Foi em 29 de maio de 1935, aqui mesmo em Patos de Minas, que nasceu Maria Margarida Borges de Queiroz, filha de José Ventura Malheiro Cardoso da Silveira, de nacionalidade portuguesa, já falecido, e Maria Pepitinha Borges Malheiro, também falecida. Seu aprendizado escolar foi iniciado na escola particular da saudosa e sempre lembrada professora Madalena Maria de Melo, prosseguindo no Colégio Imaculada Conceição, em Belo Horizonte, até o 2.º ano ginasial. Voltando para Patos de Minas, continuou os estudos no Colégio Nossa Senhora das Graças, até formar-se como normalista.
Buscando mais saber e conhecimentos, Margarida Malheiro cursou o pré-vestibular do Colégio Champagnat, em Belo Horizonte, participando depois do concurso vestibular para ingresso na Escola de Belas Artes Professor Aníbal de Matos, também na capital mineira, tendo sido aprovada em primeiro lugar. Infelizmente, porém, motivos de ordem financeira impediram-na de frequentar a escola para a qual havia conquistado uma vaga com tanto brilhantismo.
Em 1958 fez um Curso de Adaptação para Economia Doméstica, em Belo Horizonte, que lhe garantiu o direito de lecionar para alunos do 2.º grau. Mais adiante, sua sede de aprendizado tornou-se aluna de Anita Noronha, em Patos de Minas, onde completou o curso de alta costura.
Casada com Olympio Borges de Queiroz, Margarida tornou-se mãe de sete filhos, Marcelo, Luciana, Flávia, José Malheiro, Gabriela, Stela e Gorete, que por sua vez a tornaram vovó de Olívia, Franco, Luísa e Luciano. São muitas as recordações da infância, e elas vêm aos poucos, reminiscências que retornam lentamente à lembrança como pérolas de um colar maravilhoso que representa sua vida: “Sempre gostei de fazer roupinhas de boneca. Fiz meu uniforme da escola de dona Madalena quando tinha 9 anos. Tia Duca me ensinava a arte de costurar, preguear as saias e colocar o cós. Brinquei muito e costurei muito. Nas férias, sempre íamos para a fazenda dos Néias (município de Patos), de meu tio Altino Fernandes Caixeta. Na máquina da madrinha Maria José, eu consertava as roupas dos empregados da fazenda. Pratiquei muito a costura, fazendo vestidos para os eleitores de meu padrinho Altino. O povo vinha casar na cidade, e aí eu ficava ajudando Maria Isa (Maria Luisa Barbosa) arrumar as noivas, os buquês, as grinaldas. Bordei a vida inteira. Fiz de tudo: estudei um pouco de piano, joguei vôlei, confeitei bolos, fiz tricô (com Ester Amorim), pintura (com Terezinha Couto), organizava blocos de carnaval, criando os modelos e letras para as músicas. Bordava à mão e também na máquina. Os bordados, dos mais variados, em ponto de cruz, ponto cheio, matiz… Ampliava riscos para desenhistas de Belo Horizonte. Nos bordados, eram utilizadas grande variedade de linhas, como a ráfia, sutaches, linha Varicor, Cairel, cordoné, Ilha da Madeira, aplicações em tecidos, etc.”
Usando sua criatividade, Margarida usa fibras de aniagem, ou plástico, cordas de sisal e couro. Quanto a tricô e crochê, diz ela: “Crio meus trabalhos em crochê e crivo. Sempre criei e gosto de criar novos modelos. Tiro qualquer amostra. Deus me deu esses dons. Já fiz de um tacho de sabão preto até um vestido de rainha”.
Em 1959 confeccionou o carro alegórico para a candidata Marta Caixeta, sua prima: “Criei o vestido típico e o traje toilete. O carro alegórico era preto, com milho em espiga e grãos. Representava o milho e sua riqueza. A candidata era vestida em forma de uma espiga (pintura feita à mão). Até a eleição de Sandra Borges, eu confeccionei as faixas para as rainhas e princesas, bordadas à mão. Fiz também vários vestidos para as candidatas, e muitas se elegeram como Rainhas do Milho. Entre elas, Milene Vaz, Guiomar Nunes, Caroline Caixeta. Também criei inúmeros desenhos para as candidatas. Enquanto existia o Paiolão, trabalhei junto com Salvador Beluco nas decorações do Parque de Exposições, procurando usar sempre o que havia de mais original naquele imenso rancho rústico, mas palco de grandes realizações. Apesar da tecnologia avançada da época, não podemos nos esquecer de ocupar as mãos com um trabalho artístico. O computador por mais avançado que seja, não é capaz de tirar o indivíduo da depressão. O que as mãos fazem, a vitória é sua. Eu não guardei nada para mim. Ensinei meu trabalho para muitas pessoas e sou feliz por isso. Hoje elas já são conhecidas por todos, bordam à mão e na máquina”.
Além de todos os dons maravilhosos citados acima, Margarida Malheiro dedica ainda parte de seu tempo para confecção de bolos de noivas, aniversários de 15 anos e de crianças, com temas da época. Polivalente e dona de uma grande sensibilidade artística, dotes herdados da saudosa mãe Pepitinha e da alma nobre da madrinha Maria José, Margarida está sempre praticando as habilidades de que é possuidora, ora bordando, ora costurando, tricotando ou então fazendo coisas gostosas como doces caseiros e biscoitos finos.
* Fonte: Texto de Marialda Coury publicado na edição n.º 11 do jornal O Tablóide de 1.º de outubro de 1996, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.