitão João Gualberto chorar quando sua casa de enche de sapos;
– O Oscar Rodarte contar, com toda pauliticação, a todos com quem encontra, que fez um jogo muito grande na vespera;
– O Capitão Virgilio Cançado não ter preguiça de baralhar as cartas, principalmente quando està caipora;
– O Augusto Borges ficar todo zangado com o parceiro que lhe ganhou o jogo.
– O Tonico Borges trazer, sempre de memoria, uma novissima historia adequada a qualquer assumpto;
– O Dr. Lindolpho querer á viva força, que o povo de Patos fale menos que os formiguenses;
– O Snr. Paulino Pitanguy ainda persistir na ideia sinistra de assemelhar-se a uma sogra… d’aquellas ranzinzas;
– O Snr. Antenor Borges não se cançar de annunciar, aos quatro ventos, que possue uma novilhada, mas… que não é de negocio.
– O sr. Laurindo Borges dizer para arrufar as suas queridinhas que pretende se casar com uma moça que seja bonitinha e… milionária.
– O sr. Fortunato abandonar o officio de sapateiro para abraçar a advocacia.
– O sr. Alberto Caixêta carregar na algibeira uma colher, atè mesmo quando vae à Igreja, como podemos ver domingo passádo.
– O sr. Antenor Borges pedir semanalmente um casamento, tocar cithara e querer devolver O Riso (em itálico).
– O sr. Virgilio Borges fazer diariamente a barba.
– A nomeação prudente e criteriosa de professores para o nosso esperançoso Grupo Escolar.
– Os frequentes tiros, à noite, na rua da Barriguda.
– O sr. Pedro Thomaz querer dispensar as Retrètas no Jardim até o fim do anno.
– O sr. Aristeu trazer actualmente seu bonito cabello cortado à machina numero zero.
– O sr. Sizenando espancar com toda “elegampcia” o seu chronico par de alpercatas.

* Fonte: Seguintes edições do jornal O Riso, do arquivo do Laboratório de História do Unipam: 17/04/1915, 06/05/1915, 13/05/1915, 26/06/1915, 12/11/1915, 31/10/1916 e 10/11/1916.

* Foto: Primeira página da edição n.º 17 de 18 de novembro de 1916 do jornal O Riso.

* 1: Expressão latina que significa “a rir criticam-se os costumes”, é a frase que melhor resume a intenção e o estilo próprio de Gil Vicente, poeta e dramaturgo português do século 15.

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