ORDALINA VIEIRA CAIXETA

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ATodo o desenrolar de minha história de vida teve sua origem nas aulas de Dona Ordalina Vieira Caixeta, minha primeira professora de francês, na Escola Normal Oficial de Patos de Minas. Aos onze anos, comecei a aprender essa nova língua, e, juntamente com ela, passei a captar toda a cultura subjacente. Dona Ordalina era uma charmosa balzaquiana, de olhar esperto e sorriso aberto. Comunicativa, alegre, simpática, divertida, carismática, evoluída, enfim, uma mulher além de seu tempo. Seus métodos se contrastavam com a rigidez e a temperança dos professores de então. Suas aulas eram verdadeiras incursões pela França. Visitávamos o museu do Louvre, o palácio de Versailles e os Castelos da Loire; passeávamos pelos vilarejos medievais, pelos grandes boulevards parisienses; navegávamos de bateau-mouche pelo rio Sena; apreciávamos os monumentos que o bordejam; subíamos ao topo da torre Eiffel; descíamos até as galerias subterrâneas; freqüentávamos a ópera Garnier; degustávamos pratos típicos em adegas medievais…

Eu, que nunca havia viajado, ficava deslumbrada diante de tantas descobertas. Ouvia boquiaberta seus relatos de experiências vividas na França: namoros, estudos, alegrias e tristezas. Além disso, aprendia muitas canções infantis e folclóricas. Nessas aulas brotou em mim a paixão pela França, que se tornou, naquela época, o país de meus sonhos, e, mais tarde, veio a ser, de certo modo, minha segunda pátria.

Lembro-me ainda de dona Ordalina na sala de aula, com seus vestidos esvoaçantes; saias rodadas, presas à cintura de pilão, farfalhavam sobre anáguas engomadas. Desfilava elegantemente de um lado para o outro, de salto alto e meias finas, como se estivesse na Avenida Champs Elysées. Para meus olhinhos infantis, era mais que professora; era uma fada.

Ela adotava intuitivamente o lema “enseñar deleitando”, no qual se mesclavam didática, ludismo e arte. Na década de 60, as grandes festas anuais da Escola Normal aconteciam no cine Riviera ou no auditório da Rádio Clube de Patos. Para esses eventos, Dona Ordalina encenava criativos sketches, em francês. Para melhorar nossa performance no palco, ela nos ministrava ensinamentos sobrea história a ser encenada e sobre a vida dos personagens que iríamos representar.

Além de transmitir conhecimentos e de propiciar momentos de fruição estética, as várias linguagens trabalhadas (verbal, gestual, musical e coreográfica) integravam-se numa pluralização sígnica que ultrapassava os limites da sala de aula e proporcionava em cada aluno, uma viagem singular.

NOTA – Ordalina Vieira Caixeta faleceu em 03/01/1984.

* Fonte: Texto de Jô Drumond (Josina Nunes Drumond Caixeta, escritora patense radicada em Vitória-ES) publicado com o título “Ordalina Vieira Caixeta” e subtítulo “A mestre que virou mito” na edição de 27 de dezembro de 2014 do jornal Folha Patense.

* Foto: Arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

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